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Carne e veículos ainda são obstáculos para acordo UE-Mercosul, diz Aloysio Nunes

24/08/2018 16h25

BRASÍLIA (Reuters) - Os negociadores de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul querem bater o martelo até setembro, mas diferenças a respeito da carne bovina, do açúcar e da indústria automotiva podem acabar com essas esperanças, disse o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes.

Questões sobre propriedade intelectual, regras de origem e serviços marítimos também precisam ser resolvidas, disse o chanceler brasileiro em uma entrevista concedida na quinta-feira.

    "A UE não tem respondido aos movimentos que o Mercosul tem feito como nós esperamos", disse.

    O Mercosul solicitou um período de transição de 15 anos para a importação de veículos europeus e peças automotivas, mais do que os 10 anos propostos originalmente, para amenizar o impacto sobre sua indústria. Em troca, ofereceu aceitar uma quota generosa de importações da Europa durante o período de transição que "praticamente anula" seu efeito, argumentou.

    A resistência da UE para dar acesso a algumas exportações de alimentos do Mercosul continua sendo um obstáculo central para a conclusão do acordo, que vem sendo negociado desde 1995.

    Nunes disse não ver nenhuma chance de alterar a quota oferecida pela comissão da UE para a importação de 99 mil toneladas de carne bovina do Mercosul por ano, menos do que a oferta europeia feita em 2004 – mas o bloco sul-americano insiste que essa quota entre livre de tarifas.

    O mesmo vale para o açúcar do Mercosul, que terá uma quota de 150 mil toneladas por ano, mas ainda precisa pagar uma tarifa de 98 euros por tonelada, o que tornará difícil ganhar espaço no competitivo mercado de açúcar europeu, disse Nunes.

    "Se eles nos oferecem uma quota, que seja uma quota para valer, e não uma quota fictícia".

    Nunes disse que o Mercosul, que é formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e é o quarto maior bloco comercial do mundo, ofereceu à UE um grande mercado de consumidores de classe média disposto a comprar produtos europeus.

    Como as negociações comerciais com os Estados Unidos foram interrompidas depois da vitória presidencial de Donald Trump em 2016, a UE fechou acordo comerciais com o Japão e o México, e o Mercosul é o próximo da lista.

    Em termos de redução de tarifas, pode se tratar do pacto comercial mais lucrativo do bloco até hoje, já que a economia pode ser até três vezes maior do que a de acordos com o Canadá e o Japão somados.

    Nunes disse que a separação britânica da UE não terá impacto no acordo UE-Mercosul para além de servir como base para uma futura negociação com o Reino Unido.

    "Boris Johnson me disse, quando era ministro, que o acordo da UE seria o 'padrão mínimo' para um acordo Mercosul-Reino Unido", afirmou Nunes.

    (Por Anthony Boadle e Jake Spring)