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Vale faz planos para crescer após reduzir dívida; avalia investir em energia

18/09/2017 19h52

Por Luciano Costa

BELO HORIZONTE (Reuters) - A mineradora brasileira Vale tem realizado estudos para definir uma nova estratégia de crescimento, que deverá ser colocada em prática assim que a companhia cumprir suas metas atuais de reduzir o endividamento para níveis confortáveis, disse nesta segunda-feira o diretor-executivo e consultor-geral da empresa, Clóvis Torres.

O executivo afirmou ainda que a Vale tem, em separado, avaliado a possibilidade de investir em negócios no setor de eletricidade, como uma possível aquisição de concessões de hidrelétricas da estatal mineira Cemig que a União pretende colocar em leilão ainda neste mês, devido ao vencimento do prazo de exploração dos ativos.

Segundo Torres, a definição de como a Vale buscará garantir sua expansão nos próximos anos tem sido "o principal desafio" do presidente-executivo da companhia, Fabio Schvartsman, que deixou a fabricante de papel e celulose Klabin para assumir em maio o comando da maior produtora global de minério de ferro, em substituição a Murilo Ferreira.

"Estamos aí numa retomada, cumprindo o que prometemos no nosso planejamento estratégico... Vamos cumprir o mais rápido possível, para chegar a níveis confortáveis de endividamento, e a partir daí você tem que ter, sim, uma estratégia de crescimento definida. Para buscar aí, seja diversificação, seja fusões e aquisições, seja crescimento mesmo com novos projetos", disse Torres a jornalistas, após participar de uma conferência do setor de mineração em Belo Horizonte.

"Essa é a mudança que ele (Schvartsman) se propõe a colocar na mesa... É isso que a gente está hoje desenhando", acrescentou, sem antecipar detalhes sobre os estudos.

No final de julho, Schvartsman disse que a meta da Vale de reduzir o endividamento para cerca de 15 bilhões de dólares deve ser atingida apenas durante 2018. No fim do segundo trimestre, a dívida líquida da empresa estava em aproximadamente 22 bilhões de dólares.

ENERGIA

No setor elétrico, onde possui investimentos por meio da Aliança, uma joint venture com a mineira Cemig, a Vale tem interesse em disputar um leilão agendado para 27 de setembro, no qual a União oferecerá a investidores quatro hidrelétricas.

As usinas de Jaguara, Miranda, São Simão e Volta Grande somam 2,9 gigawatts em capacidade instalada de geração, e o governo quer arrecadar ao menos 11 bilhões de reais com a cobrança de bônus de outorga junto aos vencedores da disputa pelos ativos, que pertenciam à Cemig antes do fim dos contratos de concessão.

Segundo Torres, a Vale deverá utilizar a Aliança como veículo de investimento caso decida participar da disputa. Ele disse, no entanto, que a decisão está condicionada a definições em torno de uma disputa jurídica pelos ativos que serão licitados --a Cemig tem buscado negociar um acordo com a União para manter as usinas, além de tentar derrubar ou suspender o leilão na Justiça.

No momento, inclusive, a realização do leilão está suspensa devido a uma liminar, que a Advocacia-Geral da União tem tentado derrubar.

"A Vale está considerando participar, através da Aliança. Mas desde que haja segurança jurídica... precisa isso estar pacificado para que a gente possa ver qual caminho seguir", disse Torres.

O diretor afirmou ainda que a Vale está aberta a outros negócios no setor como forma de reduzir custos com eletricidade.

"Somos grandes consumidores... temos interesse em investir no setor, e aí, seja através da Aliança, seja diretamente. Desde que tenhamos balanço para isso, (para investir) com uma forma confortável de endividamento", afirmou.

COMPETITIVIDADE

O diretor da Vale também teceu críticas às reformas propostas pelo governo para o setor de mineração, enviadas ao Congresso Nacional por meio de três medidas provisórias anunciadas no final de julho.

A principal reclamação foi contra o aumento a partir de novembro na alíquota dos royalties cobrados do minério de ferro, que irão passar para um máximo de até 4 por cento, ante atuais 2 por cento, com a variação atrelada ao preço internacional da commodity.

"Definitivamente, em um momento em que a gente está buscando a competitividade, em que é difícil concorrer com os australianos, a gente tem esse aumento de custo. Passamos seis anos cortando custos (na Vale), e aí estamos em uma situação hoje em que o governo nos trouxe mais custos sem nenhum outro tipo de incentivo a investimentos", apontou Torres.

Ele disse que a Vale está sempre buscando "se reinventar" para conseguir disputar o mercado chinês com os australianos, que possuem vantagens logísticas imensas devido à maior proximidade com os orientais.

Além dos custos, Torres criticou também o que chamou de excesso de burocracia e lentidão nos processos de mineração, especialmente nos licenciamentos ambientais, e disse que não houve grandes avanços com a nova regulamentação proposta pelo governo.

"Não se cria um ambiente de investimento, de facilidades para que o investimento mineral seja feito... perdemos a posição de maior produtor de minério de ferro para a Austrália porque passamos 10 anos sem licenciar uma mina", exemplificou.

GOVERNO REBATE

Apesar das críticas da Vale às mudanças propostas para a regulamentação, o governo defendeu as medidas atualmente em discussão no Congresso, como a mudança em alíquotas de royalties e a criação de uma agência reguladora para o setor.

O secretário de Geologia e Mineração do Ministério de Minas e Energia, Vicente Lôbo, disse que havia uma demanda das empresas por "segurança jurídica e regulatória" que foi atendida com a publicação das regulamentações, que vinham sendo discutidas há anos.

"O novo código, que está agora no Congresso, como fato real, e não como sonho, traz modernidade... e a criação da agência é absolutamente estratégica", afirmou.

Ele disse ainda que a definição das alíquotas sobre a exploração, incluindo uma elevação na alíquota máxima para o minério de ferro, foi "um trabalho absolutamente técnico" e que ouviu as empresas.

"No minério de ferro, basicamente você tem uma tabela progressiva", disse o secretário.

Ele negou que as mudanças tenham sido promovidas com viés arrecadatório, em meio às dificuldades do governo federal para fechar as contas. "Essa indústria tem um papel vital para a economia brasileira, representa 4 por cento do PIB. Não existe uma proposta de tributar o setor."