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ENTREVISTA-ONS vê geração de Belo Monte limitada por breve período devido a atraso em linha

15/03/2017 17h22

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, deverá ter a geração limitada por um breve período entre o final de 2017 e fevereiro de 2018, até que esteja concluído um enorme linhão que conectará a usina ao Sudeste, disse à Reuters nesta quarta-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.

O problema deve acontecer porque uma primeira linha para ligar a usina do Rio Xingu ao sistema foi abandonada antes do início das obras pela espanhola Abengoa, que passa por crise financeira, e um segundo linhão a cargo da chinesa State Grid e da Eletrobras só deverá estar pronto no ano que vem.

Belo Monte já iniciou as operações, com a energia sendo enviada para a rede por meio de uma conexão elétrica existente, mas conforme mais máquinas forem acionadas a usina precisaria de novas estruturas de transmissão.

"Continua entrando máquinas e não tem o sistema da Abengoa... durante o período seco, a vazão no Xingu é bem baixa mesmo, então nós só devemos ter restrição no escoamento quando começar a estação chuvosa, no final deste ano, e se o linhão não tiver entrado, o que é previsto para fevereiro. É um período curto em que poderá haver restrição de escoamento", disse Barata.

Ele também afirmou que uma antecipação das obras do linhão para evitar essa restrição está praticamente descartada, apesar de apelos do governo feitos à State Grid e à Eletrobras.

"Essa intenção continua, e temos dito a eles que qualquer dia que você antecipar é bom, porque estará aproveitando o período úmido do Xingu... mas a chance é pequena", disse.

O linhão, em ultra-alta tensão, tem sofrido problemas em alguns trechos por problemas de desempenho da empreiteira chinesa SEPCO1, mas o ONS acredita que é possível recuperar o tempo perdido.

"A impressão é que as coisas estão caminhando bem, não temos ainda no radar possibilidade de atraso desse linhão previsto para fevereiro... a bandeira está verde ainda", disse Barata.

Um terceiro linhão para ligar Belo Monte à rede tem a operação prevista para 2019 e está sob responsabilidade também da State Grid.

NORDESTE SEGUE SECO

O diretor-geral do ONS disse também que as projeções são de que o Nordeste do Brasil siga sob forte seca neste ano, o que deverá exigir uma redução adicional na vazão das hidrelétricas do Rio São Francisco para poupar água nos reservatórios.

A medida visa preservar a água para diversos usos, como o abastecimento humano, e reduz a geração hídrica de energia na região.

Atualmente, as hidrelétricas do São Francisco têm operado com uma vazão de 700 metros cúbicos por segundo (m³/s), ante 1.300 m³/s em condições normais.

"Vamos fazer agora o teste com vazão de 650 m³/s... vamos fazer primeiro um teste, na semana que vem, para ver como fica e depois tomar a decisão", adiantou Barata.

Ele disse que a mudança pode ser implementada e passar a se refletir no preço spot da eletricidade, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), a partir de abril ou maio.

"Se reduzirmos, temos que aumentar a geração térmica. Pode ser que isso implique num preço maior no Nordeste", explicou.

Ele comentou ainda que o ONS avalia uma outra mudança na região com impacto nos preços, que seria a consideração no cálculo do PLD de um nível de geração mínimo a ser mantido no São Francisco para não desequilibrar o sistema.

Como essa questão não é considerada atualmente nos preços, o PLD está hoje em cerca de 246 reais por megawatt-hora no Nordeste, inferior ao custo marginal de operação (CMO) de cerca de 315 reais --o CMO é igual ao custo da última térmica ligada para atender a demanda.

"O efeito é que o PLD vai subir e ficar próximo do CMO, e não tão distante como está hoje", disse Barata. Segundo ele o assunto deve ser alvo de audiência pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) brevemente.

Apesar dos problemas no Nordeste e de um período de chuvas visto como fraco no Sudeste, onde está a maior parte dos reservatórios hídricos, o ONS não trabalha com cenário de risco no suprimento energético.

"Estamos convencidos de que o suprimento está assegurado... mesmo com a retomada da economia, temos recursos suficientes", disse.