Câmbio acumula queda de 5,2% desde posse de Trump, mas trajetória é incerta

"Deus inventou o câmbio para arruinar a vida dos economistas". A frase já usada por diversos especialistas, incluindo o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, realça o desafio de prever a taxa de câmbio.

É o caso do dólar este ano. Desde a posse de Trump, a moeda caiu 5,2%. Mas a queda não foi contínua. Na última semana, a moeda desvalorizou 0,81%. Já no acumulado do último mês, valorizou 0,82%. Esse movimento errático levanta dúvidas sobre o que esperar para o futuro da cotação do dólar em relação ao real.

O que aconteceu

Após eleição de Trump, dólar apresentou tendência de queda. O pico da cotação, de R$ 6,26, foi atingido em dezembro. Desde então, a moeda passou por sucessivas quedas. No último pregão, o dólar encerrou cotado a R$ 5,74.

Mas especialistas acham difícil de prever o que vai acontecer a partir de agora com o câmbio. Há tanto fatores que podem fazer com que a moeda continue desvalorizando. Quanto outros fatores que podem gerar o movimento contrário, de valorização. "As medidas comerciais de Trump aumentaram a incerteza nos mercados financeiros", diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

No curto prazo, vaivém nas falas e políticas de Trump geram volatilidade no dólar. Mercado reage rápido às declarações, o que dificulta ainda mais fazer previsões sobre o câmbio. É o caso, por exemplo, da imposição de tarifas a parceiros comerciais, seguidas de recuos de Trump nessas decisões.

Já no longo prazo, tarifas impostas por Trump podem gerar guerra comercial e deixar o dólar mais barato no Brasil. Países afetados, como Canadá, México e China, podem buscar novos parceiros comerciais, como o próprio Brasil, impulsionando a entrada de dólares no país. Com mais dólares em circulação, o câmbio fica mais baixo.

A inflação nos EUA, por outro lado, pode fazer o dólar subir no Brasil. A imposição de tarifas sobre produtos importados reduz a oferta no mercado americano, tornando-os mais caros e pressionando a inflação para cima. Para conter a alta dos preços, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) pode elevar os juros. Assim, os investimentos em títulos do governo americano tornam-se mais rentáveis, atraindo capital estrangeiro. Isso aumenta a demanda por dólares, valorizando a moeda em relação a outras, como o real.

Outro fator que pode interferir na cotação é a política de juros americana. Se os juros altos não freiam a inflação, investidores podem perder a confiança na economia dos EUA e buscar alternativas em países com inflação mais controlada. Além disso, se outros países também elevarem suas taxas de juros, a atratividade dos EUA diminui. Nesse caso, o impacto sobre o dólar pode ser menor do que o previsto ou até contrário ao esperado.

Já do lado brasileiro, Banco Central do Brasil pode intervir para baixar a cotação do dólar. Quando há forte saída de dólares do país, o BC pode realizar leilões da moeda para conter a desvalorização do real. A medida tem efeito temporário, mas não reverte a tendência se houver pressão contínua no mercado. O mercado financeiro também permanece de olho nas políticas econômicas do governo Lula, no cumprimento do arcabouço fiscal e nas declarações de ministros e do presidente.

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[A cotação do] dólar depende do que está acontecendo na política dos Estados Unidos. Então, a gente pode estar fazendo tudo certo no Brasil, e pode não adiantar nada.
João Branco, professor de economia do curso de administração da ESPM

Se houver um aumento significativo nas barreiras comerciais entre Brasil e EUA, investidores estrangeiros podem repensar sua presença no país [Brasil], optando por mercados com maior previsibilidade econômica.
Marcelo Costa Censoni Filho, sócio do Censoni Advogados Associados e especialista em Direito Tributário

Difícil de prever, mas fácil de explicar

O que é a taxa de câmbio? O dólar, assim como qualquer outro produto, varia de preço com base na oferta e demanda. Se a quantidade de dólares disponíveis no Brasil diminui, ele fica mais caro (o câmbio sobe). Quando há mais dólares disponíveis, a moeda fica mais barata (o câmbio cai).

Dólar é moeda de referência no comércio global. Em vez de realizar conversões diretas entre as moedas de diferentes países, como o real e a libra, os produtos são cotados em dólares. Esse sistema de conversão é organizado pelo Swift, uma rede global que facilita transações financeiras entre países.

Perda de espaço do dólar independente de Trump. A redução da dependência do dólar no comércio global não é um fenômeno novo, mas sim um movimento gradual, sem relação direta com a administração de Donald Trump.

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