Ano sabático: engenheiro saiu das dívidas e já visitou 10 países em 1 ano

O engenheiro de produção Matheus Barros Motta e a namorada, Cíntia, começaram a viajar em janeiro de 2023 e desde então já passaram pela Amazônia brasileira, Costa Rica, Panamá, França, Holanda, Austrália, Indonésia, Singapura, Inglaterra, Escócia e atualmente estão na Austrália. Mas o caminho não foi tão fácil. Ele saiu das dívidas, organizou seu orçamento e conseguiu realizar o sonho de surfar na Indonésia.

Em 2016, Motta contraiu dívidas ao ajudar os pais. Ele usou o cheque especial e, em poucos meses, viu uma dívida de R$ 5.000 dobrar. "Foi quando cheguei no meu limite", afirma o engenheiro.

O engenheiro adotou três estratégias para resolver o problema. Ele pegou um empréstimo com juros menores que o do cheque especial para quitar as dívidas. Fixou um limite de 15% do salário para pagar dívidas. E, por fim, estudou. "O melhor investimento é aquele que se faz em si mesmo: paguei do próprio bolso uma especialização. Meses depois, troquei de empresa para ter um salário maior. Em 2017, além do pagamento feito todos os meses, adiantei o pagamento de várias parcelas. Finalmente, estava no controle da minha vida financeira."

Em 2018, foi promovido e, com o bônus do ano, conseguiu quitar o empréstimo em menos da metade do tempo. Foi aí que ele voltou a sonhar. "Comecei a refletir que estava num ritmo bem forte e queria parar um período para realizar o sonho de surfar na Indonésia. Queria morar lá por um tempo enquanto ainda fosse jovem e para isso precisaria de dinheiro e aprender a surfar."

Engenheiro aprendeu a poupar. Motta se comprometeu a guardar o dinheiro que antes ia para as dívidas e investir. Ele terminou o ano com R$ 25 mil investidos e se apaixonou pelo tema de finanças pessoais e pela namorada Cintia, que ele conheceu no mesmo ano e que topou a ideia de viajar.

Aprendeu sobre investimentos ao trabalhar em uma corretora. "Foi um divisor de águas na minha vida. Além de um bom aumento de 30% no salário, meu dia a dia era repleto de investimentos e finanças pessoais. Nessa época, comecei a namorar a Cíntia, que também ama viajar, queria aprender inglês e topou de imediato minha ideia maluca. Juntos, tínhamos o sonho de viajar pelo mundo e adicionamos alguns países no roteiro. Fechamos 2019 com R$ 80 mil investidos, já considerando a grana de rendimento", diz ele.

Coronavírus adiou os sonhos, já que afetou o dinheiro que havia sido guardado. Mas o casal passou a investir mais. Em 2021, seguindo a linha do home office, o casal se mudou para o Nordeste, mantendo o salário de São Paulo, e conseguiu guardar mais dinheiro. "Até fizemos um brechó com as roupas que não usávamos mais. Decidimos nos casar em 2022 e sair para uma lua de mel de sabático em 2023. Felizmente, por muito planejamento e economias prévias da Cíntia, conseguimos fazer a festa de casamento sem comprometer os nossos planos."

Completando um ano "na estrada", o casal faz de tudo. Em troca de acomodação, eles fazem pet sitting (cuidam de animais de estimação), Motta dá consultoria financeira e Cinthia faz trabalhos com áudio visual, inclusive no perfil do casal no Instagram, @melevacintheus. Apesar de todo o esforço, a experiência valeu muito a pena, segundo Motta. "As refeições ficaram mais longas, os cafés mais prazerosos. Sentimos nossa cabeça muito mais vazia e disponível para conversarmos e pensarmos em novas ideias e projetos", diz.

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Foram 45 camas em 1 ano (1 a cada 8 dias). Conhecemos lugares e pessoas incríveis, mas posso dizer tranquilamente que foram raros os momentos de descanso. O que aconteceu de fato é que por alguns momentos conseguimos levar uma vida sem pressa, sem olhar no relógio, sem tantos compromissos, sem contar a vida em minutos -- e isso não teve preço.
Matheus Barros Motta

Mestrado na Espanha

A designer Juliana Souza da Silva, 43 anos, economizou durante seis anos para fazer um mestrado na Universidad de Salamanca, na Espanha, durante um período sabático em 2016. Funcionária pública, ela conseguiu uma licença não remunerada, porque o curso tinha a ver com o cargo, mas não teve auxílio financeiro. Além disso, ela conta que só foi possível juntar algum dinheiro quando alcançou certa estabilidade no emprego.

