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Haddad diz à indústria que fiscal, crédito e regulação são pilares do crescimento do setor

Banco Central do Brasil - Por Andre Romani
Banco Central do Brasil Imagem: Por Andre Romani

André Romani

Em São Paulo

30/01/2023 14h37

Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) -O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira a empresários da indústria que avançar com as agendas fiscal, de crédito e regulatória é necessário para o desenvolvimento do setor no Brasil.

Em reunião aberta com empresários da indústria na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Haddad ainda afirmou, após ser questionado, que tanto nomes do setor privado quanto do público podem vir a ser indicados para a diretoria do Banco Central (BC), enquanto classificou como "difícil de conciliar" as intenções do Uruguai junto à China e ao Mercosul.

O presidente da Fiesp, Josué Gomes, apresentou ao ministro algumas das propostas da indústria, destacando a necessidade, a seu ver, de voltar a incentivar a indústria de transformação, em especial através de uma reforma tributária. Para Gomes, esse setor pode ser um impulsionador do crescimento do país.

Haddad voltou a destacar, no front fiscal, a vontade de aprovar uma reforma tributária e de apresentar um novo arcabouço fiscal. Ele afirmou mais cedo neste mês que a ideia é aprovar uma mudança nos tributos sobre o consumo ainda neste semestre, e votar a reforma do Imposto de Renda (IR) na segunda metade do ano.

Em crédito, Haddad mostrou apoio a uma proposta sobre garantias que está no Senado, falando apenas em "alguns ajustes", sem detalhar. Ele também destacou a descentralização em andamento da oferta de crédito no país, por meio de fintechs e cooperativas, e disse que a inadimplência das pessoas físicas devido à pandemia deve ser abordada junto com sistema bancário e credores.

Além disso, o ministro disse que "em meados do ano, o Pix vai virar um instrumento de crédito, o que vai baratear muito o crédito no Brasil". Haddad, porém, reiterou que uma Selic alta é sempre uma "trava" para essa agenda de crédito no país. A taxa agora está 13,75%.

Já na chamada agenda regulatória, o ministro disse que o país pode ser destaque de uma transição energética global, já que tem vantagens para realizar ela mais rapidamente, atraindo investimentos para a indústria local.

NOMEAÇÃO AO BC

Haddad confirmou ter discutido com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, possíveis perfis de um nome para substituir o atual diretor de Política Monetária da autarquia, e que não está descartada a nomeação de alguém com origem no setor privado.

"Se você quer bons nomes técnicos, você tem pouco lugares para procurar, então pode ser do setor privado, pode ser do público", afirmou Haddad ao ser questionado por jornalistas sobre o assunto após a reunião.

"Nós discutimos perfil, e têm bons profissionais tanto no setor público quanto no setor privado. Temos tempo e vamos fazer com cautela e com tranquilidade uma avaliação em parceria e vamos levar para quem, de direito, cabe a definição dos nomes", disse Haddad.

A substituição do atual diretor de Política Monetária, Bruno Serra, está sendo vista como um importante termômetro da relação do novo governo com o BC, em meio a especulações de que o governo poderia dar preferência a profissionais de carreira do banco. A nomeação do diretor cabe ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a indicação precisa passar pela aprovação do Senado.

Segundo Haddad, em reunião com Campos Neto nesta manhã ele se comprometeu a dar agilidade à avaliação de propostas legislativas que fazem parte da agenda do BC.

"São medidas que vão melhorar o ambiente de negócios no Brasil, nós somos os maiores interessados nisso", disse Haddad. "A ideia é que em março a gente já encaminhe isso para Casa Civil e, depois do julgamento do governo, para o Congresso Nacional".

Questionado sobre o patamar do câmbio, bem como a diferença entre uma taxa de juros de 13,75% e uma inflação que fechou 2022 em 5,79%, Haddad afirmou que, se combinar esses dois fatores, há "espaço para uma acomodação virtuosa dessas duas variáveis, que não vai comprometer a competitividade do Brasil do ponto de vista do dólar e pode favorecer do ponto de vista do crédito."

"Quero crer que esse par pode encontrar um novo equilíbrio virtuoso no curto prazo".

'MELHOR DOS MUNDOS'

Haddad também criticou a intenção do Uruguai de fechar um acordo comercial com a China independentemente dos demais sócios do Mercosul e reforçou a importância de os países do grupo negociarem em bloco.

"O Lacalle (Luis Alberto Lacalle Pou), presidente do Uruguai, ele está quase pedindo licença para fazer um acordo de livre comércio com a China sozinho. E ele quer o melhor dos mundos, ficar no Mercosul e fazer um acordo de livre comércio com a China. E isso é difícil de conciliar", disse.

O ministro afirmou que o Mercosul deve ser fortalecido, com a inclusão de novos membros, citando nominalmente a Bolívia, e a negociação em bloco.

Haddad acompanhou visita de Lula ao Uruguai na semana passada, em um esforço diplomático para tentar evitar que o país vizinho negocie acordos com terceiros à revelia do Mercosul. Na ocasião, Lula defendeu que o Mercosul pode negociar um acordo comercial com a China assim que o bloco concluir as negociações com a União Europeia.

(Por André Romani; edição de Isabel Versiani)