Dólar se estabiliza após disparada recente e acenos do governo a manutenção de reformas
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar teve pouca alteração frente ao real nesta quarta-feira, refletindo ajustes de posições após salto recente da moeda e reações positivas de investidores a acenos do novo governo a manutenção de reformas estruturais promovidas em gestões anteriores e da política de preços da Petrobras.
A divisa norte-americana à vista fechou com variação negativa de 0,04%, a 5,4513 reais na venda, após trocar de sinal várias vezes ao longo das negociações.
Segundo Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest, boa parte desse movimento refletiu ajustes de posições, depois de o dólar ter saltado quase 3,3% nos dois primeiros dias úteis da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Hoje a gente está vendo uma correção depois desses dias turbulentos", avaliou o especialista.
Segundo investidores, deu suporte à estabilização do real nesta quarta-feira a declaração do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de que não há nenhuma proposta sendo pensada nesse momento para revisão de reformas, incluindo a previdenciária.
Além de Costa, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que se reuniu mais cedo nesta quarta com Lula, também repetiu a negativa em relação à Previdência.
Moretti, da HCI, lembrou que, na véspera, críticas do novo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, à reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro haviam azedado o humor dos investidores.
Também colaborou para a melhora da disposição do mercado doméstico nesta quarta-feira a declaração do senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado pelo novo governo para o comandar a estatal, de que não haverá intervenção nos preços dos combustíveis. Suas falas impulsionaram as ações da Petrobras, que por sua vez elevaram o Ibovespa.
Apesar da calmaria desta sessão, Moretti ressalvou que as expectativas em torno das medidas econômicas da gestão Lula seguem "muito nebulosas", de forma que é possível haver nova valorização da moeda norte-americana ao longo dos próximos dias.
"A gente ainda vai ter fortes emoções até sexta-feira. Lula falou que vai acabar com o teto de gastos; isso para (atrair) o investimento estrangeiro é um tiro no pé", disse ele.
O comportamento do dólar no mercado doméstico foi pouco afetado pela divulgação, mais cedo, da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, uma vez que as pautas locais têm dominado os holofotes.
O documento mostrou que todas as autoridades presentes na reunião de política monetária de 13 a 14 de dezembro concordaram que o banco central dos Estados Unidos deveria diminuir o ritmo de seus aumentos agressivos da taxa básica de juros, permitindo que o custo do crédito continue a ser elevado para controlar a inflação, mas de maneira gradual para limitar riscos ao crescimento econômico.
Na esteira da ata, o dólar reduziu suas perdas no exterior frente a uma cesta de moedas fortes, uma vez que o tom da comunicação foi visto como ainda duro por parte dos mercados.
"A ata do Fed manteve o tom do chair (Jerome) Powell na última reunião, ou seja, foi 'hawk' (dura no combate à inflação)", disse a economista-chefe da Upon Global Capital, Nicole Kretzmann,
"O Fed foi mais explícito ao citar que o relaxamento (das condições financeiras) não teria fundamento, e que nenhum participante acredita que em 2023 haverá cortes de juros, ao contrário do que o mercado precifica atualmente".
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