Bolsonaro pediu para CPMF não entrar na reforma tributária, diz Guedes
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira que o presidente Jair Bolsonaro telefonou para ele do hospital, "entubado", para dizer que não quer a criação de uma nova CPMF.
"Estávamos simulando um imposto de transação financeira, só que o presidente sempre foi contra esse imposto e pediu pra não colocar", afirmou Guedes em entrevista a correspondentes estrangeiros no Rio de Janeiro.
O ministro confirmou que a equipe econômica trabalhava com uma alíquota de 0,4% para o tributo sobre pagamentos, mas, mostrando irritação, afirmou que os números não deveriam ter sido levados a público ainda.
Apesar de reforçar a posição do presidente contrária ao imposto sobre pagamentos, Guedes afirmou que o tributo viabilizaria uma redução do Imposto de Renda, do IVA "e outros".
Segundo Guedes, o ex-secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, exonerado esta semana, já havia pedido para deixar o cargo "inúmeras vezes" por achar que estava atrapalhando o governo.
"Eu dizia: se você tiver que cair um dia que caia junto com o imposto", afirmou Guedes, acrescentando que Cintra é um "homem extraordinário e um parceiro de trabalho".
O ministro reafirmou que a reforma tributária tem como três pilares a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) federal, mudanças no Imposto de Renda e a desoneração da folha de pagamentos.
Ao ser questionado novamente pelos jornalistas sobre a CPMF, o ministro disse que não falaria mais sobre o assunto.
"O último que falou sobre isso foi demitido", afirmou.
Bolsonaro, que está internado em hospital em São Paulo desde sábado e foi submetido a cirurgia, afirmou no Twitter na quarta-feira, após o anúncio da exoneração de Cintra, que "a recriação da CPMF ou aumento da carga tributária estão fora da reforma tributária por determinação do presidente".
CRESCIMENTO
Ao comentar o desempenho da atividade doméstica, Guedes afirmou que, com o avanço das reformas, há chance de o Produto Interno Bruto (PIB) do país crescer até 2,5% em 2020.
"Quem fez o Orçamento do ano passado foi o outro governo, eles botaram (crescimento de) 2,5%, e eu sabia que não ia ser 2,5% porque não fizemos as reformas. Agora, sim, fizemos as reformas e quem sabe ano que vem vai ser 2,5%", disse Guedes.
"Eu por exemplo acho que tem uma boa chance de o país se mover bem ano que vem. (Pode ser crescimento de) 2,5%, pode ser 1%, 1,5%, não sei", ponderou. Para este ano, ele diz não ter certeza se o crescimento será de 0,8% ou 1%.
"Podem nos dar um ano ou dois para consertar a economia?", questionou o ministro.
Economistas projetam um crescimento de 0,87% para 2019 e de 2,07% para o próximo ano, segundo o último relatório Focus do Banco Central com estimativas do mercado.
Guedes afirmou, ainda, que é "fake" a informação de que Bolsonaro quer derrubar a regra do teto de gastos.
"Bolsonaro está 100% fechado comigo no teto de gastos", afirmou o ministro.
No início do mês, Bolsonaro defendeu a preservação do teto de gastos, um dia depois de indicar ser favorável a mudanças na lei, afirmando que ceder nessa questão seria "abrir uma rachadura no casco do transatlântico".
Guedes reafirmou, ainda, que o governo está comprometido com a abertura da economia e, nesse contexto, voltou a dizer que não compactuará com eventuais pressões por uma eventual mudança de rumo do Mercosul no caso de vitória da oposição nas eleições presidenciais argentinas.
"Seja quem for o presidente da Argentina, se quiser abrir o Mercosul estaremos juntos, mas, se quiser o Mercosul como instrumento ideológico para permanecer fechado como foram os últimos 30 anos, não queremos", afirmou.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)
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