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'Fui dispensada como PJ, mas consegui emprego CLT em menos de 15 dias'

Mariana Anastácio perdeu emprego, mas logo conseguiu se recolocar no mercado - Arquivo pessoal
Mariana Anastácio perdeu emprego, mas logo conseguiu se recolocar no mercado Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

01/12/2022 09h21Atualizada em 01/12/2022 11h50

A analista de redes sociais Mariana Anastácio, 30, foi demitida de um emprego sem carteira assinada no começo de outubro, e seu maior medo era ficar desempregada por muito tempo. Quinze dias depois ela já estava novamente contratada e com um emprego melhor, com carteira assinada.

Os empresários Márcio Brasil e Fernando Canizares, do setor de restaurantes, voltaram a contratar neste ano, com a reabertura dos serviços e a retomada da economia.

Eles são exemplos de brasileiros que perceberam uma melhora da atividade econômica do país em 2022. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 0,4% no terceiro trimestre, atingindo o maior patamar da série histórica, iniciada em 1996, de acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A economia cresceu no período e o número de vagas disponíveis no mercado de trabalho aumentou. Apesar disso, os salários ainda não atingiram o melhor patamar de 2021, quando o salário era de R$ 2.877. Em outubro, o rendimento médio mensal subiu 2,9%, e chegou a R$ 2.754, segundo o IBGE.

Correndo atrás de um lugar melhor: Assim que começou a cumprir aviso prévio, Mariana começou a pesquisar a situação do mercado de trabalho em São Paulo, onde vive. Sem nada a temer, ela entrou em contato com o RH de uma empresa onde havia feito uma entrevista há mais de dois anos. Em cerca de uma semana, ela já havia recebido a resposta positiva para trabalhar em uma nova função: analista de marketing de influência, responsável por intermediar o contato entre clientes e influenciadores digitais.

"Eu fui 'cara-de-pau', corri atrás para dizer que estava disponível. Em menos de uma semana eu já soube quando ia começar a trabalhar. É um caso raro, sei que meu caso é um em 1 milhão", afirma a profissional.

Salário menor, mas com maior segurança: Mariana iniciou a empreitada com vantagens em relação ao último trabalho. Ela voltou a ter a carteira de trabalho assinada, recebe benefícios que não tinha como PJ (Pessoa Jurídica), como vale-refeição, plano de saúde e plano odontológico.

O salário diminuiu cerca de 10%, mas ao menos ela não precisará mais tirar R$ 660 para pagar a mensalidade do plano de saúde. "Eu preciso de uma segurança financeira maior porque quero ser mãe no ano que vem", afirma Mariana, que já tem esse plano bem alinhado com seu marido.

Após chegar aos 30 anos, o único lamento de Mariana é não ter iniciado os estudos de pós-graduação antes. Ela começou a pós em Gestão de Projetos e o MBA em Comunicação em Marketing em agosto deste ano em uma instituição privada que não era a dos seus sonhos, mas é a que o dinheiro permite, conta.

'Recebi uma oferta melhor e de trabalho 100% remoto'

Andressa Santos, 27, estava insatisfeita com o emprego de redatora em uma agência de publicidade. Depois de algumas semanas de indecisão, um amigo contou a ela sobre a abertura de uma vaga em outra empresa. O diferencial: trabalho 100% remoto.

Ela trabalhava em Piracicaba, no interior de São Paulo, e precisava se deslocar ao escritório três vezes por semana. A possibilidade de trabalhar dentro de casa em uma empresa maior na cidade vizinha de Americana a atraiu de imediato.

O que mudou na renda? A troca de empregos foi rápida. Agora, Andressa atua como analista de marketing em uma empresa de tecnologia. O salário subiu e hoje ela recebe cerca de dois salários mínimos (R$ 2.424) e benefícios que até então eram novidades, como vale-refeição e alimentação e auxílio home office, uma ajuda de custo mensal para pagar as despesas de luz e internet.

