Preços de transportes e alimentos caem em maio e IPCA tem menor alta em 10 anos
Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira ficou abaixo do esperado em maio com queda nos preços de transportes e alimentos, e acumulou em 12 meses o nível mais baixo em 10 anos, o que favorece a continuidade da queda dos juros básicos ainda que a crise política restrinja em parte a ação do Banco Central.
Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,31 por cento depois da alta de 0,14 por cento no mês anterior, porém bem abaixo da expectativas em pesquisa da Reuters de avanço de 0,5 por cento. Foi a taxa mais baixa para maio desde 2007 (0,28 por cento).
Nos 12 meses até maio, o indicador subiu 3,60 por cento, depois de ter alcançado 4,08 por cento até abril. Esse é o nível mais fraco desde maio de 2007 (3,18 por cento) e bem abaixo da meta oficial de 4,5 por cento, com tolerância de 1,5 ponto percentual neste ano e em 2018.
O resultado em 12 meses também frustrou com força as expectativas de avanço 3,79 por cento nessa base de comparação, de acordo com a pesquisa Reuters.
"O movimento geral da inflação é de queda de preços. A demanda está segurando fortemente os preços porque temos 14 milhões de desempregados e safra agrícola histórica", disse a economista do IBGE Eulina Nunes.
ALIMENTOS
Os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que três grupos tiveram queda de preços no mês, com destaque para a de 0,35 por cento de alimentos e bebidas, depois de alta de 0,58 por cento em abril. Esse grupo responde por um quarto das despesas das famílias.
O recuo de preços mais forte foi registrado por Transportes, de 0,42 por cento depois de variação negativa de 0,06 por cento em abril, com a queda de 11,81 por cento nas passagens aéreas. Já os preços de artigos de residência caíram 0,23 por cento, após queda de 0,28 por cento no mês anterior.
Na outra ponta, as contas de energia elétrica subiram 8,98 por cento em maio, após queda em abril de 6,39 por cento devido a descontos aplicados por decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Destacou-se também a menor pressão dos preços de serviços, acompanhados de perto pelo BC para a condução da política monetária, cuja alta desacelerou com força a 0,05 por cento em maio, sobre 0,49 por cento, chegando em 12 meses a 5,62 por cento.
A inflação no Brasil vem em trajetória de queda diante do nível alto de desemprego que limita o consumo, num cenário de recuperação econômica frágil.
Para junho, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou nesta sexta-feira que espera impacto dos reajustes de preços administrados que ajuda na desaceleração, citando combustíveis e bandeira verde para a energia.
"Estima-se que esses reajustes devam reduzir a inflação pelo IPCA de junho em aproximadamente 0,3 ponto percentual. Essas oscilações pontuais não têm implicação relevante para a condução da política monetária", disse ele.
A fraqueza dos preços permite que o BC dê continuidade ao afrouxamento monetário atual --a pesquisa Focus aponta a Selic a 8,5 por cento no final do ano--, ainda que a crise política pela qual o Brasil atravessa contenha o ritmo de cortes da taxa básica Selic.
No final do mês passado o BC reduziu a taxa de juros em 1 ponto percentual, a 10,25 por cento, mas reforçou que a redução moderada do ritmo do afrouxamento deve se mostrar adequada em sua próxima reunião, em julho, devido à crise política.
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