Socorro do BNDES para aéreas deve chegar em maio após demandas elevadas por recursos
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O apoio do BNDES para o setor aéreo, um dos mais afetados pelas consequências econômicas da pandemia de coronavírus, deve ser viabilizado no mês que vem disseram duas fontes da área econômica do governo, citando que as demandas feitas pelas principais companhias aéreas que operam no país foram elevadas.
O banco já foi procurado pelas três maiores empresas de aviação que atuam no Brasil - Azul, Gol e Latam - mas os pedidos de apoio vieram bem acima das expectativas do banco de fomento, segundo as fontes.
"O governo está engajado em resolver o problema do setor aéreo; é o mais avançado e tende a ser o primeiro a ser beneficiado; os bancos estão sendo chamados para sentar na mesa e negociar e ninguém quer ser dono de empresa, muito menos o governo", disse uma das fontes à Reuters.
"Temos bons indicativos dos bancos para renegociar dívidas, modular a estrutura financeira da operação... Já se falou com as empresas aéreas, elas vieram com um valor um pouco alto (de apoio financeiro). Todos estão deglutindo e refinando o que eles estão pedindo", acrescentou a fonte sem especificar valores.
Procurado, o BNDES não comentou o assunto.
No começo do mês, o presidente-executivo da Gol, Paulo Kakinoff, afirmou que a empresa deveria definir em até duas semanas se aceitaria uma linha de crédito do BNDES. O valor seria de cerca de até 3 bilhões de reais.
Segundo as fontes, o apoio às empresas aéreas virá na forma de aquisição de debêntures conversíveis em ações. No entanto, o BNDES já decidiu que não vai assumir sozinho a responsabilidade de socorrer empresas de qualquer setor e tem liderado conversas com bancos privados, credores, empresas de leasing e outras partes envolvidas na crise das companhias aéreas, que deixaram praticamente todos seus aviões em solo devido às quarentenas decretadas contra o coronavírus.
Para socorrer as empresas, o BNDES está exigindo doses de colaboração das próprias companhias como corte no pagamento de bônus para executivos, redução no nível de investimentos no pós crise, suspensão de dividendos e até diluição do capital, um dos pontos citados por Kakinoff na ocasião como ainda não resolvidos.
"As próprias empresas têm que repensar os recursos que elas têm para operar. A aérea não vai operar cheia depois da pandemia e a necessidade de caixa será menor. O cheque do BNDES diminui", disse a primeira fonte. "Ninguém pode achar que vai sair ileso, sem arranhões ou sem sua cota de sacrifício de uma crise como essa", adicionou a segunda fonte.
A Gol, nesta semana, acertou acordo com a Boeing em que cortou em 34 pedidos o número de aeronaves que havia encomendado junto à fabricante norte-americana.
OUTROS SETORES
A lista de potenciais segmentos a serem apoiados pelo BNDES também inclui automotivo, turismo, bares e restaurantes e empresas do setor elétrico. Este último, por ser mais regulado e com inúmeras empresas, precisa de uma articulação que envolva a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ministério de Minas e Energia e outros órgãos.
Ainda não há previsão de quando e como poderá será o apoio do BNDES ao setor elétrico. "Tem conversa com bancos também, os bancos estão engajados e é preciso alinhamento com atores do governo...será com dinheiro BNDES e bancos privados", disse a primeira fonte.
DEMANDA POR RECURSOS
Desde o início da crise, o BNDES já aprovou uma série de medidas de apoio ao setor produtivo brasileiro. Uma delas é uma nova linha de financiamento, de 5 bilhões de reais, para micro, pequenas e médias empresas.
Segundo as fontes, já foram liberados cerca de 650 milhões de reais para esta linha, anunciada no mês passado. "Já houve muitos contratos celebrados em 15 dias úteis do programa", afirmou a primeira fonte.
Outra medida de apoio, suspensão por até 6 meses de pagamentos de empréstimos concedidos pelo BNDES, tem "sido um sucesso" e a demanda já chegou a 18 bilhões de reais, afirmou a fonte. Quando lançada pelo BNDES em março, a cúpula do banco previa que a suspensão de pagamentos de parcelas de financiamentos diretos concedidos a empresas poderia atingir um valor de 19 bilhões de reais e de 11 bilhões nos financiamentos indiretos do banco.
"Isso é fôlego e é dinheiro disponível no caixa das empresas", disse a fonte.
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