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A 1 mês da eleição, que assunto mais interessa ao bolso e será decisivo?

Alta dos preços passa de 10% nos últimos 12 meses e deve ter mais poder de influência sobre o voto dos eleitores em outubro - Renan Rodrigues/A7 Press/Estadão Conteúdo
Alta dos preços passa de 10% nos últimos 12 meses e deve ter mais poder de influência sobre o voto dos eleitores em outubro Imagem: Renan Rodrigues/A7 Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

02/09/2022 04h00

Falta um mês para a eleição presidencial. Que temas econômicos deveriam ser discutidos nesta reta final? Programas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, tem sido o foco das conversas dos candidatos. Mas é a inflação que deve ter mais influência sobre o voto dos eleitores em outubro, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Isso deve acontecer mesmo com a redução na alta dos preços, porque a inflação ainda passa de 10% nos últimos 12 meses.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), de fato, tem crescido entre os beneficiários do Auxílio Brasil nos últimos meses. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em 19 de agosto, Bolsonaro alcança 28% das intenções de voto nesse público. No final de maio, tinha 20%. O problema é que seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda tem a preferência dessa população, chegando a 56% dos votos em agosto (ante 59% em maio).

Por que a inflação tem esse peso eleitoral? Segundo economistas, o efeito do novo auxílio no voto é limitado pela inflação alta, que corrói o poder de compra das pessoas. Na prática, os vulneráveis ainda sentem que as condições de vida pioraram, mesmo que agora recebam um benefício maior, e isso pesa mais na escolha por um candidato.

"Não há dúvida de que o custo de vida é o que está batendo no bolso das pessoas. Continuo achando que é a economia que vai resolver as eleições. Por mais que a pauta de valores influencie outros setores da sociedade, principalmente os eleitores mais religiosos, a economia é central", avalia Fábio Scatolim, professor do Departamento de Economia da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

No momento, [o auxílio de R$ 600] ajuda o presidente de plantão, mas não acredito que será suficiente para reverter o resultado da economia e angariar muitos votos. As pessoas sabem que isso tem prazo de validade e que não é sustentável a médio e longo prazo.
Fábio Scatolim, da UFPR

Os candidatos apresentam boas propostas para a economia? Francisco Eduardo Pires de Souza, do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), critica o que chama de "voluntarismo" nas campanhas eleitorais. A maior parte dos candidatos —e dos especialistas— concorda que é preciso manter uma assistência aos mais vulneráveis, mas ninguém explica como financiar o Auxílio Brasil ou qualquer outro programa que venha a substituí-lo.

Ele diz que é necessário haver políticas viáveis, mas os candidatos estão dizendo que vão explicar depois como bancar suas propostas. "Tem que ser antes. O eleitor tem que votar em função do que ele está ouvindo", diz o professor, que também foi assessor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Por que os planos de governo são genéricos? Para Juliana Damasceno, economista sênior da Tendências Consultoria, a superficialidade é uma estratégia adotada por todos os candidatos para não perder votos e evitar cobranças no futuro em caso de descumprimento das promessas.

"Há promessas para manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, por exemplo, mas não tem nenhum sinal de que vai haver cortes em outro lado para financiar isso. Evita-se falar disso neste momento para não perder votos.

Que pontos deveriam ser abordados na campanha? Tanto Fábio Scatolim, da UFPR, como Francisco Eduardo Pires de Souza, da UFRJ, dizem acreditar que o foco das campanhas deveria estar na retomada do desenvolvimento econômico do Brasil. Para os especialistas, a questão está esquecida, mas é "mãe de todas as outras", e é o que vai viabilizar a solução dos outros problemas, como pobreza e desemprego.

"Mas não basta fazer declarações vazias de conteúdo. Para um país crescer muito e de forma sustentada, temos que aumentar o investimento e a produtividade, e isso também deveria ser tema das campanhas", diz Souza.

Teto de gastos aparece pouco: Os especialistas ainda citaram a rediscussão da regra do teto de gastos como um assunto que pouco aparece nas campanhas na TV ou nas redes sociais, mas que será "inevitável" em 2023, seja quem for o presidente.

O teto determina quanto o governo pode gastar num ano. "É fundamental o equilíbrio fiscal, mas temos que desenhar um novo modelo", diz Scatolim.