Dívida de R$ 500 no cartão passa de R$ 2.650 em 1 ano; entenda bola de neve
Uma dívida relativamente pequena, de R$ 500, pode ficar muito mais difícil de ser paga em apenas um ano. Os juros médios do rotativo do cartão de crédito saíram de 417,4% para 430,5% de fevereiro para março, segundo dados do Banco Central. É o maior patamar desde março de 2017. Mas quanto isso afeta o bolso do consumidor?
Juros de mais de 430% ao ano
Crédito rotativo tem juros compostos. Na prática, isso significa que todo mês a dívida aumenta em cima da dívida do mês anterior. Com a taxa de juros de 430,5% ao ano, os juros do rotativo ficam em 14,92% ao mês. Segundo o Banco Central, o juro médio total cobrado pelos bancos na modalidade atingiu o maior valor desde março de 2017.
Crédito rotativo é espécie de empréstimo. Ele é cobrado quando o cliente não faz o pagamento total da fatura do cartão até o vencimento. Na prática, a instituição financeira empresta o dinheiro e, no mês seguinte, a pessoa paga o valor da fatura mais os juros.
O problema é que os juros do crédito rotativo estão entre os mais altos. De acordo com o BC, a taxa mais alta é cobrada hoje pela financeira Omini, com juros de 22,65% ao mês e de 1.059,07% ao ano no período entre 13 a 19 de abril. No Banco do Brasil, os juros rotativos estão em 14,78% ao mês e 423,09% ao ano.
Caso o consumidor não pague o mínimo da fatura, essa conta pode crescer ainda mais com multa de 2%. Por outro lado, quando o cliente opta pelo pagamento mínimo, significa que ele está fazendo um novo contrato de crédito com a instituição. "Não sou contra a utilização de produtos financeiros e de crédito. O problema é que a maioria das pessoas não sabe usar e não sabe do que se trata", afirma o educador financeiro", diz Eduardo Reis Filho, especialista em investimentos e educador financeiro.
Investimentos rendem bem menos que os juros do cartão de crédito. Para efeito de comparação, o Tesouro Direto prefixado na última sexta-feira (5) oferecia rendimento de 12,05% ao ano para os investidores. Já o Tesouro Selic rende a taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano.
Veja quanto sua dívida aumenta em um ano
A pedido do UOL, Eduardo Reis Filho fez as contas e mostra como a dívida pode se multiplicar ao longo de 12 meses. Na simulação, a cada mês, a dívida é atualizada pela taxa de 14,92% ao mês em relação ao mês anterior.
- Dívida inicial: R$ 500,00
- 1º mês: R$ 574,60
- 2º mês: R$ 660,33
- 3º mês: R$ 758,85
- 4º mês: R$ 872,07
- 5º mês: R$ 1.002,19
- 6º mês: R$ 1.151,71
- 7º mês: R$ 1.323,55
- 8º mês: R$ 1.521,02
- 9º mês: R$ 1.747,96
- 10º mês: R$ 2.008,75
- 11º mês: R$ 2.308,46
- 12º mês: R$ 2.652,88
Como evitar o endividamento com cartão de crédito
Coloque tudo na ponta do lápis. É possível fazer um simples exercício listando todas as despesas atuais e as categorizando em obrigatórias e não obrigatórias. Hoje, é mais fácil verificar facilmente a fatura no detalhe em aplicativos de diferentes instituições financeiras.
Compre sabendo quanto você tem para gastar. O cartão de crédito pode ser usado para diversas despesas do dia a dia, como supermercado, restaurantes, saúde ou viagens. Mas o uso precisa vir acompanhado do consumo consciente. Ao mesmo tempo em que o cartão proporciona uma folga no fluxo de caixa em um mês, ele pode gerar uma "bola de neve" quando a pessoa não consegue quitar a fatura de forma consecutiva. Neste aspecto, é importante, ainda, evitar várias compras parceladas.
Tenha um limite de gastos. Quanto mais tempo a pessoa é cliente de um banco, é comum que ela tenha acesso a mais crédito. Para não entrar em apuros, vale determinar um valor para ser usado todo mês, evitando que a dívida ultrapasse uma parcela da renda mensal, por exemplo, diz o especialista em finanças e planejador financeiro Marlon Glaciano.
Planeje as compras. Há gastos que são recorrentes, como alimentação, telefone, internet e energia. Mas outros, como um computador, celular ou geladeira, que exigem um desembolso maior, precisam ser bem pensados. O melhor é sempre comprar à vista. No entanto, se for parcelar, entenda se aquele mês ou nos próximos o orçamento não está mais apertado para iniciar uma dívida e se já não há outras compras parceladas.
Tenha uma reserva de emergência. A reserva de emergência pode acompanhar o consumidor em diversos momentos da vida, como na perda do emprego ou imprevistos, a exemplo de um problema de saúde, uma reforma inesperada ou algum eletrodoméstico que deve ser trocado com urgência. Segundo especialistas, o ideal é ter uma quantia necessária para entre seis a 12 meses do custo de vida de uma família.
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