Galípolo diz que impacto do consignado é incerto, mas não contraria BC
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As políticas de liberação de crédito do governo federal, como o programa Crédito do Trabalhador, não vão contra a estratégia do Banco Central para conter a inflação, afirmou o presidente da instituição, Gabriel Galípolo.
Segundo ele, apesar de o consignado para CLTs e MEIs não estar contemplado nas projeções do BC, a medida tem caráter estrutural e busca substituir dívidas caras por alternativas mais acessíveis.
O que aconteceu
O impacto do novo consignado ainda é incerto. O presidente do Banco Central afirmou que as estimativas sobre os efeitos da medida variam e que há dúvidas sobre sua real influência no crédito. O principal questionamento é se haverá um impulso novo na economia ou apenas uma substituição de dívidas antigas por novas.
O Banco Central ainda não incorporou o consignado em suas projeções. Segundo Galípolo, o programa está em fase de consolidação, e seu impacto precisa ser melhor compreendido. Para ele, a iniciativa tem um caráter mais estrutural do que conjuntural, alinhando-se a uma agenda antiga de substituição de empréstimos de alto custo por opções mais acessíveis.
O uso do crédito consignado deve ser planejado. O presidente do BC alertou que esse tipo de financiamento muitas vezes é tratado como uma extensão da renda disponível, o que pode levar a um uso inadequado. A ideia é que ele substitua dívidas caras por linhas de crédito mais seguras e com garantias.
A medida não está diretamente ligada ao ciclo da política monetária. Galípolo argumentou que o consignado, assim como mudanças no Imposto de Renda, são medidas estruturais que não dialogam diretamente com o momento atual da política monetária. A prioridade é oferecer alternativas que permitam financiamentos mais planejados e acessíveis.
O impacto da elevação dos juros pode ser reduzido pelas medidas do governo. Segundo a economista e professora do Insper Juliana Inhasz, enquanto juros mais altos desestimulam o consumo, o incentivo ao crédito tem o efeito contrário, dificultando a queda da inflação. Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, lembra, no entanto, que algumas iniciativas não visam necessariamente aquecer a economia. "É o caso da isenção do IR, que tem um componente importante de distribuição de renda e justiça social e econômica", diz.
O Brasil mantém atividade econômica dinâmica mesmo com juros elevados. O presidente do Banco Central destacou o estranhamento de economistas internacionais diante da resiliência da economia brasileira, apesar das altas taxas de juros. Segundo ele, enquanto em outros países esse nível de juros seria altamente contracionista, no Brasil a política monetária exige doses mais intensas para surtir efeito. Galípolo ressaltou que a normalização dessa dinâmica é um desafio de longo prazo e que não há uma solução única para a questão.
Como está a inflação
O IPCA-15 de março mostrou desaceleração em relação a fevereiro. A prévia da inflação registrou alta de 0,64% no mês, após o avanço de 1,23% em fevereiro. No acumulado em 12 meses, o índice atingiu 5,26%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado ficou abaixo das projeções do mercado. A expectativa era de um aumento de 0,69% para o IPCA-15 de março, mas o índice veio menor, o que pode levar a revisões nas projeções futuras de inflação.
Todos os grupos de produtos e serviços registraram variação positiva no mês. Alimentação e Bebidas tiveram alta de 1,09%, enquanto Transportes subiram 0,92%, sendo os principais responsáveis pelo resultado do IPCA-15.
A inflação de serviços segue como ponto de atenção para os economistas. Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research e Lucas Barbosa, economista da AZ Quest ressaltam a aceleração e os níveis elevados desse componente, o que preocupa o Banco Central. Já Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital observa que, apesar da preocupação, a inflação de serviços no IPCA-15 de março veio abaixo do esperado, influenciada por itens como seguros de veículos, aluguel e condomínio, o que foi bem recebido pelo mercado.
A dinâmica da inflação de serviços será determinante para a política monetária. Os três economistas concordam que o comportamento desse setor pode influenciar decisões futuras do Banco Central.
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