Dólar cai 1% e volta a rondar R$4,60 com juros e commodities mais altas
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda e no segundo menor valor em dois anos nesta quarta-feira, com a moeda brasileira entre os destaques globais da sessão, beneficiada por fluxos em busca de retorno mais alto e com risco controlado.
O real ganhou terreno ainda contra outros importantes pares. Enquanto o dólar desceu para perto de 4,60 reais, o euro caiu abaixo de 5,00 reais e a libra flertou com o suporte de 6,00 reais.
A taxa de câmbio apreciou mesmo com informações de chances de aumento dos valores pagos pelo Auxílio Brasil, o que engrossou o fluxo recente de notícias que trouxe receios fiscais de volta à tona.
O dólar à vista caiu 1,03%, a 4,6186 reais na venda, menor patamar desde o último 4 de abril, quando a moeda fechou em 4,6075 reais, menor cotação desde 4 de março de 2020 (4,5806). Na sessão, a moeda oscilou entre 4,6811 reais (+0,31%) e 4,6089 reais (-1,24%).
A queda percentual também foi a mais intensa desde 4 de abril, quando a cotação recuou 1,27%.
Na B3, às 17:04 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,08%, a 4,6310 reais, após descer a 4,6205 reais na mínima.
Os negócios por aqui acompanharam de perto os movimentos do índice do dólar frente a uma cesta de moedas de países ricos, que recuava 0,65% após renovar desde a véspera picos também desde 2020.
O real tem sido destaque nos mercados de câmbio desde o começo do ano, conforme o Banco Central eleva os juros, o que por tabela aumenta os retornos nominais da renda fixa brasileira. Os ganhos da moeda aceleraram após a invasão da Rússia pela Ucrânia, que provocou uma disparada nos preços das matérias-primas, impulsionando os termos de troca do Brasil e melhorando os fundamentos do câmbio.
A melhor relação risco/retorno de ficar comprado em reais explica a dinâmica de valorização cambial. Contratos de câmbio a termo de um ano em reais pagam 12,8% ao ano, enquanto no Chile o retorno nominal é de 8,2%; na Colômbia, de 8,7%; e no México, de 9,6%.
Em termos reais, o Brasil também é líder. Dados compilados pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) mostram que a taxa de juros (descontada a inflação) implícita em um bônus brasileiro em moeda local com vencimento em dez anos está na casa de 5,5% ao ano, contra cerca de 4% do título mexicano e em torno de 2% no Chile.
"O que está dando fôlego para o real recentemente é o dado de inflação que surpreendeu fortemente para cima. Isso alimentou apostas de que o Banco Central terá de estender o ciclo de aperto monetário", afirmou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho. "O mercado deu de ombros ao risco de aumento do Auxílio Brasil", completou.
Na terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), reconheceu que há possibilidade de aumento do valor do Auxílio Brasil durante a discussão de medida provisória na Casa sobre o tema.
"Risco sempre tem", disse o deputado a jornalistas, ponderando que o tema será tratado com responsabilidade.
Editada ainda em 2021, a MP, que tem força de lei, possibilitou um benefício extraordinário que, somado ao Auxílio Brasil, confere aos inscritos um mínimo de 400 reais até o fim de 2022.
O IPCA subiu 1,62% em março, maior taxa para o mês desde março de 1994, antes da implantação do Plano Real. Os dados reforçaram teses de que o BC não poderá parar de subir a Selic após provavelmente levar a taxa a 12,75% em sua próxima reunião de política monetária, em 3 e 4 de maio.
Em paralelo aos juros mais altos, as commodities mais valorizadas fortaleceram expectativas de que as vendas externas do Brasil gerem mais dólares ao país, elevando potencialmente a oferta de moeda, o que exerceria, portanto, pressão de baixa sobre a cotação.
"O aumento dos preços das commodities é um choque positivo nos termos de troca para o Brasil, principalmente relacionado ao agronegócio e metais. Isso será favorável para o real no curto prazo", disse David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America.
O patamar em torno de 4,60 reais ou abaixo disso, no entanto, parece insustentável até o fim do ano.
"A incerteza política pode colocar alguma pressão à medida que as eleições de outubro se aproximam", afirmou Beker, vendo dólar de 5,25 reais ao fim de 2022 e de 5,40 reais no término de 2023.
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