Tok&Stok e Mobly: entenda a situação das empresas e a chance de uma fusão
A possível fusão da Mobly com a Tok&Stok animou o mercado, que vê como positiva a união das varejistas. Segundo analistas ouvidos pelo UOL, as duas empresas devem se beneficiar do negócio. Entenda a situação das empresas e o que está em negociação
O que está acontecendo
A Tok&Stok, maior rede de varejo de móveis e decoração do Brasil, tem dívida de mais de R$ 300 milhões. A empresa viu sua falência ser pedida na Justiça por um credor.
A Mobly, empresa de tecnologia que atua no comércio eletrônico de móveis e decoração, tem interesse em avançar nas lojas físicas. A empresa também registra prejuízo e pode se beneficiar de uma possível fusão.
Mobly diz que mantém conversas para um negócio com a Tok&Stok. Em comunicado ao mercado, a empresa afirma que ainda não há acordo ou proposta vinculante para fechar o negócio.
A crise na Tok&Stok
Empresa acumula dívida estimada em R$ 350 milhões. A informação é da própria empresa, em nota enviada ao UOL.
Teve até ação de despejo por atraso no aluguel. Em fevereiro deste ano, a Tok&Stok foi alvo de uma ação de despejo. Ela deixou de pagar a conta de um imóvel em Extrema (MG), onde tem um centro de distribuição. A empresa pagou a dívida em juízo e a ação foi encerrada.
Agora, Tok&Stok está focada na recuperação operacional. Empresa afirma que está focada na gestão de caixa e melhora de operação.
17 lojas foram fechadas; outras 51 seguem abertas. Para melhorar os números da companhia, a empresa afirma que fechou as lojas que não eram rentáveis, e que está simplificando o organograma.
Sócios fizeram aporte e dívida bancária foi reestruturada. Segundo a Tok&Stok, isso vai permitir que a operação da empresa volte a ser prioridade.
Empresa foi criada por franceses no Brasil. A Tok&Stok foi fundada pelo casal de franceses naturalizados brasileiros Régis e Ghislaine Dubrule, em 1978. Em 2012, os fundadores venderam 60% da companhia para o fundo de private equity norte-americano Carlyle Group, por R$ 700 milhões. Na época, a TokStok tinha 35 lojas em 12 estados do Brasil. Hoje, a marca tem lojas em 22 estados.
Casal fundador está na lista de bilionários do Brasil. O casal de fundadores consta da lista de 2022 da revista Forbes. Com fortuna estimada em R$ 1,4 bilhão, ocupam o 13º lugar na lista do setor de varejo, e a 222ª posição no ranking geral.
Mobly expande para lojas físicas
A Mobly nasceu digital, em 2011. A empresa foi fundada pelos engenheiros Victor Noda, Marcelo Marques e Mario Fernandes, com a premissa de vender móveis e artigos para decoração com preços baixos.
Fez IPO durante a pandemia e viu queda nas ações. A Mobly entrou na Bolsa de Valores brasileira em 2021. Na abertura das negociações, o papel da empresa chegou a ser negociado por mais de R$ 26. Atualmente, a cotação está em aproximadamente R$ 4 por ação (veja a cotação aqui).
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Quero receberControle hoje é de empresa europeia. Em outubro de 2022 a multinacional alemã Home24 adquiriu o controle da Mobly. O preço das ações, na data, chegou a quase R$ 4, bem menor que no IPO, mas em um patamar que só foi alcançado novamente em junho deste ano, já com as especulações de fusão com a Tok&Stok.
Três centros de distribuição, lojas e outlets. A Mobly tem centros de distribuição em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. Apesar de ter começado no e-commerce, hoje a Mobly tem nove lojas e oito outlets próprios no estado de São Paulo. Em 2021, a marca lançou seu modelo de franquias, que hoje tem três lojas, também no estado de São Paulo.
Empresa registra prejuízo de R$ 89 milhões. De acordo com Jéssica Costa, sócia e head de eficiência & gestão e transformação digital da AGR Consultores, o valor contábil da Mobly é de R$ 513 milhões (2022). O faturamento bruto de 2022 foi de R$ 637 milhões, com prejuízo de R$ 89 milhões. O faturamento do segundo trimestre de 2023 foi de R$ 276 milhões. Já o prejuízo foi de R$ 39,8 milhões (26% menor quando comparado ao mesmo período de 2022, que foi de R$ 53 mi).
Analistas avaliam fusão como positiva
Fusão é boa para as duas empresas. Para Alexandre Machado, head de projetos para varejo e bens de consumo na Bip Brasil, a Tok&Stok precisa da fusão, ou "seria mais uma a fechar". Para ele, ambas têm a ganhar com a fusão. "A Mobly é uma empresa nativa digital, por isso os acionistas ousam bastante e vieram diversificando em lojas físicas e também no formato, com lojas mais compactas. Já a Tok&Stok tem capilaridade de lojas, marca conhecida, público definido", diz.
Fusões devem crescer nos próximos anos. Para Jessica Costa, o movimento de fusões e aquisições entre empresas é uma tendência que deve se consolidar. A especialista comenta que o mercado norte-americano tem mais experiência em casos de sucesso nesse sentido, mas no Brasil o segmento de moda já está mais avançado do que o de varejo. Recentemente, a Nestlé anunciou a compra da Kopenhagen.
Desafio é reduzir custos operacionais. Para os especialistas, um dos principais desafios no caso de uma fusão entre empresas é conseguir capturar a sinergia operacional, ou seja, conseguir ter eficiência entre as operações conjuntamente, como reduzir a sobreposição de fornecedores e ter melhores negociações. Em caso de fusão, leva um bom tempo para a captura de sinergias, então, para que isso resulte em retorno financeiro, o prazo deve ser de pelo menos um ano após o anúncio do negócio, avaliou Jessica Costa.
Varejo de móveis enfrenta mudanças
Setor está mudando e modelo de negócios precisa ser revistos. Alexandre Machado avalia que as lojas físicas ainda têm a sua importância, mas os modelos de negócio podem ser revistos. Como exemplo, ele cita outra empresa do ramo, a MadeiraMadeira, que investe em guideshops, um tipo de loja que não tem estoque, mas permite ao consumidor entrar em contato com o produto. Para Jessica Costa, o mercado brasileiro ainda precisa crescer mais na integração entre lojas físicas e online.
Varejo está em período de baixa. Durante a pandemia muitas pessoas precisaram investir mais em suas casas, principalmente pela necessidade de montar um espaço de trabalho remoto. Mas, agora, o setor não está mais em crescimento, afirma Costa. Por serem bens duráveis, esses itens tem um tempo de vida maior, por isso o consumidor não volta a investir novamente nesse setor em um bom tempo.
Cenário econômico afeta o consumo. A de queda na taxa de juros — este ano, a Selic caiu de 13,75% para 13,25% e deve continuar caindo — não deve impactar o consumo de móveis e decoração no curto prazo. Segundo Costa, a retomada do consumo virá com maior geração de emprego e fim do endividamento.
A gente teve um consumo muito acelerado durante a pandemia. Leva ainda uns dois anos para retomar o consumo nesse sentido. Apesar de o setor de construção civil estar aquecido, com uma série de novos imóveis, quando a gente olha para redes de como C&C e Telhanorte, elas não estão com crescimento de vendas, e isso é uma cadeia
Jéssica Costa, sócia e head de eficiência & gestão e transformação digital da AGR Consultores
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