Se crédito está caro, culpa não é do BC, mas do governo, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atribuiu ao governo federal a culpa pelos juros altos no Brasil. Em entrevista à CNN Brasil, ele também afirmou que, se a dívida pública fosse menor, o custo do crédito seria "mais barato para todo mundo".
O que disse Campos Neto
BC não é "malvado". Segundo o presidente do BC, os juros — hoje em 13,75% ao ano — estão altos porque o governo compete com quem precisa de crédito pelo dinheiro que tem disponível.
Se você, empresário, está tentando pegar um dinheiro e está caro, a culpa não é do Banco Central, que é 'malvado'. A culpa é do governo, que deve muito. (...) O grande culpado pelos juros estarem altos é que tem alguém competindo pelos mesmos recursos e pagando mais.
Risco justifica juros altos. Campos Neto ainda explicou que o risco de longo prazo é o responsável por manter a Selic alta. Hoje, acrescentou, a taxa real de juros no Brasil é de mais de 6% — a maior do mundo, segundo ranking.
Quando a gente pensa que o governo faz uma emissão longa e paga uma taxa de juro real acima de 6%, isso não tem a ver com o Banco Central. Isso é uma percepção de longo prazo e existe um risco que justifique que a taxa de juro real seja 6%.
Importância do arcabouço fiscal. O presidente do BC também voltou a elogiar o arcabouço fiscal e disse que mantém contato com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A convivência [com Haddad] é boa. Percebo que ele está fazendo um esforço grande no fiscal. Tivemos algumas conversas no começo e eu disse: 'Olha, sem a ajuda do fiscal, é muito difícil. Não tem como reinventar a roda'. (...) Temos um relacionamento bom. A gente conversa com alguma frequência.
Entenda o contexto
Governo pressiona para que juros caiam. As falas de Campos Neto vêm em meio à pressão do governo para que os juros baixem. O BC, por sua vez, tem defendido que as projeções apontam para uma inflação alta, o que justificaria o atual patamar da Selic.
Mercado aposta em queda no 2º semestre. A LCA Consultoria, por exemplo, vê margem para redução dos juros no terceiro trimestre. Já o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, estima que o primeiro corte venha em agosto.
Especialistas veem espaço para queda agora. Economistas ouvidos pelo UOL acreditam que o BC já poderia ter baixado os juros. Eles explicaram que, embora a inflação ainda esteja alta, outros indicadores melhoraram, como a projeção para o crescimento da economia (1% em 2023).
(Com Reuters)
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