Inflação desacelera no mundo e abre espaço para cortes de juros

A perda de força da inflação nas economias desenvolvidas pode render frutos positivos para o Brasil. As desacelerações verificadas nos Estados Unidos, China e Zona do Euro nos últimos meses abrem caminho para reduções das taxas de juros. Se confirmado, o cenário tende a direcionar a atenção dos investidores para o mercado nacional.

O que aconteceu

A inflação dos EUA surpreendeu ao cair 0,1% em junho. Com a variação negativa, o índice de preços do país acumula alta de 3% nos últimos 12 meses. A taxa é inferior aos 3% apurados no período encerrado em maio, mas segue acima da meta de 2% perseguida pelo Fed (Federal Reserve), o Banco Central dos Estados Unidos.

Outros países desenvolvidos acompanham a desaceleração. No mesmo intervalo dos 12 meses finalizados em junho, os índices de inflação da Zona do Euro (de 2,6% para 2,5%) e da China (de 0,3% para 0,2%) também arrefeceram. "A política monetária está surtindo efeito", avalia Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset.

Como todos os Banco Centrais atuaram fortes e sincronizados, isso começa a refletir também semelhantemente na redução da inflação nos países.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset

Cenário aproxima os Estados Unidos do corte dos juros. A desinflação aumenta as expectativas para os próximos passos do Fed, que pode antecipar a estratégia de afrouxamento da política monetária. "O mercado acredita na possibilidade de ter um corte de juros já em setembro nos EUA e, possivelmente, mais um em novembro", afirma Renato Nobile, analista da Buena Vista Capital.

Presidente do Fed adota tom de cautela. Em declaração no Congresso no início desta semana, Jerome Powell destacou que, apesar da recente perda de força, a inflação permanece acima da meta. Ele diz que as variações da taxa de juros ocorrerão "quando e como elas precisarem ser tomadas".

Trajetória de reduções dos juros já começou na Europa. No início de junho, o BCE (Banco Central Europeu) cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, de 4% para 3,75% ao ano. A decisão representa a primeira baixa dos juros no bloco desde setembro de 2019.

O processo de relaxamento monetário, tanto pelo BCE quanto pelo Fed, promete ser lento, possibilitando um distanciamento gradual das condições financeiras internacionais.
João Rosal, economista da Terra Investimentos

Benefícios ao Brasil

Os efetivos cortes de juros no mundo desenvolvido afeta o Brasil de maneira positiva. A avaliação dos economistas considera que os juros globais mais baixos têm potencial de atrair os investimentos estrangeiros e, consequentemente, reverter a recente desvalorização da moeda brasileira ante o dólar.

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Se as taxas de juros lá não caírem, isso afeta diretamente os investimentos aqui, porque o investidor estrangeiro retira dinheiro do Brasil, direcionando o capital para o mercado americano.
Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital

Inflação nacional também figura em momento de desaceleração. A alta de 0,21% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em junho veio abaixo das expectativas do mercado financeiro. O movimento reacendeu a possibilidade de novos cortes da taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano. "O mercado estava prevendo talvez um momento de juros esse ano, isso já foi completamente descartado", diz Nobile.

Fiscal preocupa

A responsabilidade com as contas públicas é vista como aliada para concretizar o efeito positivo. Pano de fundo das recentes incertezas sobre a economia nacional, o descumprimento da promessa de zerar o déficit fiscal é capaz de reverter os movimentos globais benéficos para o Brasil. "Pouco servirá o relaxamento monetário nos EUA se os riscos domésticos não forem controlados", observa Rosal.

A preocupação é frequentemente citada nas justificativas do BC ao definir o patamar dos juros básicos. Na ata da reunião que interrompeu o ciclo de cortes da taxa Selic, o Copom (Comitê de Política Monetária) disse monitorar com atenção os desenvolvimentos da política fiscal e os impactos causados no mercado financeiro.

Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.
Ata da última reunião do Copom

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