Em entrevista ao programa Análise da Notícia, o professor da FGV e PhD em finanças e contabilidade, André de Moura, afirmou que o Comitê de Auditoria e o Conselho Fiscal da Americanas falharam ao não terem se dado conta da fraude de R$ 21,7 bilhões dentro da empresa.
Internamente na empresa, pelo menos o Comitê de Auditoria e o Conselho Fiscal falharam. O Comitê de Auditoria é responsável por revisar os procedimentos de controle interno para lançamentos, auditorias externas e relatoria do que a auditoria externa emite. O Conselho Fiscal teria o poder de pedir uma apuração ou auditoria específica diante de indícios de irregularidades e sua missão é fiscalizar a diretoria. Foram negligentes e não fizeram nada diante dos documentos que tinham.
André de Moura
Balanço maquiado. A Americanas transformava prejuízo e lucro. Foram criados contratos artificiais de incentivos comerciais para melhorar o resultado da companhia. Em um primeiro momento, foram identificados inconsistência na classificação de contas marcadas como passivo de fornecedor, que, na realidade, deveriam ser classificados como endividamentos. Essa artimanha foi usada para não ser enquadrada nos índices de endividamento que os bancos usam para cláusulas restritivas de financiamento.
Fraude em contratos. O novo relatório de assessores jurídicos da empresa também aponta que existiam fraudes em contratos de verba, propaganda e até mesmo fornecedores fictícios. Esses contratos eram usados para reduzir a conta de fornecedores, com descontos que não existiam na realidade, pelo menos desde 2012.
Possíveis inconsistências foram apontadas em 2017. A KPMG, antiga auditoria externa da Americanas, apontou ressalvas com a forma que os descontos comerciais da empresa eram contabilizados e também alguns contratos. Foram feitas apenas algumas mudanças e recomendações pela empresa.
Falha do Conselho Fiscal. Com o problema tendo sido levantado há pelo menos seis anos, o Conselho Fiscal deveria ter pedido uma auditoria específica para esclarecimento das inconsistências. "É bem difícil esses problemas passarem despercebidos, então leva a crer que talvez tenha existido um conluio", afirmou o professor.
Bancos falharam em não fazer checagem. Os bancos não tinham acesso aos documentos de detalhamento interno da Americanas e, por vezes, poderiam receber algum tipo de documento fraudulento quando solicitado. Entretanto, os bancos que realizavam novos empréstimos para a empresa falharam ao realizar uma checagem no sistema de informações do Banco Central sobre a emissão de dívidas da Americanas, que atestaria o valor da dívida já contratada.
Efeito em cadeia na economia. As consequências do rombo bilionário podem provocar consequências para fornecedores, funcionários e até mesmo para a União. Como muitos dos fornecedores são pequenos e médios, ao receberem o pagamento não tem como pagar os funcionários, gerando demissões, e nem comprar novas mercadorias, impactando no pagamento de impostos. Se a empresa "quebrar", os funcionários desempregados também não conseguem consumir e, consequentemente, pagar impostos.
Investigação na CVM. A Comissão de Valores Mobiliários deveria ser ativa na fiscalização de contas e auditar cada empresa para atestar as informações contábeis. Diante da situação da Americanas, deve ser feita uma investigação para tentar localizar quem efetivamente falhou na fiscalização.
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O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.
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