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'Não tenho expectativa de receber meu dinheiro', diz credor das Americanas

O autônomo Ricardo Rodrigues acredita que não vai receber o pagamento das Americanas - Arquivo pessoal
O autônomo Ricardo Rodrigues acredita que não vai receber o pagamento das Americanas Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

16/02/2023 04h00Atualizada em 17/02/2023 11h45

Pequenos prestadores de serviço das Americanas lamentam a crise da empresa e temem ficar sem pagamento. São valores modestos, de R$ 720 a R$ 3.800, mas que remuneram um trabalho já executado.

Em novembro de 2022, o autônomo Ricardo Rodrigues, 28, fez a manutenção de seis aparelhos de ar-condicionado em uma loja das Americanas Express, em Januária (MG). Ele deveria receber R$ 720 pelo serviço feito em três dias, mas ainda aguarda o pagamento.

Na fila de credores

Rodrigues havia combinado que receberia o dinheiro 45 dias após finalizar o trabalho. Mas agora ele está na primeira lista de credores das Americanas, que entraram em recuperação judicial.

O documento apresentado à Justiça do Rio de Janeiro em 25 de janeiro tem cerca de 8.000 nomes. Nela estão bancos, multinacionais e empresas de pequeno e médio porte, com dívida total de R$ 47,9 bilhões.

Nessa lista, Rodrigues está na classe dos quirografários, ou seja, que não têm preferência em relação aos demais (saiba mais abaixo).

Esse dinheiro me faz falta. Tive que parcelar compras no cartão para não acumular dívidas. Um rombo de R$ 720 é complicado, e eu não tenho nem expectativa de receber.
Ricardo Rodrigues

O autônomo diz ter uma renda mensal de R$ 2.500 com instalação e manutenção de ar-condicionado.

Influenciadora não recebeu pagamento de R$ 3.800

A influenciadora digital Nicole Sarfaty, 24, tem R$ 3.800 para receber do Shoptime, do Grupo Americanas. Ela fechou um pacote de stories e um vídeo no Instagram para divulgar produtos da empresa durante a campanha do último Natal.

Ela seria paga antes de 25 de dezembro, só que o dinheiro ainda não caiu na sua conta. Nicole chegou a entrar em contato com a empresa, mas afirma que só recebeu mensagens padronizadas por WhatsApp sobre a crise financeira das Americanas.

Nós [influenciadores] ficamos com medo de fechar parceria com uma marca que não conhecemos. Mas de uma empresa como a Shoptime ninguém espera isso. Isso tudo me surpreendeu demais.
Nicole Sarfaty, influenciadora digital

Nicole se diz "indignada" com a situação e tem poucas esperanças de ser paga. Ela também está na posição de quirografária. "Não tenho muito o que fazer. É seguir a vida."

Como é feita a distribuição de credores em uma recuperação judicial

A classificação de credores em um plano de recuperação judicial é a seguinte:

  • Trabalhistas ou decorrentes de acidentes de trabalho.
  • Créditos com garantia real (imóveis, por exemplo).
  • Quirografários.
  • Representantes de microempresas e empresas de pequeno porte.

Os credores trabalhistas são os primeiros a serem pagos. Isso acontece num prazo de até dois anos. A informação é da advogada especialista em recuperação de crédito Grasiele Roque da Silva, do escritório Benício Advogados.

Por outro lado, os demais grupos sofrem desvalorização dos débitos, o chamado deságio, que pode chegar a 90% do valor total. Esse plano de pagamento entra em vigor se ao menos 50% de cada classe dos credores aprovarem a proposta da empresa.

No caso das Americanas, os bancos têm os maiores créditos na lista de credores. Na avaliação de Grasiele, isso mostra um poder de decisão maior para essas instituições nos quirografários. Por exemplo, se uma microempresa tem R$ 20 mil para receber e o desconto acordado for de 90%, receberá apenas R$ 2 mil.

Os microempresários saem extremamente prejudicados [em um processo de recuperação judicial] porque o juiz vai privilegiar a empresa para que ela não venha a decretar falência e deixar de produzir riquezas para o país
Grasiele Roque da Silva, advogada do escritório Benício Advogados

A lista apresentada pelas Americanas, porém, não é definitiva. O administrador judicial, profissional de confiança do juiz, analisará possíveis divergências de classe de credor e valores para adequar ao novo documento.

Os credores têm até 15 dias corridos após a publicação dessa lista para contestar qualquer informação. O prazo para o administrador judicial analisar e lançar uma lista definitiva é de 45 dias.