Quem não é herdeiro precisa se planejar muito para realizar seus sonhos. Fui com o dinheiro contado e não pude viajar muito pela Europa, como meus colegas que foram com bolsas de estudo. Eu tinha R$ 46 mil, que para os gastos do dia a dia e aluguel foi bem apertado. Mas se não me jogasse, não teria feito. Ia ficar com medo e esperar juntar mais (e acabar desistindo) ou de gastar tudo e precisar do dinheiro depois. Além disso, eu só fui começar a estudar outras línguas na UFRJ, que oferecia cursos com preços acessíveis na faculdade de Letras.
Juliana Souza da Silva

O câmbio ajudou. Na época, o euro estava em torno de R$ 3 e ela começou a comprar a moeda três anos antes do início das aulas, sempre aproveitando o câmbio mais favorável. Além disso, conseguiu poupar aplicando na poupança e em LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e assim pôde passar dois anos sem trabalhar e ainda pagar pelo mestrado, que custou 2.400 euros.

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Nunca tinha sobrado dinheiro na minha vida, mas, até então, eu morava com minha mãe, as despesas eram divididas, o que me permitiu poupar. Depois que eu pagava as contas do mês, uma parte do que sobrava ia para a poupança mesmo, uma parte eu colocava euro no cartão de débito de viagem, e quando tinha um extra tipo férias e 13°, aplicava em LCI. Não sei nada sobre investimentos, mas sei que meu perfil é conservador, fui nesses básicos. Os investimentos não renderam quase nada, mas os euros no cartão de viagem foram muito úteis, já que o câmbio sempre oscila.
Juliana Souza da Silva

Não conheceu toda a Europa, mas visitou a Espanha de maneira econômica. "Como eu não consegui a licença com remuneração, não dava para esbanjar. Fiquei pela Espanha mesmo, mas dava para fazer vários passeios de ônibus, e, algumas vezes, fui para Portugal porque tinha o trem noturno e o aplicativo de viagens compartilhadas Blablabla Car, que funciona muito bem lá."

Casar ou fazer intercâmbio na Austrália?

Lucas, Larissa e os pets em Portugal, onde moram atualmente
Lucas, Larissa e os pets em Portugal, onde moram atualmente Imagem: Arquivo Pessoal

Casar ou viajar? Essa era a dúvida de Lucas Romeiro de Oliveira, 31 anos, em 2014. Ele já trabalhava como programador na área de Tecnologia da Informação há 4 anos e estava juntando dinheiro com a noiva para se casar.

Eu estava meio cansado de tudo, da rotina, de ficar sentado num escritório o dia inteiro, mas como estávamos pensando em nos casar e comprar um apartamento, tinha de continuar trabalhando. Sempre quis morar fora, mas como dizer isso para sua noiva sem ela pensar que você não quer se casar? Eu me arrependeria muito se não o fizesse, então tomei coragem, falei com ela e ela simplesmente disse: eu também!
Lucas Romeiro de Oliveira

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A entrada para a compra do apartamento (R$ 30 mil) foi para uma agência de intercâmbio. Fechou um pacote de seis meses de aulas de inglês na Austrália com um mês de acomodação.

Eu tirava uma parte do salário todo mês e colocava numa poupança para o 'apartamento', outra parte menor ia para investimentos a longo prazo (tesouro direto). Mas mesmo assim teríamos que trabalhar para nos manter lá. Minha noiva estudou o ano inteiro, e eu apenas os seis primeiros meses por já ter um nível de inglês melhor. Ela trabalhou a maior parte do tempo como faxineira e em uma creche como ajudante, e eu fiz de tudo um pouco, mas trabalhei bastante com eventos, como garçom, bartender, barista etc.

Larissa Oliveira, a mulher de Lucas, era estudante de comércio exterior no Brasil, mas a experiência fora do país a motivou a mudar o rumo da carreira. Atualmente, ela é professora de inglês. Ele diz que também se beneficiou da experiência na sua carreira, já que melhorou o inglês. Eles gostaram tanto que prorrogaram a viagem por mais seis meses, completando um ano de sabático.

A experiência do intercâmbio foi ótima tanto pessoalmente, pois éramos jovens (ambos com 22 anos na época) e nunca tínhamos morado sozinhos, quanto profissionalmente, pois voltamos com um inglês ótimo. Minha intenção era mesmo ter um ano sabático. Estava cansado do meu trabalho, da rotina e do escritório. Trabalho desde os 17 anos, queria experimentar coisas novas, e no intercâmbio pude fazer tudo isso. Foi maravilhoso e me deu muita perspectiva, mas no final já estava com saudade da minha cadeira de escritório de novo.

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