0,25 ou 0,50 ponto? BC deve cortar hoje juros após 1 ano de Selic a 13,75%

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (2) para decidir sobre a taxa básica de juros, que está em 13,75% ao ano desde agosto de 2022. É consenso no mercado que a Selic deve ter o primeiro corte em três anos, desde agosto de 2020. Mas analistas divergem quanto ao tamanho dessa redução, e dividem as apostas entre 0,25 e 0,50 ponto percentual.

Corte de 0,25 é aposta em BC 'cauteloso'

Parte dos especialistas aposta em postura "conservadora" do BC. Alguns dos analistas ouvidos pelo UOL acreditam que o mais provável é um corte de 0,25 ponto percentual, para 13,5%, em razão das últimas comunicações do Banco Central. Segundo Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, o movimento mais "cauteloso" é necessário porque, embora o mercado aposte em inflação menor em 2023, o BC ainda precisa de expectativas mais consolidadas para 2024.

Arcabouço fiscal traz otimismo, mas precisa ser aprovado. Os especialistas citam a evolução da nova regra de gastos no Congresso como ponto favorável ao corte nos juros. Mas o fato de o texto ainda ter que passar pela Câmara de novo justificaria uma redução mais conservadora na Selic, analisa a economista Laura Moraes, da Neo Investimentos.

Exterior melhorou, mas ainda há pontos de atenção. Os analistas reconhecem que o cenário externo é melhor agora do que na última reunião, em junho, mas reforçam que ainda há muitas incertezas sobre a inflação e os juros nos Estados Unidos e na Europa. O economista Lucas Farina, da Genial Investimentos, cita como exemplo a suspensão pela Rússia do transporte de grãos da Ucrânia, "o que pode pressionar o preço das commodities".

O BC não tem pressa para afrouxar imediatamente a política monetária porque o problema são os riscos à frente. Com a volta dos trabalhos em Brasília, que deve trazer volatilidade para os mercados, as incertezas podem reduzir novamente as expectativas.
Ariane Benedito, economista da Esh Capital

Mesmo que o brasileiro já sinta o impacto da desaceleração da inflação geral, a inflação de serviços, que tende a ser mais persistente, deve levar o BC a ter um comportamento mais cauteloso. Neste sentido, acreditamos em corte de 0,25 ponto.
Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset

A gente ainda passa por um período de ajuste nos juros dos países avançados. O BC europeu [BCE], por exemplo, ainda deve subir os juros até o final do ano. Isso limita um pouco o espaço para a flexibilização monetária em países emergentes, como o Brasil.
Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultoria

'Há espaço' para redução de 0,50

Inflação de julho surpreendeu e fez crescer apostas em corte maior. Os analistas mais otimistas consultados pelo UOL citam os últimos dados de inflação como principal justificativa para uma queda maior nos juros, de 0,50 ponto, para 13,25% ao ano. A prévia de julho (IPCA-15) indicou deflação de 0,07% no mês. Por isso, "há espaço para cortar a Selic em 0,50 ponto", diz Andre Fernandes, sócio da A7 Capital.

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"Qualidade" da inflação melhorou. Os especialistas concordam que a inflação ainda preocupa, uma vez que as projeções para 2023 (3,89%, segundo o último Boletim Focus) seguem acima do centro da meta, que é de 3,25%. Mesmo assim, Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital, diz que o IPCA "tem mostrado uma melhora qualitativa", com quedas nos preços da energia e dos alimentos, o que justificaria um corte maior na Selic.

Avanço de pautas no Congresso e melhora da nota do Brasil é sinalização positiva. As aprovações do arcabouço fiscal, da reforma tributária e da volta do voto de qualidade no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) mostraram a "força" do governo no Congresso e devem dar confiança ao BC para acreditar que, de fato, o país está comprometido com a estabilidade fiscal, de acordo com analistas.

Tivemos a aprovação da reforma tributária na Câmara, estamos muito próximos da aprovação final do novo arcabouço fiscal -- que, embora não seja perfeito, reduz, sim, o prêmio de risco. São medidas que devem favorecer a perspectiva fiscal do médio prazo.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital

Há plenas condições para uma queda na Selic de 0,50 ponto. (...) Uma série de fatores tem beneficiado a dinâmica dos preços, como a redução das incertezas no âmbito fiscal, com a tramitação favorável do novo arcabouço e a aprovação da reforma tributária.
ABBC (Associação Brasileira de Bancos), em nota

O cenário internacional positivo é um outro fator importante para a decisão do Copom [de agora]. Na reunião de junho, o cenário era turbulento e turvo, principalmente por conta dos problemas dos bancos nos EUA e na Suíça. A gente acredita que 0,50 ponto faz muito mais sentido.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating

Decisão do BC não deve ser unânime

Economistas estão divididos, e nem BC deve concordar sobre intensidade do corte. Dos 15 analistas e entidades ouvidos pelo UOL, oito apostam em queda de 0,25 ponto e sete projetam corte de 0,50 ponto na Selic. Para Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, a magnitude da redução não será consenso nem no próprio Copom.

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Será a primeira reunião após a chegada dos primeiros diretores indicados pelo governo Lula. A ata do último encontro do Copom já havia mostrado uma divergência sobre a sinalização da trajetória dos juros, e essa divisão deve ganhar um novo impulso agora com a chegada dos diretores Gabriel Galípolo e Ailton Aquino.

As apostas do mercado devem seguir divididas e não devemos ter um consenso na expectativa do corte inicial, mas vemos hoje uma maior probabilidade de um corte de 0,50 ponto.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter

A gente segue com as expectativas de início de corte de 0,25 ponto. A decisão possivelmente não será unânime [no BC], e a gente pode ver algumas divergências que ficarão mais claras na ata, que vai ser divulgada só na semana que vem.
Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest

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