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Brasileiro compra menos frango e mais hambúrguer congelado para economizar

Luany precisou readequar as compras no mercado por causa dos preços altos - Acervo pessoal
Luany precisou readequar as compras no mercado por causa dos preços altos Imagem: Acervo pessoal

Do UOL, em São Paulo

26/09/2022 04h00

A dona de casa Luany Porto Maranhão, 41, está sentindo na pele o aumento dos preços e está trocando itens no mercado para conseguir comprar a alimentação para sua família. Deixou de comprar carne para fazer hambúrguer caseiro e agora só compra hambúrgueres congelados, e também diminuiu muito o consumo de frango. Quando compra a proteína, é o frango inteiro, porque é mais barato e rende mais.

No almoço, tenta comer de forma mais saudável e, no jantar, tem de comer lanches. Luany faz parte da estatística. Uma pesquisa da Kantar diz que o número de vezes que os brasileiros consomem frango no almoço e no jantar caiu 11% nos últimos 12 meses acumulados até junho deste ano em comparação com o mesmo período um ano antes. Segundo o levantamento, a comprar de frango deu lugar a ultraprocessados, como os hambúrgueres e salsichas.

Enquanto houve queda no consumo de frango, subiu o consumo de linguiça (21%), hambúrguer (23%) e salsicha (27%).

"Eu costumava fazer hambúrguer caseiro, mas o quilo do patinho está muito caro, então não faço mais. Passei a comprar o pacote congelado", afirma Luany.

Em 2018, Luany fez uma cirurgia bariátrica e precisou mudar os hábitos alimentares. Desde então, prefere sempre fazer os preparos em casa, mas neste ano precisou voltar aos alimentos ultraprocessados para colocar comida na mesa.

"Antes eu comprava filé de frango. Agora, quando compro, é só o frango inteiro, porque sai mais barato e invento outras receitas para usar todas as partes", afirma Luany.

Nos últimos 12 meses, o frango inteiro ficou 12,65% mais caro. O frango em pedaços aumentou 17,91%, de acordo com os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto.

Estudante só come ultraprocessados para economizar

O estudante Dannihyure Souza, 20, afirma que não consegue mais comprar carne bovina nem frango no mercado. Quando come frango, é na forma de steaks de frango empanados, que são mais baratos. Também come salsicha no dia a dia.

"Não posso dizer que eu coma bem. Como esses ultraprocessados, como steak de frango, que não faz bem para a saúde. Parei de comprar legumes e verduras. Preciso de alimentos que durem o mês, senão eu vou gastar demais e vai durar pouco. Posso gastar no máximo R$ 150, R$ 200 por mês com alimentação", afirma Souza.

Hoje ele mora em uma quitinete em Campo Grande (MS), com o aluguel pago pelos pais. Como é estudante de ciências biológicas, não consegue um trabalho fixo por causa da carga horária da faculdade. Faz bicos para ganhar algum dinheiro e, quando a situação fica mais difícil, precisa da ajuda de amigos para comer.

"Às vezes meus amigos me ajudam, me dão uma marmita ou alguém me chama para almoçar em casa. O refeitório da faculdade também ajuda, porque como sou do grupo de baixa renda consigo comer por R$ 3", afirma Souza.

O que está acontecendo com a alimentação do brasileiro? Bruno Machado, diretor de Contas da Kantar, afirma que as famílias têm mudado o padrão de compras por causa dos preços.

Machado diz que os brasileiros estão indo mais vezes fazer compras em busca de melhores preços.

Na hora de comprar proteínas, Machado diz que primeiro o brasileiro migrou da carne bovina para o frango. Com o avanço da inflação, o brasileiro precisou começar a trocar o frango também, dando mais espaço aos alimentos ultraprocessados, como hambúrguer, linguiça e salsicha.

Machado diz que a chegada do final do ano tende a intensificar o consumo, já que o brasileiro recebe mais dinheiro, como 13º salário e até mesmo com os benefícios sociais. Mas a dúvida que fica é se o brasileiro vai conseguir comprar mais ou se vai continuar difícil, mesmo com mais dinheiro no bolso.

Crise global piora situação: Machado diz que houve um momento parecido na crise de 2014 e 2015, mas que a diferença é que o contexto de hoje é diferente e mais desafiador, com pós-pandemia, guerra entre Rússia e Ucrânia e crise de abastecimento mundial, o que pressiona os custos em todo mundo.