8 presidentes em um período de 8 anos, o que acontece com a Petrobras

Jean Paul Prates foi o oitavo presidente da Petrobras (PETR4) demitido em um período de 8 anos. Ao todo, foram dois nomes durante a gestão de Michel Temer (PMDB), quatro no governo Jair Bolsonaro (PL) e agora, dois sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Demissão gera insegurança no mercado, as ações da Petrobras desabaram na Bolsa de Nova York — às 9h40, a queda é de 7,25% antes da abertura de mercado. O receio dos investidores é de ingerência política na petrolífera brasileira.

O que aconteceu

O presidente da Petrobras Jean Paul Prates foi demitido na noite de ontem. Em comunicado, a empresa informou que: "recebeu nesta noite de seu Presidente, Sr. Jean Paul Prates, solicitação de que o Conselho de Administração da Companhia se reúna para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como Presidente da Petrobras de forma negociada." E diz ainda que "adicionalmente, o Sr. Jean Paul informou que, se e uma vez aprovado o encerramento indicado, ele pretende posteriormente apresentar sua renúncia ao cargo de membro do Conselho de Administração da Petrobras. Fatos julgados relevantes serão tempestivamente divulgados ao mercado."

Demissão ocorreu durante uma reunião no Planalto. Estavam presentes também os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil).

Prates estava na corda bamba. A pressão pelo cargo se arrastava há meses com uma série de atritos com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. A situação piorou em março com uma discussão pública sobre o pagamento dos dividendos extraordinários no valor de R$ 43,9 bilhões. O Conselho anunciou que pagaria parte dos dividendos, mas havia o interesse, principalmente do ministério da Fazenda, para que os dividendos fossem pagos integralmente para ajudar a fechar as contas do governo.

Disputa por cadeiras no Conselho da estatal. Já em março de 2023, após Prates assumir, o ministro Alexandre Silveira se queixou ao presidente Lula de que não foi ouvido para a indicação de nomes para compor o Conselho da Petrobras. A lista, então, foi alterada, dando a Silveira mais voz nas decisões da companhia.

Investimento em gás natural também gerou atrito com Silveira. O ministro considerou que a Petrobras não investia o suficiente na produção de gás e que tratava a política para gás com "negligência".

Na noite de segunda (13), a Petrobras informou uma queda de 38% no lucro entre o primeiro trimestre deste ano e igual período de 2023. Os ganhos líquidos da petroleira de janeiro a março de 2024 somaram R$ 23,7 bilhões. A empresa atribuiu a queda à piora do resultado financeiro da empresa, com a desvalorização cambial, ao menor volume de vendas de óleo e derivados, e à queda de preço do petróleo no mercado internacional.

Magda Chambriard assume a presidência da Petrobras. Engenheira civil com pós-graduação em engenharia química, Chambriard foi presidente da ANP (Agência Nacional do Petróleo) no governo de Dilma Rousseff (2011-2016) e foi indicada agora para substituir Prates pelo Ministério de Minas e Energia.

Dança das cadeiras na Petrobras

A estatal teve oito presidentes em um período de oito anos. As mudanças começaram em 2016, quando Pedro Parente anunciou o comando da empresa, afirmando que acabaria com a interferência política. Ele instituiu uma política de preços baseada na paridade de preços internacional. Apesar da melhora dos indicadores, a oscilação de preços para o consumidor culminou na greve dos caminhoneiros em 2018, o que fez com que Parente entregasse o cargo ao então presidente Michel Temer.

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Parente foi substituído por Ivan Monteiro, então diretor financeiro da petroleira. Com a posse de Jair Bolsonaro, Roberto Castello Branco assumiu o comando da estatal após indicação do ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

Pressão dos caminhoneiros levam à demissão de Castello Branco. Após a demissão, anunciada via redes sociais em 2021, assume o general da reserva Joaquim Silva e Luna, que teve de administrar a explosão dos preços dos combustíveis após o início da guerra da Ucrânia. Pressionado com o aumento dos preços, Silva e Luna deixa a Petrobras.

Por indicação do ministro das Minas e Energia da época, Bento Albuquerque, José Mauro Coelho assume a presidência da Petrobras. No entanto, após dois meses, novos anúncios de reajuste de preços dos combustíveis e Bolsonaro sugerir a criação de uma CPI para investigar a diretoria da Petrobras, Albuquerque deixa o cargo.

Caio Paes de Andrade assumiu o cargo. No entanto, com as eleições, ele aceitou o convite do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para assumir o cargo de secretário de Gestão e Governo Digital do estado. Provisoriamente, até a nova gestão assumir, João Henrique Rittershaussen ficou como presidente interino da Petrobras até janeiro de 2023, quando foi substituído por Jean Paul Prates.

O que diz o mercado

Para a Ativa Investimentos, a decisão "ratifica o maior risco político da empresa". Com a mudança, a recomendação para as ações da empresa é "neura". "Sem entrar no mérito da nova escolhida, classificamos a decisão como negativa, uma vez que Prates vinha desempenhando o que classificamos como um bom papel na companhia, equilibrando os interesses econômicos e políticos da empresa com sabedoria", disse a corretora em comentário.

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A troca de comando na Petrobras sinaliza instabilidade para investidores. A substituição de Jean Paul Prates por Magda Chambriard, apesar de pacífica, aumenta a incerteza sobre o futuro da empresa. As políticas de Chambriard, sobretudo a de preços, são cruciais para a percepção de risco dos investidores. A mudança abrupta e motivada por pressões políticas pode impactar a confiança na governança. Como uma empresa importante do Brasil e para o Ibovespa, alterações na percepção de risco da Petrobras podem impactar o mercado. Investidores devem agir com cautela e monitorar a nova administração.
Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos

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