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BC faz nova reunião nesta semana, e não deve baixar juros; por quê?

Governo critica patamar dos juros, hoje em 13,75%; presidente do BC (foto) já disse que não fará "canetada" - Adriano Machado/Reuters
Governo critica patamar dos juros, hoje em 13,75%; presidente do BC (foto) já disse que não fará "canetada" Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

02/05/2023 04h00Atualizada em 02/05/2023 12h47

O Banco Central se reúne nesta terça (2) e quarta (3) para definir a Selic, mas os juros ainda não devem cair, segundo prevê o mercado.

Por que não se espera queda dos juros?

A expectativa do mercado é de manutenção da Selic. Ainda que os especialistas ouvidos pelo UOL acreditem que haja espaço para reduzir os juros agora, boa parte do mercado aposta em queda só no segundo semestre. A LCA Consultoria vê margem para redução dos juros no terceiro trimestre. O economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, estima que o primeiro corte venha em agosto.

A inflação alta explica a manutenção dos juros em 13,75% ao ano, mas o BC já poderia ter reduzido a taxa. Segundo especialistas, o fato de as perspectivas para a economia terem melhorado e as regras de gasto público terem sido apresentadas justificaria uma queda nos juros agora.

Alta dos preços é vilã

A inflação neste ano ainda preocupa. A projeção é de que a inflação termine 2023 em 6,04%, de acordo com o último Boletim Focus (relatório do BC que ouve analistas do mercado). Se acontecer, será o terceiro ano seguido em que o governo não consegue cumprir a meta de inflação (3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo).

Do ponto de vista técnico, a Selic está nesse patamar por causa da inflação. O BC olha para essa perspectiva e entende que ainda existe uma tendência de alta dos preços. Ele não está olhando para o retrovisor, e sim para a frente.
César Bergo, professor da UnB (Universidade de Brasília)

Mesmo assim, há margem para redução. O professor da UnB acredita, porém, que o BC poderia baixar a Selic para 13,5% agora. Embora a inflação ainda esteja alta, outros indicadores melhoraram, como a projeção para o crescimento da economia (0,96% em 2023).

A queda nos juros melhoraria as expectativas. A Selic mais baixa também serviria como sinalização ao mercado de que a economia está evoluindo, segundo avaliação de Carla Beni Menezes de Aguiar, professora dos MBAs da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).

Os juros já deveriam ter baixado. O BC poderia ter começado a reduzir a taxa Selic, nem se fosse 0,25 ponto percentual, para dar uma expectativa de queda futura. Os empresários, a economia, todos trabalham com expectativa.
Carla Beni, da FGV-SP

Críticas do governo

O governo reclama do BC e pede redução de juros. O BC tem autonomia, e César Bergo diz que é um erro o governo criticar, porque a inflação é um problema mundial e as decisões do BC são técnicas. Mas Carla Beni diz que as críticas são justificadas, e o BC tem de se explicar, porque o Brasil tem a maior taxa real de juros do mundo (descontando a inflação, dá quase 7%).

O que diz o BC

O presidente do BC defende os juros. Na quinta (27), em debate no Senado, Roberto Campos Neto disse que reduzir a taxa Selic não necessariamente melhoraria a oferta de crédito no Brasil e ainda geraria inflação maior.

O governo caminha "na direção correta", junto com o BC. Mesmo assim, Campos Neto avaliou que o governo federal e o BC estão sintonizados, em possível referência à nova regra (ou arcabouço fiscal) para controle dos gastos públicos apresentada neste mês.

"Se fosse fácil resolver, já tínhamos feito". Antes, na terça (25), o presidente do BC já havia dito que não baixaria os juros com "canetada". Ele acrescentou que o BC tenta suavizar ao máximo a alta dos juros para manter a inflação dentro da meta com "o menor custo possível".

Se fizermos uma queda de juros artificial, vai passar a mensagem de que a remuneração não está adequada ao risco. As pessoas investiriam em outro lugar, o real iria desvalorizar, e ia começar um processo de expectativas crescentes de inflação.
Roberto Campos Neto, no Senado