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Polícia brasileira desmantela quadrilha de tráfico de mulheres transgênero

14/03/2019 18h07

Por Fabio Teixeira

RIO DE JANEIRO (Thomson Reuters Foundation) - A polícia brasileira desmantelou uma quadrilha de tráfico de pessoas cujas vítimas eram mulheres transgênero. Segundo declaração das autoridades, a quadrilha oferecia arcar com os custos de cirurgias e depois forçava as mulheres a praticarem a prostituição para pagar a dívida.

Pelo menos 38 mulheres transgênero foram encontradas em prostíbulos na cidade de Ribeirão Preto (SP), para onde haviam sido atraídas por traficantes que prometiam pagar pela cirurgia de mudança de sexo.

A polícia também investiga a morte de duas mulheres transgênero. Uma delas pode ter sido assassinada por não ter pago sua dívida. A outra faleceu em decorrência do uso de silicone industrial em uma cirurgia plástica.

“Estamos diante de um clássico caso de escravidão moderna, em que a corrente não é física, mas invisível”, disse o promotor André Menezes. “Estamos diante de um caso de exploração dos sonhos de outra pessoa”.

Os policiais responsáveis pela operação, batizada de “Cinderela”, disseram que as vítimas foram forçadas à prostituição para pagar pela cirurgia ilegal e pelos custos da viagem. Também foram obrigadas a usar drogas.

As mulheres que não conseguiram pagar a dívida sofreram abuso físico e psicológico, segundo os investigadores.

A polícia prendeu cinco pessoas e está procurando outras quatro suspeitas de envolvimento com tráfico humano, trabalho escravo, favorecimento à prostituição e envolvimento com o crime organizado.

Outro homem, que também tem relação com o grupo, já estava preso por suspeita de envolvimento no assassinato de duas pessoas e desaparecimento de três mulheres transgênero, uma das quais é menor de idade.

Segundo a polícia, a quadrilha de traficantes estava em atividade pelo menos desde 2013.

A prostituição não é crime no Brasil, mas a exploração de profissional do sexo é considerada crime. Os transgêneros são frequentemente vítimas de abuso, uma vez que têm dificuldade em encontrar trabalho devido ao preconceito.

“A repulsa que as pessoas têm em relação a elas é muito grande. As pessoas tratam como se tivessem uma doença contagiosa”, disse a promotora Cristiane Sbalqueiro à Thomson Reuters Foundation.

Sbalqueiro afirma que muitas mulheres transgênero assumiram dívidas para financiar sua transição, o que as deixam sem outra opção senão a prostituição.

Fiscais do trabalho dizem que ainda não entrevistaram as mulheres transgênero para determinar o número de vítimas de escravidão moderna.

“A partir dos elementos coletados aqui hoje, vamos determinar quais foram submetidas à escravidão por dívida e quantas foram vítimas de trabalho forçado”, disse o auditor fiscal do trabalho Magno Riga em entrevista coletiva.