Farmacêuticas: Proposta de fusão é ousada e pega Hypera em momento frágil

O momento da proposta da EMS para fusão com a Hypera chamou a atenção e pegou o setor de surpresa. A proposta chegou em um período delicado para a Hypera, dona do Buscopan. Antes de anunciado o interesse da EMS, a Hypera havia acabado de divulgar problemas com capital de giro. A ação chegou a cair 17% nesta segunda-feira (21). Se concretizado, o acordo pode criar a maior farmacêutica da América Latina.

Proposta foi ousada

Divulgação pegou setor de surpresa. A proposta não era esperada por atores do setor farmacêutico e foi considerada ousada. "Foi um passo ousado, que pegou a Hypera em um momento de fragilidade, um oportunismo inteligente", disse uma fonte do setor.

Jogada pode não agradar dono da Hypera. O mercado espera agora para saber se a ousadia da proposta vai agradar ao conselho de administração da Hypera. A farmacêutica é controlada pelo empresário João Alves de Queiroz Filho, conhecido como Júnior.

Fusão pode demorar a sair. Se a conversa evoluir, há a dificuldade de unir uma empresa de capital aberto a uma empresa de capital fechado, com graus de transparência diferentes.

Podem ocorrer ainda entraves no Cade. As duas empresas são fortes no segmento de genéricos e o órgão pode entender que há sobreposições em seus campos de atuação.

Hypera em momento frágil

Números divulgados pela Hypera deixaram investidores apreensivos e derrubaram a ação. Na sexta-feira (18), a Hypera divulgou uma mudança de estratégia, com redução do prazo de pagamento concedido aos clientes, a fim de melhorar a situação de seu capital de giro. A mudança levará a uma redução no lucro no curto prazo.

Meta é ter menor risco de crédito em cenário de juros ainda altos. Um dos efeitos da redução do prazo de pagamento aos clientes será a redução de contas a receber, o que leva a um menor risco de crédito para a farmacêutica, em um cenário de juros ainda altos.

Estratégia é considerada agressiva. Considerado pela próprio presidente-executivo da Hypera, Breno de Oliveira, como uma "estratégia bastante agressiva" da companhia, a expectativa é que o plano gere ganhos para os acionistas no médio a longo prazos.

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Resultados abaixo do esperado

O resultado do terceiro trimestre veio pior que o esperado. A Hypera também divulgou dados preliminares do seu terceiro trimestre, com receita de R$ 1,9 bilhão e lucro líquido de cerca de R$ 370 milhões para o período.

Os números vieram abaixo do esperado por analistas. Receita e lucro ficaram respectivamente 15% e 19% abaixo do esperado por analistas do Itaú BBA. O BTG Pactual destacou que "a empresa não detalhou as razões para um terceiro trimestre tão pior que o consenso".

A divulgação assustou os investidores. O Itaú BBA reduziu suas expectativas para a ação em 2025, de R$ 37 para R$ 29. Em avaliação preliminar, o BTG Pactual apontou uma redução nas previsões de lucro entre 10% e 15%.

A sensibilidade do mercado à dinâmica de curto prazo fez com que investidores ficassem menos propensos a pagar em adiantado por potenciais ganhos no longo prazo.
Itaú BBA em relatório sobre a Hypera

A proposta da EMS

Proposta da EMS chegou em meio à queda das ações. A proposta foi divulgada na segunda-feira (21) algumas horas após uma teleconferência da direção da Hypera para tratar da mudança de estratégia anunciada pela empresa.

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EMS diz que fusão ajudará Hypera a implementar sua nova estratégia. Na carta enviada à direção da concorrente, a EMS cita as mudanças divulgadas pela Hypera, e diz que a combinação de negócios "acelera a implementação das medidas de otimização do capital de giro" da concorrente.

A integração das operações permitirá à Hypera ajustar de forma mais rápida os níveis de estoque dos seus clientes, minimizando o impacto negativo temporário nas vendas resultante da redução dos prazos de pagamento.
EMS em carta à Hypera

Se concretizada, a fusão dará origem a uma empresa de R$ 16 bilhões de receita. A companhia resultante pode ser a maior farmacêutica da América Latina. A proposta envolve uma oferta por até 20% das ações da companhia ao preço de R$ 30 o papel.

As duas estão entre as maiores farmacêuticas brasileiras. A Hypera é dona de medicamentos como Buscopan, Engov Coristina e Neosaldina. A EMS é líder no segmento de genéricos e também é dona de marcas como Gerovital, Lacday e Energil C.

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