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Cortes no Hurb: 'Ninguém na empresa falava em crise', diz demitido

Em meio a uma crise sem precedentes, Hurb demitiu 40% dos seus funcionários - Postmodern Studio/Shutterstock
Em meio a uma crise sem precedentes, Hurb demitiu 40% dos seus funcionários Imagem: Postmodern Studio/Shutterstock

Do UOL, em São Paulo

31/05/2023 12h46Atualizada em 31/05/2023 18h53

Ex-funcionários do Hurb, antigo Hotel Urbano, demitidos nessa terça-feira (30), afirmam terem sido surpreendidos pelo corte de 40% dos empregados e que a direção da empresa jamais falou abertamente sobre a dimensão da crise. O Hurb não confirma o número de desligados e diz estar "prestando todo o apoio para os profissionais afetados, sempre respeitando a legislação trabalhista".

O que aconteceu no Hurb

O UOL apurou que as demissões foram feitas individualmente. O líder de cada área, junto com representantes do RH, enviou um link de uma chamada de vídeo para aqueles que trabalhavam remotamente. Quem estava no escritório soube ali mesmo. A filial do Hurb fica no Rio de Janeiro e a empresa tem empregados em cidades como São Paulo e Sorocaba (SP).

O Hurb desfez equipes por completo, como algumas ligadas a produtos, por exemplo. Funcionários ouviram de seus líderes que a empresa iria enxugar o quadro de funcionários para voltar a uma estrutura anterior à época da pandemia de covid-19, quando a venda de viagens com preços competitivos ainda não era um problema. Um demitido, que pediu para ter sua identidade mantida sob sigilo, disse que seu gestor apenas falou em "reestruturação da empresa", sem abrir detalhes.

Em nota, o Hurb disse estar promovendo mudanças em todas as suas áreas, como parte da reestruturação para garantir a continuidade dos negócios. A chamada "readequação de seu quadro de colaboradores" foi anunciada um dia após a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) suspender a comercialização de pacotes flexíveis, ou seja, os de viagem sem data fixa marcada.

Uma ex-funcionária afirma que o clima na empresa mudou após decisão do governo. A demitida, que pediu para não ser identificada, diz que a mensagem transmitida pela direção do Hurb no dia anterior era de dar continuidade às atividades. Mas tudo mudou quando a Senacon proibiu a venda de pacotes flexíveis na segunda-feira (29).

De acordo com ela, o Hurb não falava com os empregados sobre a gravidade da situação financeira. Essa falta de diálogo trouxe uma falsa sensação de tranquilidade para resolver as pendências com milhares de clientes, segundo funcionários ouvidos pela reportagem. No início do mês, a empresa disse em entrevista ao UOL estar seguindo toda a cartilha de reestruturação, sem citar demissões.

A dívida de R$ 13 milhões cobrada pela Latam, por exemplo, chegou ao conhecimento dos funcionários pela imprensa. Segundo uma das demitidas, os chefes diziam constantemente que o objetivo do momento era aumentar as vendas de viagens, por meio de condições diferenciadas como pagamento à vista e por Pix, para ter dinheiro em caixa. Nas últimas semanas, a equipe passou a lidar com fornecedores que não queriam mais ser parceiros do Hurb.

Segundo um dos demitidos, a nova gestão está preocupada em "seguir trabalhando". Nas palavras dele, que tinha cinco anos de casa, Otavio Brissant tem organizado a equipe em forças-tarefas para embarcar os clientes que aguardam as passagens desde a pandemia. Ele assumiu após o antigo CEO, Ricardo Mendes, renunciar ao cargo após expor e ofender um cliente em vídeo.

Ninguém na empresa falava em crise ou qualquer dificuldade. Um dia antes, ouvi que alguns benefícios não seriam cortados. No outro, fui demitida. O Hurb tem o slogan 'it's all about people' [é tudo sobre pessoas, em tradução livre], mas no fim das contas não foi assim.
Ex-funcionária do Hurb

É um negócio arriscado [vender viagens sem data definida], mas deu certo por mais de dez anos. Mesmo com as dificuldades, era uma boa empresa para trabalhar. Confesso que vou sentir um pouco de falta.
Ex-funcionário do Hurb.

Hurb fala em 'momento desafiador'

Segundo a "Folha de S.Paulo", o corte no Hurb atingiu 400 pessoas, de um total de mil pessoas. No único comunicado sobre as medidas de redução de despesas, a empresa disse que se trata de "resposta ao momento desafiador", que "as decisões são difíceis e lamenta ter que adotá-las".Questionada pelo UOL, a empresa não confirmou o desligamento de 40% dos funcionários, nem informou números.

Em respeito às pessoas, a empresa não fornecerá detalhes sobre essas movimentações e reitera que está prestando todo o apoio para os profissionais afetados, sempre respeitando a legislação trabalhista. O Hurb reconhece que as decisões são difíceis e lamenta ter que adotá-las, mas reforça que todas são necessárias para que a empresa possa atravessar a situação atual e volte a operar regularmente em conjunto com os seus colaboradores, prezando pelo melhor interesse da companhia, de seus consumidores e parceiros.
Hurb, em nota