Como fica a inflação no governo Lula? Preços vão subir?
Um dos desafios econômicos do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vai ser controlar a inflação brasileira. Nos últimos 12 meses encerrados em setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, acumulava alta de 7,17%.
Como fica a inflação neste ano? O boletim Focus, que mostra a expectativa do mercado para alguns indicadores econômicos, projeta que a inflação deste ano deve fechar 2022 em 5,61%, acima da meta prevista para o ano, que era de 3,5%.
Matheus Peçanha, pesquisador e economista do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirma que a inflação deve diminuir para produtos industrializados (alimentos, roupas e combustíveis, por exemplo). No curtíssimo prazo, Peçanha diz que é possível que haja uma alta para alimentos in natura, por causa dos bloqueios feitos por caminhoneiros que defendem um golpe após a vitória de Lula —mas esse efeito não deve durar muito tempo.
Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, afirma que a inflação deve diminuir até o final do ano puxada pela redução dos impostos de energia elétrica, combustíveis e telecomunicações. Apesar da queda do índice geral, a inflação deve encerrar o ano em dois dígitos para vestuário, serviços e alimentação, por exemplo.
As perspectivas apontam para uma inflação global em alta, com desaceleração na China e possível recessão na Europa e nos Estados Unidos. Para os especialistas ouvidos pelo UOL, a inflação deve desacelerar no Brasil no próximo ano.
Qual será a inflação em 2023? Ribeiro afirma que a consultoria considera que o governo de Lula aumentará os gastos públicos, com uma nova regra para o teto de despesas. No entanto, considera que o governo deve manter uma política sustentável, sem descontrole —até pelo perfil de aliados de Lula durante a campanha eleitoral.
Nesse cenário, a projeção é de que a inflação chegue a 5% em 2023. A meta para o ano que vem é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Se a inflação ficar entre 1,75% e 4,75%, significa que está dentro da meta proposta pelo BC.
Apesar de dificilmente atender ao valor da meta no ano que vem, a expectativa é de que em 2024 e 2025 a inflação fique próxima da meta, que é de 3% para os dois anos.
Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, afirma que a inflação deve desacelerar, mas o que não se sabe é o ritmo em que isso vai acontecer.
Preço da gasolina no ano que vem: A isenção do ICMS proposta pelo governo de Jair Bolsonaro dura até dia 31 de dezembro deste ano, caso não seja prorrogada.
Isso ajudou a derrubar o preço do combustível neste ano, mas, em 2023, a tendência é que o preço volte a aumentar com a cobrança do imposto. No entanto, o aumento deve ser pontual, e depois se estabilizar, de acordo com os especialistas.
Outro ponto que pode impactar o preço dos combustíveis é uma possível mudança na política de preços da Petrobras, tema falado em campanha por Lula.
Peçanha diz que, caso haja uma mudança na política de preços, é possível que os combustíveis fiquem mais baratos. A ideia do novo governo é fazer com que os preços deixem de ser atrelados às variações do petróleo no mercado internacional e à cotação do dólar, como é hoje.
Se mantiver a paridade de preços internacionais, a tendência é que o valor se mantenha. Mesmo com a guerra da Ucrânia, a recessão na China derrubou a demanda por petróleo, e isso reduziu o preço.
Matheus Peçanha, pesquisador e economista do FGV Ibre
Preços dos alimentos: A professora do Insper Juliana Inhasz diz que, caso o preço dos combustíveis fique controlado no ano que vem, a tendência é que o preço dos alimentos fique estável.
Com o mundo em crise, a desaceleração da economia pode ser, em alguma medida, positiva para o Brasil. Inhasz diz que a demanda por produtos brasileiros, especialmente commodities, pode cair, o que pode ajudar a manter os preços internos em níveis melhores, principalmente porque o Brasil exporta commodities, como milho e soja.
No entanto, a queda das exportações é um problema e traz menos dinheiro ao país. Também outros itens da cadeia de produção podem ter os preços impactados, aumentando a inflação dos alimentos.
Peçanha diz que nos últimos três anos o país sentiu um maior aumento nos preços dos alimentos por problemas climáticos e por questões relativas à pandemia. A expectativa é de que o preço dos alimentos volte a oscilar de acordo com a sazonalidade de cada alimento.
Ainda há dúvidas sobre o governo: Durante a campanha, Lula foi questionado sobre suas diretrizes econômicas. Três dias antes da eleição, ele soltou uma carta ao mercado, prometendo responsabilidade fiscal caso fosse eleito.
A grande questão é que Lula não deixou claro como será a política econômica de seu governo. As novidades sobre a equipe econômica são aguardadas pelo mercado, até para fazer novas projeções.
Definição da equipe econômica: Os especialistas ouvidos pelo UOL dizem que é difícil saber qual será a política fiscal adotada durante o governo Lula e que a divulgação dos nomes que vão ocupar cargos dentro da Economia é essencial para que o mercado consiga ter uma visão mais clara, diz Juliana Inhasz.
Autonomia do BC é fundamental: Peçanha afirma que a autonomia do BC deve continuar no governo de Lula, o que é positivo para manter uma política monetária de controle da inflação que seja independente do governo.
O que se espera é que não mude nada em relação à autonomia do BC. Assim, a busca por uma inflação na meta, tomando uma política monetária independente, deve continuar.
Matheus Peçanha, pesquisador e economista do FGV IBRE
Política social pode dificultar controle de inflação: Os especialistas dizem que, se houver um descontrole fiscal, a inflação pode ser diretamente afetada. Para Pacheco, mesmo com a postura do BC (Banco Central) de aumento da taxa básica de juros para controlar a inflação, se o governo aumentar o valor do auxílio e os gastos públicos, isso pode aumentar a inflação no longo prazo.
O BC promoveu uma série de aumentos da Selic, que agora está estabilizada em 13,75% ao ano. O valor foi mantido nas duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária).
Os especialistas também apontam os precatórios e o reajuste salarial para servidores públicos como temas que precisam estar no radar de Lula e que podem influenciar na inflação do país.
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