Ibovespa termina setembro com perdas de 3,08%; Real valoriza 3,68%

A Bolsa de Valores de São Paulo terminou o último pregão de setembro, nesta segunda-feira (30) em queda. Novas medidas para estimular a economia chinesa tentaram impulsionar o Ibovespa. Mas a força vendedora de investidores preocupados com o risco fiscal, após o anúncio do déficit das contas públicas, venceu a disputa e o índice fechou em baixa de 0,69%%, indo a 131.816 pontos.

Desta maneira, o Ibovespa finaliza setembro com perdas de 3,08%. No ano, a Bolsa acumula prejuízo de 1,77%.

Já o dólar teve alta de 0,19%, indo a R$ 5,447. O dólar turismo ia a R$ 5,69. No acumulado do mês, a moeda americana teve baixa de 3,68%. Em 2024, houve alta de 12,53% (dados Economatica).

O que aconteceu

Diferentemente da semana passada, quando o governo chinês começou a anunciar estímulos para a economia, o Ibovespa não reagiu bem. Câmbio e a Bolsa repercutiram mais o saldo negativo nas contas públicas em agosto. "Tivemos o pregão em alta mais cedo, devido à forte alta do minério de ferro na China, mas os dados sobre as contas públicas e a nova revisão da Selic no Boletim Focus reforçaram a aversão de risco", diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

O setor público consolidado do Brasil teve um déficit primário de R$ 21,4 bilhões em agosto. O saldo negativo nas contas públicas em julho havia sido de R$ 21,3 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (30). O montante mostra os resultados do governo federal, Banco Central, INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), governos estaduais e municipais e empresas estatais (exceto Petrobras e Eletrobras). Os bancos públicos também não entram na conta.

Quando se incorporam os juros da dívida pública na conta, houve déficit de R$ 1,11 trilhão em doze meses. É o equivalente a 9,8% do PIB. "É, sem dúvida, um dado assustador. Isso tudo sem contar os R$ 40 bilhões que estão fora do arcabouço por conta da tragédia no Rio Grande do Sul", diz economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.

Preocupação com a inflação

Quanto mais o governo gasta além do que arrecada, mais pressionada fica a inflação. Ou seja, menos o real passa a valer. E isso deve continuar acontecendo no curto prazo, segundo prevê o Goldman Sachs. O banco americano publicou que o saldo primário consolidado do governo deve continuar no vermelho, uma vez que para sair dessa situação, seria preciso ter "superávits fiscais primários estruturais acima de 2% do PIB". "Tal resultado é altamente improvável no curto prazo", divulgou o banco.

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Além dos gastos públicos, a seca histórica também contribui para o aumento da inflação. No fim da tarde da sexta-feira (27), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha nível 2. É o maior patamar de cobrança adicional desde abril de 2022, quando a bandeira "escassez hídrica" estava em vigor. A partir de amanhã, terça-feira (1), serão cobrados R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Anteriormente, no patamar 1, o custo extra era de R$ 4,46 a cada 100 kWh.

Com isso, calcula-se uma alta de 0,21 ponto percentual no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro. Inflação é ruim para os consumidores, para a Bolsa e para os investimentos. Todos saem perdendo.

Por isso, os cerca de 100 economistas consultados pelo Boletim Focus passaram a projetar uma elevação maior da taxa básica de juros neste ano. A previsão do mercado passou a ser de dois aumentos de 0,50 ponto percentual na taxa Selic nas reuniões de novembro e de dezembro deste ano.

China impulsiona Bolsas

As medidas chinesas para impulsionar a economia alavancaram as Bolsas em todo o mundo. Chegou a dar força ao Ibovespa no começo do pregão desta segunda, mas o impulso não conseguiu segurar o índice no positivo.

Neste domingo (29), a China divulgou que vai cortar as taxas das hipotecas imobiliárias. Assim, proprietários de imóveis poderão renegociar seus contratos.

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Antes do pacote, a atividade da China mostrava contração. O PMI composto (indicador econômico que avalia a atividade de serviços e da indústria) enfraqueceu de 51,2 para 50,3 de agosto para setembro, dado divulgado nesta madrugada.

A China é o maior consumidor das exportações do Brasil. Quando a economia do país não anda, ele compra menos produtos brasileiros e entram menos dólares aqui.

Queda

Uma das maiores quedas do dia na Bolsa foi a das ações da rede de varejo Assaí (ASAI3). Os papéis tiveram baixa de 7,51%, indo para R$ 7,51 (conforme dados preliminares), depois que a Receita Federal arrolou R$ 1,265 bilhão em bens da rede. O arrolamento ocorre para que, caso o bem seja transferido para outra pessoa ou CNPJ, a Receita tenha conhecimento da transação. A empresa de atacarejo é investigada por existência de contingências tributárias do Grupo Pão de Açúcar, que foi dono do Assaí até 2020.

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