"A minha vida mudou para melhor. Eu pude passar o aniversário da minha mãe com ela porque eu passei o dia trabalhando de casa", declara Andressa.

Sonho da casa própria ainda distante. Para 2023, a analista ainda terá uma pedra no sapato chamada aluguel. Ela vai trocar um apartamento por uma casa com três amigos em Piracicaba, mas o gasto será o mesmo, de R$ 800 por mês. Seu maior objetivo, que no momento é inalcançável, é ter um imóvel próprio.

Ela até poderia construir uma casa em Chapada Diamantina (BA), onde sua família tem um terreno, mas a dificuldade de acessar a internet praticamente enterra sua vontade de construir sua vida fora de São Paulo.

"Se eu conseguisse trabalhar na Chapada e receber o salário de São Paulo seria muito melhor", diz ela.

'Demiti 60 na pandemia, agora tenho 30 vagas abertas'

Marcio Brasil, dono de restaurante - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Marcio Brasil tem sete restaurantes
Imagem: Acervo pessoal

Os dados mostram que o país continua gerando vagas de emprego. O Brasil criou 159.454 vagas de trabalho com carteira assinada no mês de outubro, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência. O setor de serviços foi o que mais contratou no período, com criação de 91.294 vagas de trabalho.

O empresário Márcio Brasil, 46, é dono dos restaurantes Zapata Mexican Bar e Essen Biergarte, e afirma que a pandemia penalizou muito seus negócios —ele só não faliu graças a medidas como o financiamento da folha de pagamento, a redução da carga horário dos funcionários e até a demissão de funcionários.

Chegou a demitir mais da metade na pandemia: Márcio Brasil diz que precisou demitir cerca de 60 funcionários durante a pandemia. dos 100 que empregava. Neste ano, voltou a contratar, retomou o número de 100 colaboradores e está com 30 vagas abertas no momento.

"Tínhamos pessoas com mais de 15 anos de casa, com salários maiores. As demissões foram importantes para manter a empresa aberta. Se segurássemos as pessoas teríamos um custo que não íamos aguentar", afirma Brasil.

Agora, dificuldade é preencher vagas. O empresário diz que está com dificuldades de preencher as vagas, por falta de mão de obra no mercado. O fechamento de bares e restaurantes durante a pandemia fez muitas pessoas se recolocarem em outras áreas e não voltarem ao setor agora que está tudo reaberto.

A empresa ainda não conseguiu recuperar todos os postos de trabalho fechados, mas está otimista com este final de ano, com a Copa do Mundo e as festas de final de ano. Com a melhora no setor, abriu sua sétima loja neste mês.

'Maior problema é mão de obra qualificada'

Fernando Canizares, dono de franquias do Divino Fogão - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Fernando Canizares tem franquias do restaurante Divino Fogão
Imagem: Acervo pessoal

O empresário Fernando Canizares, 58, é franqueado do restaurante Divino Fogão, e tem três restaurantes em shoppings de São Paulo. Durante a pandemia, precisou demitir cerca de cinco funcionários por loja. Neste ano, voltou a contratar e superou o número de demissões causadas pela pandemia — contratou, em média, seis pessoas por restaurante.

"A partir de maio deste ano sentimos uma retomada significativa. Pagamos as dívidas, e contratamos mais pessoas. Hoje o maior problema que enfrentamos é mão de obra qualificada. Existe uma demanda de contratação e estamos competindo entre si para pegar mais funcionários", afirma Canizares.

Consumidor volta a ficar mais tempo em shoppings. Luis Augusto Ildefonso, diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), afirma que os shoppings devem contratar mais de 90 mil temporários, número ainda abaixo das contratações de 2019 (103 mil temporários).

Antes da pandemia, o consumidor ficava cerca de 1h30 dentro do shopping. Durante a crise sanitária o tempo caiu para no máximo 20 minutos e, agora, a média é de 50 minutos a 1h10, o que beneficia as vendas e aumenta as contratações.