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Leilão de distribuidora da Eletrobras em Alagoas pode ter mais de um lance

14/12/2018 19h20

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O leilão da distribuidora de energia da Eletrobras em Alagoas, na próxima quarta-feira, deve concluir com sucesso os planos da estatal de deixar totalmente a área de distribuição, e especialistas não descartam que a empresa receba ofertas de mais de um investidor, o que não aconteceu até agora em cinco licitações de privatização de ativos da companhia no setor.

A estatal conseguiu vender neste ano concessionárias no Norte e Nordeste que tinham sido federalizadas entre os anos 1980 e 2000 sob a expectativa de posterior privatização. Esse movimento, no entanto, tardou em função de enorme resistência política.

"A gente sabe que tem três empresas que poderiam ter interesse --a Energisa, a Neoenergia e a Equatorial Energia... não acredito em ter algum diferente desses. Mas com certeza alguma proposta ela receberá. E acho que a gente pode ter concorrência, sim", disse à Reuters a diretora da consultoria Thymos Energia, Thais Prandini.

As distribuidoras, que são fortemente deficitárias, têm sido vendidas pela Eletrobras a um preço simbólico de cerca de 50 mil reais, associado a obrigações de aporte da capital nas companhias e investimentos.

A Eletrobras ainda se comprometeu a assumir dívidas para se livrar das concessionárias --no caso da Amazonas Energia, a mais endividada delas, foram 13,3 bilhões de reais.

"Ou era isso, ou não venderia. Se a Eletrobras não fizesse isso, daqui a dois ou três anos, ao invés de assumir 13 bilhões, ela ia ter que assumir 20 bilhões. É uma bola de neve que vai piorando", afirmou o consultor Erik Rego, diretor da consultoria Excelência Energética.

Mesmo com o baixo preço e a disposição da Eletrobras em assumir passivos, nenhuma das subsidiárias recebeu mais de uma oferta.

A distribuidora do Piauí foi arrematada pela Equatorial, enquanto a Energisa comprou as empresas de Rondônia e Acre e os grupos Oliveira Energia e ATEM ficaram com as empresas de Roraima e Amazonas.

Uma fonte próxima do processo de licitação disse avaliar, no entanto, que a empresa do Alagoas poderia romper esse padrão e receber mais lances, citando os mesmos investidores apontados pela Thymos Energia.

"Teremos disputa e concorrência, essa é a expectativa", disse a fonte, que falou sob a condição de anonimato.

Uma segunda fonte que acompanha o assunto, no entanto, disse que a Neoenergia, controlada pela espanhola Iberdrola, não deve participar do certame.

Procuradas, Equatorial Energia, Energisa e Neoenergia recusaram-se a comentar.

Para a analista de mercado da consultoria Safira Energia, Juliana Hornink, os compradores das empresas terão vida dura, dada a falta de investimentos nos últimos anos, mas ainda assim devem ter melhores resultados que a Eletrobras, uma vez que a estatal não tinha experiência em distribuição de energia e ainda perdeu a capacidade de aportar recursos nas concessionárias.

"Em termos de qualidade, ela não estava conseguindo responder, até se tornou algo meio cíclico. A gente acredita que vai ser benéfico para o consumidor. E para a Eletrobras vai ser super positivo, porque agora ela vai poder se dedicar a geração e transmissão, consegue focar no que ela tem conhecimento", afirmou.

Os investidores interessados no leilão da Ceal deverão apresentar a proposta financeira pela empresa na segunda-feira.

VAI E VEM

A proposta de vender todas distribuidoras da Eletrobras foi colocada sob a mesa pela diretoria da estatal ainda no final do governo Dilma, mas uma decisão sobre o assunto acabou adiada na época, com aprovação apenas para a venda da goiana Celg-G.

O tema, no entanto, foi retomado após o impeachment da presidente e a posse de Michel Temer, em 2016. Temer nomeou para a estatal o ex-presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., que teve como missão levar adiante uma reestruturação da companhia que incluiu também a venda de alguns ativos de geração eólica e de transmissão.

Os planos mais otimistas de Temer chegaram a prever a venda de todas distribuidoras no final de 2017 e até a privatização da Eletrobras como um todo neste ano, mas ações judiciais atrasaram o andamento das vendas dos ativos e a resistência de políticos travou a tramitação no Congresso de um projeto sobre a desestatização integral da companhia.

"O projeto era até mais ambicioso, o projeto original era vender a própria holding Eletrobras. Mas esse ciclo das seis distribuidoras é muito importante... apesar do imbróglio judicial, o resultado foi muito bom", afirmou o especialista em privatizações Fernando Vernalha, da VGP Advogados.

As regras dos leilões de privatização das distribuidoras preveem ainda que a Eletrobras poderá, decorridos seis meses de cada negócio, decidir sobre um possível aumento de sua participação nas empresas para uma fatia de 30 por cento, por meio da conversão da dívida assumida junto às distribuidoras em capital social.

(Por Luciano Costa; reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier no Rio de Janeiro)