Já pensei: Sou a única mulher da mesa, não posso chorar, diz chefe da Astra

A empresária Ana Oliva Bologna, presidente da Astra e da Japi, disse em entrevista ao UOL Líderes que já passou por situações no trabalho em que pensou que não poderia chorar, pois era a única mulher na mesa. A Astra e a Japi vendem itens para a casa, com um portfólio que vai de tubos de PVC a banheiras, passando por assentos sanitários e vasos para plantas.

O que ela disse

Desafios por ser jovem e mulher em uma indústria masculina. Ela diz que foi muito testada quando assumiu o negócio da família. Também conta que, quando trabalhou no mercado financeiro, chegou a pensar que não poderia chorar, pois era a única mulher na mesa.

Meta é ter 40% de mulheres entre os funcionários. A empresária diz que busca dar suporte às mulheres, com um programa de orientação parental, salas de lactação nas fábricas e a meta de ampliar o número de mulheres entre os funcionários, de 30% para 40%. "Sendo uma indústria extremamente masculina, de material de construção, é um número bom", diz.

Problema não é o plástico, é o descarte dos descartáveis, diz. Muitos dos produtos da Astra e da Japi são feitos de plástico. Bologna diz que começou a medir a emissão de gases de efeito estufa em sua cadeia, e que o problema não é o plástico em si, mas a falta de conhecimento sobre o descarte correto dos plásticos descartáveis.

Produto reciclado tem custo maior e consumidor não está disposto a pagar. Ela também diz que um item feito de plástico reciclado tem um custo maior do que o feito com matéria-prima virgem. Mas que, nos Estados Unidos, por exemplo, o consumidor não está disposto a pagar mais por esses produtos. 'Espero que um dia esse mindset mude", diz.

Pessoas querem banheiro bonito e acessível. A empresária diz que, com a pandemia, as pessoas passaram a olhar mais para suas casas, e a querer ter produtos bonitos e acessíveis. As empresa do grupo buscam atender a essa demanda, com itens assinados por designers como Oswaldo Mellone e Rodrigo Ohtake.

Empresa aposta em móveis de plástico para exportação. O grupo está investindo em móveis de rotomoldagem, técnica de fabricação de itens de plástico, que permite ter peças leves e com bom acabamento. A Japi já vende vasos de rotomoldagem e agora a ideia é investir em outros produtos. O grupo abriu uma fábrica na República Dominicana focada nessas peças para exportação.

Você pode assistir a entrevista em vídeo no canal do UOL no YouTube ou ouvi-la no podcast UOL Líderes. Veja a seguir destaques da entrevista:

Desafios por ser mulher

No princípio, não sei se porque eu era mulher ou porque eu era nova, mas eu fui muito testada. Tipo assim: 'Ela vai espanar'. Trabalhei em mercado financeiro e eu era a única mulher na mesa, então tinha alguns momentos de passar estresse, de o chefe dar duas telefonadas na mesa, aí eu segurava e falava para mim: 'Sou a única mulher da mesa, não posso chorar'. Eu, Ana, passei por situações por ser jovem e mulher? Claro que passei. Quem vai falar que não? Mas eu nunca me senti menos por ser mulher.

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A gente tem um projeto que se chama Renascer, em que a gente fornece orientação parental até quando a criança tem 10 anos de idade. Temos sala de lactação nas unidades fabris, a mãe pode parar e ir tirar o leite. Quando você dá esse suporte, a potência das mulheres vem. A gente tem 30% da nossa mão de obra feminina. E estamos com o objetivo de chegar até o ano que vem com 40%. Sendo uma indústria extremamente masculina, de material de construção, é um número bom.

Reciclagem do plástico

Assinamos o pacto global da ONU recentemente e temos algumas metas. Começamos com uma medição de gases do efeito estufa na transformação de plástico para a gente mensurar os créditos de carbono e como melhorar esse processo. As pessoas falam muito do plástico, mas faço questão de falar que o problema não é o plástico, o problema é a educação, o descarte dos descartáveis. A gente faz o nosso papel, a gente tem vários produtos de plástico reciclado, plástico verde, que também é super ecologicamente correto.

A logística reversa é superdifícil. No meu caso é mais difícil ainda porque meus produtos são baratos. Então, quando você coloca uma logística reversa nesse processo fica inviável, o custo não vai pagar. E a gente vê isso mundialmente. Nos EUA, para você apresentar um produto reciclado é mais caro que um produto produzido pelas matérias-primas virgens. O americano não paga um dólar a mais por um produto ecologicamente correto. Eu realmente espero que um dia esse mindset mude no mundo. A logística reversa é complexa, é mais fácil quando os materiais têm um valor agregado mais alto.

Banheiro bonito e acessível

As pessoas estão querendo cada vez mais ter um banheiro bonito. É uma tendência que veio da pandemia, quando as pessoas começaram a olhar mais para dentro de casa. E é possível ter um produto bacana, bonito, que seja acessível às pessoas. Não precisa ser aquela obra de arte maravilhosa, cara. É uma democratização de design. Estamos fazendo vários movimentos nessa parte. As pessoas querem ter coisas bonitas e acessíveis dentro de casa.

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Aposta em móveis de plástico

Vamos ter lançamentos muito bacanas na parte de móveis de rotomoldagem, assinados por designers. Rotomoldagem é um processo produtivo, que é como fazemos os vasos de polipropileno da Japi. É um móvel de plástico sem emendas. É chique, bacana e cool. E além de tudo é leve, você consegue colocar em qualquer lugar você mesma. Abrimos uma unidade na República Dominicana para atender América Central, Estados Unidos e Europa. São móveis para área de jardinagem, não vou entrar em concorrência com móveis de madeira. Mas é um mercado que acreditamos que tem muito potencial.

Quem é Ana Oliva Bologna

Idade: 42 anos
Local de nascimento: São Paulo (SP)
Trajetória: Formada em administração de empresas pela FAAP. Assumiu o comando da Astra e da Japi em 2014.

Assim são Astra e Japi

As duas empresas têm sede em Jundiaí e produzem itens para a casa e material de construção. Juntas elas vendem mais de 7 mil itens, exportam para 30 países e vendem em 37 mil pontos de vendas no Brasil. A Astra foi fundada em 1957 e foi comandada por décadas por um dos sócios, o empresário Francisco de Assis Oliva, avô de Ana Oliva Bologna. Em 1993 ele fundou a Japi.

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Funcionários: 2.200

Faturamento em 2022: Cerca de R$ 1 bilhão

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