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Quem ia a Miami aprendeu a viajar pelo Brasil, diz CEO da Atlantica

Eduardo Giestas, presidente da Atlantica Hospitality International - Carine Wallauer e Editoria de Arte/UOL
Eduardo Giestas, presidente da Atlantica Hospitality International
Imagem: Carine Wallauer e Editoria de Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

21/11/2022 14h40

Eduardo Giestas, presidente da Atlantica Hospitality International, grupo hoteleiro que opera marcas como Choice, Hilton, Radisson e Wyndham no Brasil, diz em entrevista na série UOL Líderes, que os brasileiros aprenderam a gostar de viajar pelo Brasil.

Segundo o executivo, turistas que antes buscavam destinos no exterior, como Miami, Nova York ou Paris, agora têm buscado destinos nacionais. A mudança é efeito do câmbio e da pandemia da covid-19. "Vimos o turismo de lazer no Brasil se desenvolver muito rapidamente na pandemia e é um legado que fica", diz.

O executivo também fala dos investimentos da empresa em resorts próximos a grandes centros urbanos, como opção de lazer com praticidade, e na administração de empreendimentos residenciais. Esse último é um modelo híbrido entre hotelaria e aluguel de residência de curta temporada, que compete com o Airbnb.

O executivo comenta ainda as propostas de reforma tributária em discussão no Congresso, que podem afetar o setor de hotelaria, e fala sobre o papel do setor na criação de empregos. "Gostaria de ver o turismo quase como uma política de Estado", diz.

Ouça a íntegra da entrevista com Eduardo Giestas, presidente da Atlantica, no podcast UOL Líderes. Você também pode assistir à entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube.

Leia a seguir trechos da entrevista:

UOL Líderes - O setor de hotelaria sofreu muito com a pandemia. Como está a situação hoje?

Eduardo Giestas - Foram dois anos de pandemia que impactaram muito o setor, em 2020 e 2021, o ano de 2022 está caracterizado pela consolidação da retomada, esperávamos já fechar o ano nos mesmos patamares do que foi a pré-pandemia, e para a nossa surpresa vamos fechar o ano com crescimento, relativo a 2019, da ordem de 48%. Esperamos fechar o ano com faturamento entre R$ 1,75 bilhão e R$ 1,8 bilhão.

O comportamento do consumidor mudou depois da pandemia?

Do ponto de vista comercial, o que vimos, que é muito positivo, é que o brasileiro aprendeu a gostar de viajar internamente, ele adotou o Brasil como um destino de viagem interessante, não só pela pandemia, também pela desvalorização do real. Vimos o turismo de lazer no Brasil se desenvolver muito rapidamente na pandemia e é um legado que fica. Estamos vendo perspectivas de desenvolvimento de novos empreendimentos com perfil de lazer e em destinos de lazer como nunca tínhamos visto antes.

E vocês estão investindo nisso?

Estamos investindo. Originalmente sempre fomos uma empresa vocacionada para a hotelaria de negócio. Hoje em nosso portfólio de 170 hotéis já temos mais de 20 que são hotéis com perfil de lazer em destinos de lazer. Nesse ano estamos fechando mais uns oito contratos com esse perfil. Também temos uma modalidade interessante que são resorts urbanos, hotéis que têm uma infraestrutura de resort e estão no entorno de grandes cidades, para os moradores dessas grandes cidades poderem ter um fim de semana afastado do grande centro. Hoje já temos 25 hotéis com esse perfil e devemos fechar o ano com mais de 12 contratos já assinados para desenvolvimentos futuros.

Esse turista que hoje está procurando destinos no Brasil para onde ia antes?

O turista brasileiro sempre buscou destinos como os parques temáticos dos Estados Unidos, algumas cidades europeias, Miami, Nova York, Buenos Aires, Paris.

Como é a Atlantica

Funcionários diretos

5.500

Clientes por mês

Média de 250 mil hospedagens por mês, em 2022, em toda a rede

Países onde atua

Brasil

Fatia de mercado

A Atlantica tem 16% do mercado de hotéis com bandeira, segundo relatório "Hotelaria em Números - Brasil 2022" da JLL. A primeira administradora de hotéis embandeirados do ranking, segundo a publicação, é a Accor com 25%.

Principais concorrentes

Accor

Ano de fundação

1999

Vocês também trabalham com administração residencial. Como funciona?

Esse é um negócio bastante disruptivo para a gente, é uma tendência que já se vê em outros mercados mais evoluídos há algum tempo. Basicamente são residenciais com serviços, um híbrido entre hotelaria e o aluguel de residência de curta temporada. São estúdios padronizados, com cara de um apartamento, têm o padrão de hotelaria e são comercializados pela nossa plataforma. O hóspede opta em ter uma experiência de hospedagem no estúdio com uma jornada toda digitalizada. Ele escolhe os serviços que quer ter sob demanda, por meio de um aplicativo. Estamos olhando isso como uma grande avenida de crescimento para o futuro.

