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Minoritários da Petrobras voltaram a ser respeitados, diz conselheiro

24/07/2017 09h09

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Prestes a completar um ano como conselheiro da Petrobras, o representante dos acionistas ordinaristas Marcelo Mesquita afirmou que na gestão de Pedro Parente os minoritários voltaram a ser respeitados e que os tomadores de decisão da empresa agora remam todos na mesma direção.

Apesar de admitir que ainda há incertezas por parte do mercado em relação à Petrobras, Mesquita afirmou que hoje há uma visão muito clara de que a empresa "não é um instrumento de política pública", inclusive porque ela tem investidores e ações listadas em bolsa.

"Neste último ano que eu estive lá, vi a empresa como um grande transatlântico que mudou de direção... foi na direção da eficiência, de aumentar o lucro para os acionistas, inclusive para o governo. O Brasil é um país pobre, que precisa de dividendos", disse Mesquita, ao receber a Reuters em seu escritório no Rio de Janeiro.

Mesquita é um dos dez membros que formam o Conselho de Administração da Petrobras. Há ainda sete indicados pelo governo federal, um por acionistas minoritários preferencialistas e um por funcionários da estatal. Ele assumiu o cargo em agosto de 2016, ao ocupar a vaga de Walter Mendes, que deixou o posto para assumir o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.

As declarações do executivo, que também é sócio fundador da gestora Leblon Equities, seriam quase impossíveis há cerca de alguns anos, quando conselheiros que representavam minoritários travavam verdadeiras batalhas em reuniões do colegiado, que incluíam até mesmo ministros de Estado e decisões sobre quais seriam os preços de combustíveis.

"No passado, teve durante muito tempo os minoritários brigando e lutando para que a empresa fosse uma empresa... era uma época muito difícil, onde o mercado lutava para ser escutado, ouvido e respeitado pelo controlador da empresa, que é o governo... O Conselho hoje é todo composto por pessoas independentes... o que é inédito na história", afirmou.

Mesquita afirmou que Brasília deu carta branca para que o presidente Pedro Parente tome decisões para resgatar a empresa de uma profunda crise instaurada por um escândalo de corrupção sem precedentes.

Como uma das maiores provas de sua independência, Parente lançou uma nova política de preços de combustíveis pautada no mercado, após anos de controle estatal, dentre outras questões. O executivo também implementou fortes medidas internas que alavancaram os resultados da companhia.

No primeiro trimestre, a Petrobras teve um lucro líquido de 4,45 bilhões de reais, o melhor resultado em dois anos, impulsionado por um desempenho operacional histórico, apesar de uma menor demanda por derivados no mercado interno.

Entregues alguns resultados, Mesquita frisou que cerca de 80 por cento dos analistas que cobrem a Petrobras indicam atualmente a compra de suas ações, contra aproximadamente 20 por cento antes de Parente assumir.

ATUAIS INCERTEZAS

No entanto, o conselheiro pontuou que ainda vê incertezas por parte dos investidores, principalmente relacionadas ao sucesso futuro da empresa para reduzir a dívida e aos entraves internos burocráticos enfrentados pela companhia por ser de economia mista.

A Petrobras tem atualmente um plano de arrecadar cerca de 21 bilhões de dólares no biênio 2017-2018 --preservando e incrementando indicadores de segurança-- para reduzir sua enorme dívida, a maior para uma petroleira no mundo. No entanto, até o momento, nenhum negócio foi fechado.

O conselheiro defende que a empresa venda ativos não essenciais, para focar nas áreas do pré-sal, que em sua visão é onde a empresa consegue ser mais lucrativa no longo prazo. Já em relação à burocracia, ele disse que há um esforço interno muito grande na petroleira para modernizar processos e tornar a empresa mais eficiente.

Segundo o executivo, há um longo caminho pela frente. Mas para ele, a atual gestão já realizou grandes feitos e deixará como legado profundas mudanças para fortalecer a governança, incluindo novas regras no estatuto social.

"Se você tiver um controlador que quer voltar às práticas anteriores, que levaram a empresa ao desastre, a primeira coisa que ele terá que fazer é uma assembleia de acionistas para começar a mudar novamente os estatutos da empresa e isso é um 'red flag' muito forte", afirmou.