Opas defende reforço do isolamento em Estados brasileiros com avanço de Covid-19
Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) defendeu nesta terça-feira que os governos estaduais reforcem o distanciamento social adotado para conter a aceleração dos casos do novo coronavírus, e ressaltou a independência dos Estados para adotar as medidas de isolamento independentemente da posição do governo federal.
Diante da posição contrária do presidente Jair Bolsonaro às quarentenas, governadores se encarregaram de impor as medidas de distanciamento para tentar conter o avanço da Covid-19, que foram amplamente apoiadas e defendidas pelo braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"A Opas está trabalhando com o Brasil para garantir que as autoridades recebam orientação técnica e todos os conselhos necessários. O Brasil é uma federação, os governadores nos Estados têm o poder de impor medidas de mitigação", disse Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas, em videoconferência da organização sobre a situação da Covid-19 nas Américas. "Certamente o aumento de casos no Brasil nos últimos dias é motivo de preocupação e o pedido é que continuem reforçando as medidas recomendadas pela OMS e pela Opas", afirmou.
"Os governadores no Brasil estão tomando as medidas de distanciamento social, é importante que todas continuem a ser implementadas e reforçadas. Apoiamos as medidas de mitigação que estão sendo implementadas", acrescentou.
Os governadores tiveram o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado para decidir sobre as medidas de isolamento, o que tem sido constantemente criticado por Bolsonaro.
Na segunda-feira, Bolsonaro editou um terceiro decreto para ampliar as atividades consideradas essenciais durante a pandemia, incluindo academias, salões de beleza e barbearias, em uma tentativa de burlar a decisão do Supremo. Governadores, no entanto, disseram que não cumprirão o decreto, citando a decisão do STF -- que pode ser novamente instado a se posicionar.
Além da defesa reiterada das medidas de isolamento, a Opas ressaltou a importância de uma retomada planejada e gradual das atividades interrompidas durante a pandemia.
No Brasil, alguns governadores chegaram a discutir ou anunciar a reabertura dos negócios diante da pressão econômica provocada pela quarentena, mas alguns tiveram de voltar atrás diante do avanço da doença provocado pela menor adesão das pessoas ao isolamento nas últimas semanas.
Alguns governadores, como no Maranhão e no Pará, inclusive decretaram na semana passada o chamado lockdown --nível mais rigoroso do isolamento-- para tentar reduzir a velocidade do contágio, conforme recomendado por especialistas em saúde pública.
"É preciso avaliar esse processo de forma bem cuidadosa", disse o vice-diretor da Opas Jarbas Barbosa, médico brasileiro que foi diretor-presidente da Anvisa e secretário nacional de Vigilância em Saúde. "Não se pode fazer durante processo de crescimento da transmissão comunitária."
Barbosa ressaltou que precisam ser levados em conta aspectos técnicos, como controle da transmissão comunitária, capacidade de testar todos os casos suspeitos e as taxas de ocupação de leitos de UTI e disponibilidade de respiradores. Ele também reiterou a defesa do isolamento social como efetiva medida de combate.
"Nenhum sistema de saúde tem condições de suportar uma pandemia como essa se não forem adotadas medidas de distanciamento", afirmou.
A Opas destacou as situações do Rio de Janeiro e de Manaus, que estão com seus sistemas de saúde colapsados, como motivo de preocupação especial.
"O Brasil tem uma grande população vivendo em nível de pobreza nas favelas, onde não há espaço amplo", disse Espinal. "Uma das razões pelas quais estamos observando altas na América Latina é que o vírus está se expandindo para lugares onde vivem pessoas com menor nível econômico, as desigualdades na América Latina são muito amplas."
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