Americanas: O que muda na empresa se acionistas investirem R$ 10 bilhões?
As Americanas estão prestes a apresentar um plano de recuperação judicial e continuam em busca de um acordo com os bancos a respeito de sua dívida bilionária.
Um ponto crucial desse acordo é quanto dinheiro os acionistas de referência vão colocar para ajudá-la a sair do buraco. Esses acionistas são os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, donos da gestora 3G Capital.
Nesta semana, as Americanas apresentaram aos bancos uma proposta de capitalização da empresa de R$ 10 bilhões. São R$ 3 bilhões a mais que a proposta anterior, que foi mal recebida pelos bancos.
Por que o aporte dos bilionários é tão importante?
O aporte do trio de bilionários será importante para dar fôlego financeiro à empresa. Quanto maior o cheque, melhor fica a situação da varejista, que vive uma crise desde que foi revelado um rombo bilionário em seus balanços. Hoje a dívida das Americanas é de R$ 47,9 bilhões.
A varejista não divulgou quanto dos R$ 10 bilhões propostos iria para a operação da empresa e quanto iria para pagar a dívida. A empresa diz que a nova proposta tem estrutura similar à anterior, apresentada em fevereiro aos credores.
Além da injeção de dinheiro, a proposta de fevereiro incluía uma recompra de R$ 12 bilhões em dívidas pela companhia. Também propunha a conversão de R$ 18 bilhões de dívidas em participação na empresa e em dívida subordinada, que é um tipo de dívida de longo prazo. Com isso, os bancos passariam a ser acionistas relevantes do negócio.
A intenção do aporte é dar uma sinalização aos bancos, para que a empresa consiga uma folga financeira maior para pagar suas dívidas. Ele ajuda a alongar o perfil da dívida, com mais prazo.
Paulo Luives, economista da Valor Investimentos
Ainda não há acordo em relação à nova proposta de aporte. Mas ele representa um avanço após semanas de negociações truncadas. As conversas entre varejista e credores começaram tensas, com bancos acusando os acionistas de referência das Americanas de participarem da fraude.
Em comunicado, a empresa disse que "espera continuar mantendo discussões construtivas com seus credores em busca de uma solução sustentada que permita a continuidade de suas atividades". O dinheiro a ser aportado pelos acionistas será fundamental para manter o negócio funcionando.
Empresa deve apresentar plano nos próximos dias
Enquanto isso, o prazo para que as Americanas apresentem um plano de recuperação judicial fica mais apertado. A Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da varejista no dia 19 de janeiro. Agora, a empresa tem menos de 15 dias para apresentar a primeira versão do plano, que pode ser alterada depois, conforme avançam as negociações com os credores.
O desenho do plano está diretamente ligado à definição de um acordo com os bancos. Isso porque parte importante do plano de recuperação trata da viabilidade econômica da companhia.
Após ser apresentado à Justiça, o plano precisa ser aprovado por uma assembleia de credores. Como são os donos das maiores dívidas, os bancos têm grande poder de voto na assembleia.
O processo fica mais fácil se a empresa apresentar um plano já mais estruturado, mais próximo do que será aprovado. Por isso é importante ela negociar com os bancos agora.
Brenno Mussolin Nogueira, advogado do Rayes e Fagundes
Disputa na Justiça para encontrar os responsáveis
Em outra frente, os bancos continuam atuando na Justiça para buscar os responsáveis pelo rombo na varejista. Eles têm recorrido a medidas que visam o patrimônio pessoal dos principais acionistas e executivos da empresa.
O Bradesco conseguiu na Justiça uma decisão que dificulta a venda de patrimônio de membros do conselho fiscal da varejista. O juiz determinou que seja dada publicidade a um protesto do banco contra a alienação de bens pelos membros do conselho. Na prática, a decisão não impede a venda de bens, mas torna público o protesto, o que cria entraves à venda.
O banco fez pedido semelhante em relação à venda de patrimônio dos três bilionários acionistas de referência da empresa. Também pediu acesso a emails e documentos de executivos e membros do conselho de administração da empresa. O acesso aos e-mails foi barrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
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