IPCA
0,83 Mai.2024
Topo

Lucro da Petrobras despenca quase 90% no 2º trimestre, a R$531 mi

Por Marta Nogueira e Roberto Samora
Imagem: Por Marta Nogueira e Roberto Samora

06/08/2015 19h21

Por Marta Nogueira e Roberto Samora

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras anunciou nesta quinta-feira queda de 89,3 por cento no lucro líquido do segundo trimestre na comparação anual, em grande parte devido ao lançamento de eventos não recorrentes, como dívidas tributárias, em um momento em que a empresa afetada por um escândalo de corrupção busca maior credibilidade do mercado e previsibilidade nos resultados futuros.

O lucro líquido da empresa entre abril e junho foi de 531 milhões de reais, impactado principalmente por redução no valor de ativos (impairment), além de lançamento de pagamento e provisões de dívidas tributárias relativa ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Apesar de o lucro ter despencado ante o mesmo período do ano passado, os executivos da companhia se mostraram bastante satisfeitos com o resultado operacional, que foi robusto.

"Gostaria de frisar que o lucro gerencial da companhia foi ótimo", afirmou o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, em entrevista a jornalistas, após a divulgação ao mercado. Ele creditou o "lucro contábil tão pequeno" ao pagamento e provisão para a dívida tributária, além do impairment.

A petroleira pagou no segundo trimestre uma dívida tributária de 1,6 bilhão de reais e provisionou outros 2,6 bilhões de reais para outras três ações tributárias, que já estão em fase de julgamento.

Segundo Bendine, 2015 ainda é um ano de ajustes e a empresa está trabalhando para enfrentar passivos tributários para ter uma maior previsibilidade dos resultados no futuro.

"A empresa possui passivo tributário, nós queremos enfrentá-lo, não podemos mais ficar nessa situação de a cada momento ficar esperando decisão de julgamentos em relação a esse enorme passivo tributário que a empresa tem", afirmou.

A empresa ainda registrou, no segundo trimestre, impairment de ativos de 1,283 bilhão nas áreas de Gás e Energia, Abastecimento, e Exploração & Produção, devido à exclusão de projetos da carteira de investimentos contemplada no Plano de Negócios e Gestão de 2015 a 2019.

Do montante do impairment, segundo Bendine, a maior parte se refere à "hibernação por prazo indeterminado" da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 5, em Uberaba, que sofreu uma baixa contábil total de 580 milhões de reais. Apenas 30 por cento da obra foi realizada até agora, em meio a diversos atrasos.

Já a área de Exploração e Produção teve uma baixa contábil de 245 milhões de reais, sendo que a maior parte relativa à interrupção de atividades exploratórias nos Estados Unidos, além do desinvestimento dos campos de Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos, vendidos para a petroleira PetroRio.

A empresa ainda teve no período resultado financeiro líquido negativo de 6,05 bilhões de reais, com peso da variação cambial na dívida e o reconhecimento de juros sobre o débito tributário, entre outros.

RESULTADO OPERACIONAL

O presidente da Petrobras disse que os números operacionais mostram o trabalho da nova gestão.

"Estamos muito satisfeitos e pode ser que o número final não mostre grandiosidade da companhia, mas estamos satisfeitos porque não só o que nos propomos fazer, temos cumprido... o resultado operacional da companhia está atendendo todas as expectativas", destacou Bendine, explicando que, se não fosse os três eventos recorrentes, o resultado final seria de quase 6 bilhões de reais, "que a gente acha um belíssimo resultado".

O lucro ajustado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) somou 19,771 bilhões de reais de abril a junho de 2015, alta de 21,7 por cento sobre um ano antes.

O endividamento total da companhia em 30 de junho chegava a 415,5 bilhões de reais, crescimento de 18 por cento ante o registrado no final do ano passado, enquanto o indicador dívida líquida/Ebitda ajustado recuou ligeiramente para 4,64 vezes, ante 4,77 vezes ao fim de 2014.

PRINCIPAIS NEGÓCIOS

A receita total de vendas da Petrobras somou 79,9 bilhões de reais, alta de 8 por cento ante o primeiro trimestre, mas uma queda na comparação com os 82,3 bilhões de reais do mesmo período do ano passado. Houve redução no volume de vendas de diesel e gasolina, os principais produtos da empresa, em meio à menor demanda interna, afetada pela crise econômica.

No caso da gasolina, as vendas da Petrobras caíram também em função da maior concorrência do etanol, que está sendo vendido a preços mais competitivos. Muitas usinas de cana, com sérios problemas financeiros, estão vendendo o produto a preços baixos para fazer caixa, fazendo grande concorrência ao combustível fóssil.

    A divisão de Abastecimento registrou lucro líquido de 5,62 bilhões de reais, queda de 9 por cento ante os três primeiros meses do ano, pelos maiores custos de aquisição/transferência de petróleo em função do aumento das cotações internacionais em relação ao primeiro trimestre.

    No entanto, a empresa conseguiu reverter um prejuízo nessa divisão de quase 4 bilhões de reais registrado no mesmo período do ano passado, quando os preços internacionais do petróleo eram quase o dobro e a companhia realizava importações mais volumosas e caras para atender ao crescente mercado interno de diesel e gasolina, na época.

    A produção de derivados caiu 3,8 por cento ante 2014, com a utilização do parque de refino caindo para 92 por cento, ante 98 por cento no mesmo período do ano passado.

    O segmento de Exploração & Produção, por sua vez, teve lucro no segundo trimestre de 5,527 bilhões de reais, alta de 76 por cento ante o primeiro trimestre, com o registro maiores preços de venda de petróleo. Já na comparação com o período de abril a junho de 2014, o resultado líquido de E&P caiu quase pela metade, apesar de um aumento na produção de petróleo e gás no Brasil de 8 por cento, para 2,57 milhões de barris de óleo equivalente/dia, com a Petrobras vendendo a commodity a menores valores que no ano passado.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)