É algo parecido com Airbnb?

É um produto que compete com Airbnb. A diferença é que o Airbnb é uma plataforma que une o viajante com o proprietário de um imóvel que tem ociosidade. Nós fizemos um trabalho um pouco mais completo, oferecemos para os donos do estúdio a gestão inteira daquele empreendimento, desde a montagem do estúdio, manutenção, toda a limpeza, cuidamos da precificação. E para o hóspede é uma experiência com muita segurança de padrão de qualidade, ele sabe o que vai encontrar. É um híbrido entre o Airbnb e a hotelaria tradicional.

Pode nos indicar três propostas para o Brasil melhorar?

Espero muito do novo governo que trabalhe sempre no fortalecimento das instituições democráticas, porque o Brasil é um país que tem segurança geopolítica, diferente de outros grandes mercados emergentes, e tem uma democracia sólida, e essas duas coisas combinadas atraem capital internacional. Isso tem que ser protegido e desenvolvido. Outra questão importante é termos um foco muito grande com relação à responsabilidade fiscal. Estamos entrando em uma fase difícil de inflação e baixo crescimento, então é importante termos a preocupação com a questão fiscal do país. E por último penso que é preciso dar continuidade à pauta de reformas estruturantes. Tivemos movimentos importantes de reforma da previdência, reforma trabalhista, que elas sejam protegidas e que tenham evoluções. Precisamos ainda endereçar a reforma tributária, que é importante para o país atrair capital e desenvolver as cadeias de produção.

Você citou a reforma tributária. Dentro das propostas que existem hoje, o setor de serviços seria mais tributado do que ele é hoje, a indústria um pouco menos. Isso afetaria o setor hoteleiro. Como você vê isso? É um sacrifício necessário?

Eu pessoalmente vejo a necessidade da reforma tributária para endereçar três pontos: simplificar o sistema, porque é ineficiente e espanta muito investimento; temos um sistema injusto, que tem que ser, de fato, progressivo e tributar quem tem mais potencial de pagamento; e é um sistema hoje que também precisa estimular mais a evolução das cadeias de produção. Eu entendo que deva haver uma adequação do tributo para o setor de produção industrial, mas o setor de serviços não pode ser o que pague essa compensação. A cadeia de serviços hoje é mais de 70% da economia brasileira. O importante é que discussão está aberta e será um processo negocial.

Em muitos lugares do Brasil, o turista chega em um hotel super equipado, e quando atravessa a rua se depara com uma desigualdade gritante. Como lidar com essa situação?

Tem várias maneiras de se encarar isso. Eu tive a oportunidade de trabalhar por um tempo com a Previ no Complexo da Costa do Sauípe. Esse empreendimento foi construído no litoral norte da Bahia, em uma região de muita pobreza. Ele virou um grande empregador da região, gerou emprego, dignidade e desenvolvimento para muitas pessoas da região. A hotelaria é um setor que tem um impacto social muito grande, porque ele é um grande distribuidor de renda. Ele não é uma indústria intensiva de capital que gera valor com base em investimentos em ativos fixos, o valor dele está exatamente na empregabilidade das pessoas. Eu gostaria de ver o turismo quase que como uma política de Estado nesse país, porque é algo que promove desenvolvimento, gera PIB e é extremamente inclusivo, distribui renda, contrata e desenvolve a base da pirâmide social.

Quem é Eduardo Giestas

Nome completo

Eduardo Moreira Giestas

Cargo atual

CEO da Atlantica

Primeiro emprego

Trainee na Nestlé Beverage em São Francisco

Cargos de destaque na carreira

Principal da A.T.Kearney
COO da Claro
CEO e Board Member de Sauipe S.A.
CEO da Anhembi Morumbi/FMU - Laureate

Cidades em que morou

Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Eastbourne (Inglaterra), Washington D.C. e São Francisco / California

Graduação e pós-graduação

Administração de Empresas pela George Washington University em D.C.

Família

Casado, 3 filhos

Hobbies

Surfar, correr, cozinhar, ler, viajar

Livro

"Memórias da Segunda Guerra Mundial", de Winston Churchill - "A narrativa de quem viveu o evento mais marcante do século 20 com papel e protagonismo único. Liderança com propósito de defender a liberdade e a democracia tendo que enfrentar adversidades políticas e econômicas internas, a guerra em si, e ainda convencer e montar uma frente ampla de defesa com duas nações/líderes bem distintas: uma que ele admirava e outra que ele desconfiava profundamente. Importante frisar que além de um grande político, Churchill foi um ótimo escritor".

Filme

"Pink Floyd - The Wall", do diretor Alan Parker - "Combinação de música, imagem e animação e roteiro. Assisti a primeira vez em 82, quando perdi meu pai aos 14 anos. A construção e desconstrução do personagem a partir da perda do pai e das consequências do sucesso dentro do contexto da guerra, da contestação do sistema de educação inglês e do mundo do rock me fascinaram. Desde então faz parte de minha memória afetiva."

Time de futebol

Corinthians