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Deterioração da Argentina agrava panorama para balança comercial brasileira, diz AEB

29/11/2019 11h12

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil deve encerrar 2019 com o primeiro déficit comercial com a Argentina em 16 anos, aponta a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que destaca ainda a guerra comercial entre EUA e China, o menor crescimento global e a maior demanda doméstica por importações como fatores a impactar a balança de comércio do país neste ano e no próximo.

A associação, que reúne empresas exportadoras e importadoras, prevê que o Brasil fechará este ano com superávit comercial de 36 bilhões de dólares, saldo que cairia a cerca de 30 bilhões de dólares em 2020. As estimativas já levam em conta a revisão dos dados da exportação para outubro anunciada pelo governo na quinta-feira.

Parte da redução do superávit comercial esperada para 2020 está diretamente ligada à deterioração da economia argentina, que enfrenta uma grave crise fiscal, cambial e financeira, segundo a AEB.

"Temos que torcer para a Argentina melhorar”, disse o presidente da associação, José Augusto de Castro, à Reuters. Sua previsão é que o Brasil fechará este ano com um déficit comercial com o país vizinho em torno de 1 bilhão de dólares -até outubro, o saldo estava negativo em 622 milhões de dólares.

A última vez que essa relação foi deficitária para o Brasil foi em 2003. Em 2018, a relação foi superavitária em quase 4 bilhões de dólares para o Brasil. A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil depois de China e EUA.

“A Argentina precisa de crédito, um dos caminhos é o FMI, mas já disseram que não querem, e o outro caminho seria investimento direto, em que não se prevê nada. Para o país gerar superávit comercial, vai segurar as importações”, avaliou Castro.

Para ele, com a vitória da oposição nas eleições presidenciais argentinas, a pauta comercial do país vizinho se tornará uma incógnita. E o acordo comercial em negociação entre China e Estados Unidos, que prevê a exportação de grandes volumes de produtos agrícolas norte-americanos para o país asiático pode agravar o cenário econômico da Argentina.

“Se a Argentina exportar menos ela terá menos condições de importar produtos. E aí, o Brasil pode ser duplamente afetado. Pelo acordo comercial EUA e China e por limitações da Argentina”, afirmou.

O presidente da AEB destacou que outro impacto sobre o saldo de 2020 é a perspectiva de um crescimento maior da economia brasileira, o que vai fomentar o aumento de importação.

Em relação ao câmbio, Castro afirma que o real mais desvalorizado melhora a rentabilidade dos exportadores, mas não afeta o volume dos embarques.