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Seca na região Sul exigirá acionamento de térmicas ao menos em março, diz ONS

Usina hidrelétrica de Furnas, em São José da Barra (MG) - Paulo Whitaker
Usina hidrelétrica de Furnas, em São José da Barra (MG) Imagem: Paulo Whitaker

Luciano Costa

09/03/2020 18h22

SÃO PAULO (Reuters) - Uma seca que tem sido registrada no Sul do Brasil neste ano levou ao acionamento de mais termelétricas locais no final de semana, e a situação climática na região deve manter térmicas ligadas ao menos neste mês de março, disse à Reuters nesta segunda-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.

A situação difere de outras áreas, como Sudeste e Nordeste, onde estão os maiores reservatórios de hidrelétricas, que têm recuperado seus níveis com chuvas intensas desde o final de janeiro.

A condição da região levou a Agência Nacional de Águas (ANA) a iniciar nesta segunda-feira reuniões do que o órgão chama de "sala de crise" do Sul, para "acompanhar a situação hidrometeorológica desfavorável" local, discutindo medidas para aliviar os impactos da escassez de precipitações.

Na semana passada, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que reúne autoridades e técnicos da área de energia do governo, já havia autorizado "medidas excepcionais" para atender à região, inclusive com acionamento de mais usinas térmicas que o determinado pelos modelos matemáticos que guiam a operação do sistema elétrico.

"É como se fosse uma moeda, tem duas faces. A situação vai muito bem no Sudeste, Nordeste e Norte, e não tão bem no Sul. No Sul, o que tem acontecido é que as frentes frias têm passado 'voando'... estão bastante abaixo da média, e as precipitações são pequenas e rápidas", disse o diretor-geral do ONS.

Ele apontou ainda que não há perspectiva de melhora imediata, o que faz com que o CMSE mantenha um quadro de atenção, que prevê avaliações semanais sobre a situação da oferta da região.

As usinas hídricas do Sul do país estão atualmente com 20,15% da capacidade de armazenamento, contra 45,38% no Sudeste, 65,42% no Nordeste e 57,10% no Norte.

Já as chuvas na região dos lagos das usinas do Sul neste mês foram estimadas pelo ONS em apenas 38% da média histórica, contra 111% no Sudeste e 101% no Nordeste. No Norte, a projeção é de 88%.

Para atender à demanda por energia do Sul e ao mesmo tempo evitar uma piora no quadro de reservatórios local, o ONS tem programado o envio de excedentes de geração do Norte para o Sudeste, que então exporta para apoiar a região.

Também têm sido acionadas em alguns momentos termelétricas adicionais, por motivos de garantia de suprimento energético, como as usinas Jorge Lacerda A, B e C, da Engie Brasil Energia, e Araucária, um empreendimento conjunto entre a paranaense Copel e a estatal Petrobras.

"Pode acontecer de no mês de abril a situação mudar e termos uma recuperação das condições climáticas no Sul. Mas no curto prazo não vemos nenhum sinal de mudança forte", disse Barata.

Ele ressaltou, no entanto, que o nível de precipitações na região tem sido tão baixo que é difícil esperar uma piora.

"Vamos continuar com monitoramento e avaliações semanais no CMSE. E no caso de haver mudança súbita e forte, a gente muda também a operação. Mas é improvável, porque as chuvas estão muito baixas, é muito improvável que a gente passe por uma piora. O mais provável é que em março continue desse jeito e a partir de abril melhore", apontou.

A meta do ONS tem sido levar os reservatórios do Sul para cerca de 30% da capacidade, segundo Barata.

Eventualmente, importações de energia da Argentina e do Uruguai também podem ajudar à atender a região, mas a oferta desses países para envios é limitada porque eles têm enfrentado situação climática semelhante, acrescentou.

QUADRO POSITIVO

O diretor-geral do ONS destacou, no entanto, que o quadro mais delicado no Sul não gera preocupações de atendimento à demanda local e nem quanto ao sistema elétrico brasileiro como um todo.

"O balanço é que a situação hoje é muito melhor do que estava no ano passado, mesmo com essa situação no Sul, e bem melhor que no início do ano", afirmou.

As hidrelétricas do Sudeste, que concentram os maiores reservatórios, têm se recuperado mais recentemente para o melhor nível em anos, após terem começado janeiro de 2020 perto de mínimas históricas vistas em 2015.

Já o Nordeste, segunda região em volume de armazenamento nos lagos, também tem visto importante recuperação das precipitações e deve ter o melhor ano em quase uma década, após temporadas consecutivas de chuvas fortemente abaixo da média, disse Barata.

"Desde 2012 a gente não vê nada parecido com isso. São condições bastante boas na região Nordeste. Tomara que isso seja realmente um processo de reversão (de tendência) e não algo esporádico", afirmou.

Em meio às chuvas mais favoráveis, a elétrica mineira Cemig disse que sua hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, abriu parcialmente as comportas no final de fevereiro para liberar excesso de água, o que não ocorria na usina desde janeiro de 2012.