Por que o Rio tem o maior desemprego entre as regiões Sul e Sudeste?

A menor taxa de desemprego da história no Brasil para o terceiro trimestre não é difundida entre todo o território nacional. Dono do segundo maior PIB (Produto Interno Bruto) nacional, o Rio de Janeiro amarga a maior taxa de desocupação entre as unidades da federação do Sul/Sudeste e a quarta pior do país.

O que aconteceu

Rio de Janeiro tem o quinto maior desemprego do Brasil. A taxa de desocupação no estado fechou o terceiro trimestre em 8,5%, patamar 2,1 ponto percentual maior do que a média nacional. Conforme os dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o nível é menor apenas do que os apurados em Pernambuco (10,5%), Bahia (9,7%), Distrito Federal (8,8%) e Rio Grande do Norte (8,8%).

Estado tem 774 mil trabalhadores em busca de emprego. O número revelado pela Pnad Continua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) representa uma redução de 104 mil profissionais na procura sem sucesso por uma vaga entre o segundo e o terceiro trimestre. Com a queda, o total de desocupados no Rio de Janeiro é o menor desde o quarto trimestre de 2015.

O que explica a situação

Cenário é justificado por entraves sucessivos no estado. Os economistas consultados classificam o cenário adverso enfrentado pelo mercado de trabalho do Rio de Janeiro como resultado das crises políticas vividas pelo estado nos últimos anos. Contribuem negativamente o fim de obras para a Copa de 2016 e as Olimpíadas e a variação do preço do petróleo. "O Rio sofreu uma tempestade perfeita nos últimos anos", afirma Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

Inúmeras trocas de governantes prejudicaram o Rio. Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec RJ, classifica as mudanças no Palácio Guanabara, causadas por sucessivos casos de corrupção, como letais ao mercado de trabalho. "Isso sugere uma falta de continuidade de políticas públicas no estado. Você tem medidas que são modificadas pela troca de governantes, que estão envoltos em denúncias graves de corrupção, o que cria uma dificuldade regional", avalia.

Copa e Olimpíada foram marcos importantes. Goulart avalia que as obras para os dois eventos esportivos refletiram no melhor momento econômico da história do Rio de Janeiro. "Naquela época, a construção civil permaneceu extremamente aquecida e observamos um ótimo desempenho do mercado de trabalho", afirma ele.

Estado segue dependente dos royalties de petróleo. Segundo Goulart, a receita gerada a partir da compensação financeira para a exploração, desenvolvimento e produção de petróleo equivale a entre 20% e 25% do Orçamento estado, fator afetado pela queda do preço do combustível no mercado internacional. "O governo não tem nenhum controle sobre a receita de royalties, que depende da variação de preço do petróleo e da taxa de câmbio."

Royalties estão comprometidos com a quitação de dívidas. Braga explica que a discussão do plano de recuperação fiscal do estado trava a utilização das receitas obtidas pela produção de petróleo. "Os royalties estão sempre comprometidos com pagamento de dívidas e a manutenção da máquina pública, impedindo os investimentos para a geração de empregos", observa o professor.

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Quando a gente coloca todos os ingredientes em uma balança, percebemos que o Rio de Janeiro sofreu bem mais do que o Brasil.
Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan

Ambiente evolui positivamente

Dados mostram melhora do mercado de trabalho fluminense. Apesar de ainda figurar com o desemprego acima da média nacional de 6,4%, a taxa do estado do Rio de Janeiro recuou 0,9 ponto percentual entre julho e setembro. No mercado formal, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram o Rio como o quarto estado que mais contratou em 2024, com 139.378 novos postos com carteira assinada.

Goulart avalia que o estado caminha para a normalidade. "O mercado de trabalho tem melhorado muito, mas é preciso entender que o ponto de partida era muito baixo", avalia o economista da Firjan, que prevê um período ainda longo até a volta do Rio de Janeiro aos tempos áureos. "Entendemos que o ambiente é de melhora, mas o Rio de Janeiro sofreu muito", diz ele.

Se for comparar o tamanho do mercado de trabalho da construção civil que existia em 2014 com o atual, continuamos bem distante e, provavelmente, ainda vai demorar muito para recuperar aquele nível, porque era um período com investimentos fora do padrão.
Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan

Insegurança política ainda é entrave para o estado. Braga destaca a necessidade de medidas para abrir espaço para o ingresso dos mais jovens no mercado de trabalho, força de trabalho que sofre devido à baixa qualificação. "As políticas públicas deveriam focar na formação e na educação dos jovens. Esse é o caminho para atacar o desemprego, porque em momentos como o atual, no qual a economia tem a necessidade de contratação, não são encontrados profissionais com a formação mínima adequada", afirma.

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Qual é a situação no Brasil

Dez estados operam no menor desemprego em 12 anos. Além do Brasil, que figura com a menor taxa de desemprego da série história do IBGE (6,4%), o cenário é acompanhado por Rondônia (2,1%), Mato Grosso (2,3%), Espírito Santo (4,1%), Minas Gerais (5%), São Paulo (6%), Alagoas (7,7%), Paraíba (7,8%), Amapá (8,3%) e Sergipe (8,4%). No Ceará, a taxa de 6,7% é igual àquela atingida nos últimos três meses de 2014.

Resultados refletem recorde de profissionais ocupados. Os dados da Pnad são acompanhados pelo total de 53,3 milhões de empregados do setor privado, com os maiores saldos de profissionais com (39 milhões) e sem carteira de trabalho (14,3 milhões). No setor público, o número atingiu o recorde com 12,8 milhões de trabalhadores.

Cerca de 7 milhões ainda buscam por nova oportunidade. O contingente é o menor desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. Conforme o IBGE, o total representa uma queda de 7,2% ante o segundo trimestre (menos 541 mil na busca por trabalho) e de 15,8% (menos 1,3 milhão) frente ao mesmo período do ano passado.

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