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BC vê crise hídrica mais como problema de preço do que de racionamento, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em coletiva do Palácio do Planalto - Por Marcela Ayres
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em coletiva do Palácio do Planalto Imagem: Por Marcela Ayres

Marcela Ayres

03/09/2021 09h47Atualizada em 03/09/2021 16h34

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central vê a crise hídrica mais como um tema de preços do que de racionamento, afirmou nesta sexta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, reconhecendo que a bandeira tarifária mais elevada tem impacto forte sobre a inflação e que, por isso, o BC está acompanhando essa evolução "no detalhe".

Ao falar no evento Estadão Finanças Mais, ele também indicou que o BC abrirá em breve sua visão sobre o hiato do produto, entendendo que isso pode explicar a diferença entre os cálculos da inflação para 2022 vistos pelo BC e pelo mercado.

Sobre a crise hídrica, Campos Neto pontuou que os diversos reajustes de bandeira vermelha e a implementação da última bandeira, associada à crise hídrica, "realmente impactam bastante" a inflação, já que os preços de energia elétrica se disseminam pelas cadeias produtivas. Por isso, ele reforçou que o BC tem olhado esse movimento de perto.

"Vamos acompanhar, muito importante acompanhar essa parte hídrica nos próximos meses. Lembrando que a gente ainda entende que é mais um tema de preço do que de racionamento porque, se a gente tem uma chuva, mesmo que seja um pouco abaixo da média, ainda assim os reservatórios ficam acima de 10%", disse.

"Então isso não implica racionamento. Mas é importante acompanhar no detalhe o que vai acontecer com essa próxima estação", complementou, destacando que este é problema "bastante grave" para os próximos meses.

Segundo Campos Neto, a incorporação desse efeito dos preços de eletricidade tem afetado o aumento nas expectativas de inflação para este ano, também influenciando "um pouco" as expectativas de 2022.

Ele voltou a dizer que, nas contas do BC, o IPCA para o próximo ano é mais baixo que o que é visto pelo mercado. O presidente do BC reconheceu ainda que essa distância de visões tem aumentado, sendo objeto de estudo do BC.

Enquanto a autoridade monetária previu alta de 3,5% para o IPCA no ano que vem, exatamente no centro da meta, agentes econômicos têm sucessivamente elevado suas estimativas, que agora estão em 3,95%, segundo o Boletim Focus mais recente.

Campos Neto ponderou que há um grande desafio em fazer política monetária em regime de incerteza, destacando que no Brasil houve "crise hídrica em cima de todos os choques". Ele sublinhou que alguns desses choques são de oferta e disrupção em cadeias, com grande parte deles sendo globais, sendo mais difícil, portanto, prever sua normalização.

"Fica mais difícil nesse regime de incertezas, a gente tem que olhar o nosso balanço de riscos com maior cuidado. Além disso, nós temos um processo eleitoral, que tem um ruído natural oriundo desse processo, que vários outros países não têm", afirmou.

Ele ressaltou que, a despeito das dificuldades, a missão do BC é entregar a meta de inflação e a autoridade monetária está comprometida com isso.

"Nós entendemos que temos os instrumentos para fazer a inflação convergir para meta no horizonte relevante e o Banco Central vai fazer o que for necessário", disse.

HIATO DO PRODUTO

Em sua participação, Campos Neto indicou que o BC será mais transparente em relação à modelagem que considera em seus cálculos para o hiato do produto para que o mercado entenda sua atuação.

O hiato, que consiste na diferença entre o PIB potencial e o crescimento efetivo da economia, é considerado um conceito chave na condução da política monetária, ao indicar se a economia está ou não crescendo acima de seu potencial.

De acordo com o presidente do BC, o Relatório Trimestral de Inflação, que será publicado pelo BC no fim deste mês, mostrará como a autarquia está vendo o fechamento do hiato e as expectativas nesse sentido à frente.

"Talvez isso explique um pouco a diferença do que o Banco Central tem achado em termos de inflação para o que o mercado acha e a gente vai começar a ser cada vez mais transparente na nossa modelagem para que o mercado entenda por que que nós tomamos as nossas medidas, por que que fazemos as coisas do jeito que a gente faz, qual é o objetivo das medidas", afirmou.