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Operação Carne Fraca gera preocupação em compradores de produtos brasileiros, China suspende entrada

20/03/2017 17h28

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - Importantes mercados consumidores de carne brasileira decidiram nesta segunda-feira suspender ou elevar as exigências para a importação do produto, nos primeiros impactos internacionais do escândalo deflagrado pela Polícia Federal na operação Carne Fraca, na sexta-feira, contra frigoríficos do país.

China, União Europeia, Chile e Coreia do Sul emitiram nesta segunda-feira comunicados em que citaram preocupações sobre os produtos brasileiros. A China, principal destino da carne brasileira, com exportações nacionais de 1,75 bilhão de dólares em 2016, informou suspensão da entrada do produto até o Brasil prestar esclarecimentos sobre suposto esquema de fraude em inspeções identificado pela PF.

Diante da repercussão negativa da operação em mercados tão exigentes, representantes da indústria brasileira criticaram a generalização adotada pela PF na divulgação da operação, enquanto as ações das maiores empresas do setor, JBS, BRF, Marfrig e Minerva acumularam perda de perto de 7 bilhões de reais em valor de mercado desde a sexta-feira.

"A generalização é um caos, não pode acontecer... destrói a imagem do país", afirmou a jornalistas nesta segunda-feira o presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Ele disse ainda que houve bastante questionamentos de representantes de países importadores sobre as notícias, e que esperava não perder todo o esforço para abrir mercados para a carne brasileira.

Já o presidente da Associação Brasileira das Indústrias exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, acrescentou que "essa crise desnecessária vem em um momento em que se tinha uma perspectiva de recuperação (do setor)" após um 2016 marcado por fatores como a alta no preço de grãos que elevou o custo das empresas de carne.

No início da tarde, o ministério da Agricultura do Brasil disse que a União Europeia não tomará nenhuma medida adicional em relação à carne brasileira além da suspensão já tomada pelo Brasil de quatro plantas listadas entre as 21 sob investigação.

De acordo com o ministério, as unidades suspensas pela UE são uma da BRF localizada em Mineiros (GO), duas da Peccin Agro Industrial em Curitiba (PR) e Jaraguá do Sul (SC) e unidade da Seara, do grupo JBS, em Lapa (PR).

Na visão do analista do analista do Credit Suisse Victor Saragiotto, as notícias sobre a preocupação dos mercados importadores após o escândalo mostra que o trabalho do Brasil nos últimos 4 a 5 anos para elevar o número de acordos de comércio internacional pode sofrer retrocesso temporário.

"Foram necessários anos para que o Brasil retirasse a suspeita das autoridades internacionais no mercado global de proteínas, e até mesmo em um cenário onde todas as questões sanitárias apontadas pela nossa Polícia Federal fossem descartadas a suspeita poderia ser suficiente para comprometer temporariamente a aceitação da proteína brasileira no mundo inteiro", afirmou o analista em relatório a clientes sobre o anúncio chinês.

A visão de que houve exagero de investidores na digestão da operação da PF foi citada pelo analista do Santander Brasil Ronaldo Kasinsky, que avaliou que BRF e JBS podem apresentar pontos de entrada convincentes após as fortes perdas sofridas pelas ações com o escândalo.

"Nós esperamos que ambas as ações se recuperem quando uma mentalidade mais racional prevalecer, dado que o risco de reputação deve ser diluído no longo prazo e que os riscos sanitários são insignificantes", afirmou em relatório. "No entanto, antecipamos volatilidade adicional adiante, com os mercados globais reagindo às notícias, potencialmente impondo proibições às exportações brasileiras de carne".

A BRF disse que não recebeu nenhuma notificação oficial das autoridades brasileiras ou estrangeiras a respeito da suspensão de suas fábricas por países com os quais mantém relações comerciais. A JBS não se manifestou.

A Marfrig reiterou que não foi alvo da operação e que apenas 3 por cento do faturamento total do grupo são geradas por vendas à China e ao Chile. "Caso a suspensão das exportações para esses mercados continue, a Marfrig tem condições de atendê-los especialmente por meio de suas plantas do Uruguai e Argentina", afirmou a empresa.

A Reuters não conseguiu entrar em contato com a Peccin. Em nota em seu site na sexta-feira, a Peccin disse que repudiava as falsas alegações que culminaram com a prisão preventiva de diretores da empresa.

Questionada sobre potenciais medidas a serem tomadas no Brasil, como ordem de recolhimento de produtos em supermercados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que estava avaliando informações da operação da PF para determinar que tipo de ação pode ser necessária. O órgão também disse que está tentando identificar lotes de produtos que eventualmente tenham sido comprometidos.

(Com reportagem adicional de Flavia Bohone em São Paulo e Marcela Ayres em Brasília)