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M&A volta ao radar das empresas como antídoto para crise

07/10/2020 12h19

Por Carolina Mandl

SÃO PAULO (Reuters) - A atividade de fusões e aquisições no Brasil se recuperou no terceiro trimestre após uma queda nos negócios no início do ano, depois que empresas como a locadora de veículos Localiza e a processadora de cartões StoneCo anunciaram transações que buscam amenizar a tempestade trazida pelo coronavírus.

O volume de fusões e aquisições cresceu 46% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para 12,5 bilhões de dólares, segundo dados da Refinitiv.

Ainda assim, os negócios acumulam queda de 38% no ano, já que as transações secaram no início de 2020, quando as empresas tiveram que administrar problemas de liquidez para enfrentar uma crise sem precedentes.

Agora, as fusões e aquisições são retomadas em parte porque o pânico imediato com o coronavírus se reduziu e também porque as empresas enxergam suas próprias ações como uma moeda tentadora para fechar negócios.

“Em negócios envolvendo ações como moeda, as empresas preservam o caixa e também podem aumentá-lo por causa de todas as sinergias potenciais decorrentes do negócio”, disse Diogo Aragão, responsável pela área de fusões e aquisições no Brasil do Bank of America. "É uma forma de criar valor para os acionistas em meio a uma crise econômica."

No terceiro trimestre, a Localiza fez uma oferta para adquirir a rival Unidas, a processadora de cartões StoneCo e a fornecedora de software Totvs travam uma batalha para adquirir a Linx e empresas de educação como a Ser Educacional competem pelos ativos da Laureate Education no Brasil.

Em comum, essas transações têm a busca por maior eficiência e a conquista de clientes adicionais - ambas potenciais formas de amortecer a recessão deste ano. Em cada um desses negócios, os compradores pretendem usar tanto suas ações quanto dinheiro como moeda de pagamento - e os executivos de bancos de investimento disseram que mais fusões e aquisições nesses moldes provavelmente acontecerão até o fim do ano.

Negócios há muito aguardados, como a venda dos ativos móveis da operadora de telecomunicações Oi, também impulsionaram os volumes no trimestre. TIM, Telefônica Brasil e Claro fizeram uma oferta conjunta de 16,5 bilhões de reais pela unidade.

CONCORRÊNCIA DOS IPOS

Em meio à crescente preocupação dos investidores com políticas governamentais que podem estourar o orçamento e uma agenda super lotada de ofertas públicas iniciais de ações, o mercado de capitais pode enfrentar alguma turbulência, com empresas desistindo da listagem na bolsa de valores e se tornando mais receptivas a abordagens de fusões e aquisições, disseram executivos de bancos.

"Os IPOs às vezes podem competir com nossa atividade de M&A", disse Roderick Greenlees, diretor global de banco de investimentos do Itaú BBA, que liderou o ranking de M&A do Brasil no terceiro trimestre.

“Agora, com a deterioração das condições de mercado e as empresas enfrentando mais desafios para abrir o capital, algumas vão potencialmente recorrer a fusões e aquisições”, acrescentou.

Com os bolsos carregados, os fundos de private equity podem surgir como uma alternativa para empresas que precisam de dinheiro, por exemplo. A gestora norte-americana Advent International levantou recentemente um fundo de 2 bilhões de dólares voltado para aquisição de empresas da América Latina.

Ainda assim, como os mercados de capitais não estão totalmente fechados para ofertas de ações, empresas que já tiveram ou ainda vão ter sucesso em levantar dinheiro em ofertas de ações também podem se tornar protagonistas de fusões e aquisições.

“As empresas que conseguiram captar recursos com ofertas de ações atuarão como consolidadoras em seus setores por meio de fusões e aquisições”, disse Gustavo Miranda, chefe do banco de investimentos do Santander Brasil.

As empresas brasileiras já levantaram 11,2 bilhões de reais em ofertas primárias de ações este ano.

Apesar do aumento nos volumes de negócios do terceiro trimestre, os executivos de bancos ainda hesitam em prever que o total do ano inteiro pode exceder o de 2019, já que a atividade de M&A ficou praticamente congelada por quase seis meses em meio à pandemia.

Mas, dado que as negociações sobre vários potenciais negócios foram retomadas recentemente, o primeiro trimestre de 2021 pode se tornar bastante agitado, dizem os executivos.

Ranking de M&A no Brasil - Janeiro a Setembro

Assessor Valor dos Número de

financeiro negócios (US$ mi) negócios

Itau Unibanco 7.599 27

Bank of 7.154 9

America

BR Partners 6.546 19

Goldman Sachs 5.339 6

BTG Pactual 5.145 18

Rothschild 3.703 10

JPMorgan 1.919 4

Morgan Stanley 1.764 9

Bradesco 1.624 17

BNP Paribas 640,4 3

Total 19.146 484

(Edição Redação São Paulo)