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De novo principal alvo em debate, Haddad tem duelos com Ciro e Marina

26/09/2018 20h59

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, foi mais uma vez o alvo principal dos adversários no debate entre presidenciáveis realizado pelo SBT, portal UOL e jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira, tendo embates duros com Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).

Contra Marina, Haddad travou uma disputa sobre a paternidade do governo do presidente Michel Temer. Enquanto a candidata da Rede apontou que Temer foi eleito vice-presidente na chapa encabeçada pela petista Dilma Rousseff, o ex-prefeito de São Paulo lembrou que a adversária apoiou o impeachment de Dilma, colocando-a como uma das responsáveis pela ascensão do emedebista ao poder.

"Me desculpe, mas quem colocou o Temer lá foram vocês", disse Haddad a Marina, após a rival responsabilizar o PT por Temer. "E você (Marina) participou desse movimento", disparou o petista.

Haddad é vice-líder nas pesquisas de intenção de voto, atrás do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que não foi ao debate desta terça, pois segue internado no hospital Albert Einstein se recuperando de duas cirurgias que passou por causa de uma facada que levou no início do mês durante evento de campanha.

"Foram vocês, sim, do PT que se juntaram com o Temer para afundar o Brasil", rebateu Marina.

Já o duelo com Ciro começou mais ameno, no início do debate, quando o pedetista apontou a necessidade de o próximo presidente conhecer a fundo o país, Haddad respondeu então que, quando ministro da Educação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rodou o país ao lado do padrinho político e, por isso, conhece bem o Brasil.

O embate entre os dois, que já declararam amizade mútua publicamente, ficou mais acalorado quando Ciro afirmou que prefere não contar com membros do PT em seu governo, ao responder uma pergunta sobre se teria ministros petistas numa eventual gestão.

"Francamente, se eu puder governar sem o PT, eu prefiro", disse Ciro, responsabilizando o partido rival pela divisão do país, pelo surgimento de Bolsonaro, que ele chamou de "aberração".

Haddad, por sua vez, ao ser indagado sobre suas visitas semanais a Lula na prisão em Curitiba, não perdeu a chance de responder ao presidenciável do PDT.

"Acabo der ver o Ciro Gomes dizer que não pretende governar com o PT, mas poucos meses atrás me convidava para vice-presidente na sua chapa e chamava essa chapa de 'dream team', o time dos sonhos. Não é assim que se faz política, demonizando quem não está junto com você circunstancialmente", rebateu.

Tanto Ciro quanto Marina foram ministros de Lula quando o petista governou o país e ambos eram os que mais herdavam votos do ex-presidente nas pesquisas antes de Haddad entrar oficialmente na corrida presidencial, após Lula ter sua candidatura barrada com base na Lei da Ficha Limpa.

A candidata da Rede em vários momentos buscou sinalizar ao eleitorado feminino, que é majoritário e tem se mostrado refratário ao líder da disputa, Bolsonaro. Ela lembrou por várias vezes que era a única mulher entre os presidenciáveis e que tinha orgulho de representar esta parcela do eleitorado.

Após o debate, Haddad foi indagado por jornalistas sobre os embates com Ciro e Marina e evitou descartar ter o apoio dos dois num eventual segundo turno.

"Essas coisas mudam", disse ele ao comentar a declaração de Ciro de que não gostaria de estar aliado ao PT. "Eu adoro a Marina", respondeu ao ser indagado sobre se o embate com a candidata da Rede inviabilizaria uma aliança futura.

"A DEMOCRACIA É UMA DELÍCIA"

Haddad também teve um duelo duro com o candidato do Podemos, Alvaro Dias, que disse que o PT venceria a "medalha de ouro" na "Olimpíada da mentira e da ficção". O petista rebateu que o rival foi do PSDB e apoiou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Embora não tenha travado duelo direto com Haddad, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, centrou suas baterias contra o PT em alguns momentos do encontro. Ele repetiu a retórica que tem usado na campanha de que é necessário evitar a vitória do petismo, assim como a de Bolsonaro, que ele classificou de "insensatez".

O tucano também buscou vincular Temer, que é altamente impopular, ao PT.

"O Temer é do PT, vice da Dilma. Aliás, duas vezes eleito vice da Dilma", disse Alckmin.

O tucano começou o debate com um duelo mais ríspido com o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que lhe fez uma pergunta sobre educação e lhe perguntou sobre o escândalo da merenda nas escolas paulistas.

"O sentimento do povo nas ruas, Alckmin, é que você é o Sergio Cabral que não está preso", disparou Boulos, em referência ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (MDB), que está preso e já foi condenado em vários casos de corrupção.

O tucano acusou o rival, que é líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), de irresponsável.

"Eu tenho 40 anos de vida pública. Sempre trabalhei, não fui desocupado, não invadi propriedade, não tenho nenhuma condenação", afirmou. "A merenda escolar fomos nós que descobrimos", defendeu-se.

Também presente no debate, o candidato do MDB, Henrique Meirelles manteve o discurso de que foi determinante no crescimento econômico durante o período em que foi presidente do Banco Central no governo Lula.

Ausente no encontro anterior, mas presente no debate desta quarta, Cabo Daciolo (Patriota), disse algumas vezes que "a democracia é uma delícia", em referência a uma frase de Ciro que o ironizou no primeiro encontro entre presidenciáveis em agosto, e manteve sua característica de dar "Glória a Deus" em todas suas intervenções, levando sempre uma bíblia nas mãos.