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Guedes sugere menor resistência de Bolsonaro sobre privatizar Petrobras

José de Castro

18/04/2019 07h31

SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que não foi "atingido" em sua autonomia no episódio em que o presidente Jair Bolsonaro agiu para evitar alta do preço do diesel pela Petrobras, acrescentando que Bolsonaro "levantou a sobrancelha" sobre o tema de privatizar a petrolífera, num indicativo de menor resistência a essa ideia.

Segundo o ministro, em entrevista à GloboNews na noite de ontem, caminhoneiros dos Estados Unidos e da Europa não pressionam os respectivos governos por causa de aumentos de preços de combustíveis na esteira da valorização do barril do petróleo.

Guedes afirmou ainda que, no meio desse debate, Bolsonaro lhe enviou mensagem destacando maior concorrência no mercado de combustíveis nessas regiões, enquanto no Brasil aparece apenas "uma bandeirinha, a da Petrobras".

"Acho que ele (Bolsonaro) quis dizer alguma coisa com aquilo ali (a mensagem)", disse o ministro, citando que há "cinco bancos, seis empreiteiras, uma produtora de petróleo e refinaria, três distribuidoras de gás. E tem 200 milhões de patos".

Perguntado se o presidente Bolsonaro está mais próximo de concordar com a privatização da Petrobras, Guedes respondeu que não. "Isso seria um salto muito grande." Porém, o ministro admitiu que o presidente considerou essa possibilidade para uma "estatal em particular", sem dar detalhes.

"Estamos preparados para ceder"

O ministro da Economia reconheceu que o texto da reforma da Previdência "realmente" não deveria tratar de idade de aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que o governo "está preparado para ceder em algumas coisas e em outras, não".

Ao mesmo tempo, Guedes admitiu ser "evidente" que recuar em vários pontos --como BPC, regime de capitalização e idade de aposentadoria das mulheres-- "enfraquece" a estratégia da equipe econômica em relação à reforma previdenciária.

Guedes disse que o mercado está "errado" em calcular que a reforma a ser aprovada implicará economia entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões, bem abaixo do valor de cerca de R$ 1 trilhão defendido por ele. "Acho que vai ser substancialmente maior que R$ 600 bilhões, R$ 700 bilhões."

O ministro se disse "absolutamente tranquilo" em relação a riscos de desidratação da matéria.

Para Guedes, o presidente Jair Bolsonaro vai entrar "com mais peso" na articulação pela reforma à medida que "a coisa ganhar velocidade". "Acho que a coordenação política está melhorando."

Medidas "fortes" e "positivas"

O ministro foi questionado sobre o que seria dependência excessiva da reforma da Previdência como catalisador de crescimento para o país e disse que há uma série de medidas "extraordinariamente fortes e positivas", como choque de energia barata e pacto federativo, que estão prontas.

Guedes foi questionado sobre a autonomia do governo para antecipar a Estados e municípios a distribuição de recursos que entrarão no caixa da União após leilão do excedente do pré-sal, já que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dito que a decisão passa pelo Congresso. Na resposta, o ministro foi enfático: "O presidente Rodrigo Maia pode fazer o que ele quiser, porque ele é o presidente da Câmara. Estou dizendo que juridicamente não tem Congresso no contrato."

O ministro disse ainda que acabaria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) se a entidade deixasse o Itamaraty e passasse para o guarda-chuva da Economia. "A Apex é redundante", afirmou.

Por fim, Guedes disse o governo vai criar uma superintendência de controle para rever a governança de fundos de pensão, alguns dos quais afetados por perda de recursos devido à má gestão. Guedes afirmou que a candidata para chefiar a agência é a economista Solange Paiva Vieira, atual superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), vinculada ao ministério.