Startups se recuperam de 'ressaca' após salto na pandemia
A permanência taxa básica de juros em 2% ao ano, o menor patamar da história, entre agosto de 2022 e março de 2023, foi determinante para o bom desempenho das startups no Brasil. Com as elevações da taxa Selic até 13,75% ao ano, o setor perdeu investimentos e vive um cenário de recuperação em 2024. O tema foi assunto do Startup Summit, evento promovido pelo Sebrae Startups e a Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), em Florianópolis (SC).
O que aconteceu
"Startups se recuperam de ressaca", avalia investidor anjo. Para Cassio Spina, presidente da Anjos do Brasil, rede de fomento ao Investimento Anjo, o segmento passou por uma correção após disparada das aplicações em 2021, quando as taxas de juros figuravam no menor patamar da história.
É natural que exista um ajuste. Depois da ressaca daquele ponto fora da curva, nos últimos dois anos houve uma redução do investimento em relação ao 2021.
Cassio Spina, presidente da Anjos do Brasil
Dados mostram queda de 10% no total investido em 2023. De acordo com levantamento da Anjos do Brasil, os investidores anjos aplicaram R$ 886 milhões nas empresas de inovação no ano passado. Mesmo com a queda na comparação anual, o total de investidores aumentou 2,4%. Para este ano, as projeções apontam para a retomada do segmento ao nível de 2022.
Startups caminham dependentes das taxas de juros. "Hoje em dia, com a atual taxa de juros você deixa o dinheiro na renda fixa. Quando os juros estavam em 2% ao ano, você achava algo melhor para investir", explica Spina. "Na pandemia, as empresas tiveram que se apoiar uma nas outras", reforça Gabriel Sant'Ana, coordenador da incubadora de startups Miditec.
Naturalmente, os juros altos levam os investidores a buscar alternativas de investimento mais seguras e rentáveis.
Diego Ramos, presidente da Acate
Investimentos em tecnologia oferecem mais riscos. "No mundo de startups, que desenvolvem um risco ainda maior, tem uma dificuldade aí maior de captar esses investimentos", complementa Ramos. "O excesso de dinheiro também faz mal", destaca Spina, que vê o momento atual como mais propício para negócios rentáveis.
Hoje, sem dúvida, existe um nível de equilíbrio maior entre os investimentos e o valuation [valor de mercado] das stsrtups. Com isso, há maior chance de se ter sucesso e resultados positivos.
Cassio Spina, presidente da Anjos do Brasil
Cenário não impediu o crescimento do ramo de tecnologia. Dados divulgados pelo Observatório Acate mostram que os ganhos do setor subiram 5,2% no ano passado e totalizaram R$ 754,9 bilhões. O estado de São Paulo lidera setor, com faturamento de R$ 352 bilhões em 2023, valor equivalente a quase metade do que equivale a 47% do total nacional. "As empresas tiveram que se reinventar após a pandemia, que acelerou a transformação digital", relata Ramos.
Mercado não prevê queda dos juros neste ano. Segundo a edição mais recente do Boletim Focus, a taxa Selic deve permanecer em 10,5% ao ano pelo menos até dezembro. Para o ano que vem, as perspectivas ficaram mais pessimistas e a estimativa aponta para um corte de apenas 0,5 ponto percentual da taxa básica no próximo ano, para 10% ao ano.
*O repórter viajou a convite do Sebrae
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