IPCA perde força em março e fica abaixo de 4% em 12 meses pela pela primeira desde julho

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação no Brasil desacelerou com força em março e atingiu o nível mais fraco em oito meses, com a taxa em 12 meses indo abaixo de 4% pela primeira vez desde julho do ano passado.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,16% em março, depois de uma alta de 0,83% em fevereiro, ficando abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,25% no mês e marcando o resultado mensal mais fraco desde julho de 2023.

Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que o IPCA passou a acumular alta de 3,93% nos 12 meses até março, de 4,50% em fevereiro e expectativa de 4,01%.

Essa é a primeira vez que o índice acumulado vai abaixo de 4% também desde julho do ano passado, o que pode dar algum alívio ao Banco Central em meio a seu ciclo de afrouxamento monetário.

O centro da meta para a inflação, medida pelo IPCA, este ano é de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

"Os dados de inflação mais fracos que acabamos de analisar certamente terão impacto significativo sobre a curva (de juros) nos próximos dias. A perspectiva de dois cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Banco Central ganha ainda mais respaldo diante desse cenário", disse Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

ALIMENTOS

A desaceleração no dado mensal do IPCA deveu-se principalmente à dissipação do impacto sazonal dos custos de Educação, cuja alta desacelerou a 0,14% em março, de 4,98% em fevereiro.

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Alimentação e Bebidas ainda foi o grupo que registrou o maior impacto e a maior variação em março, de 0,53%, embora a alta também tenha enfraquecido ante a taxa de 0,95% do mês anterior.

“Problemas relacionados às questões climáticas fizeram os preços dos alimentos, em geral, aumentarem nos últimos meses. Em março, os preços seguem subindo, mas com menos intensidade”, disse o gerente da pesquisa no IBGE, André Almeida.

“Com a melhora do clima e menos seca e chuva, passado o verão, os alimentos historicamente sobem menos. (Mas) tem que ver como o El Niño e a safra vão influenciar o resultado dos alimentos", completou.

A alta da alimentação no domicílio desacelerou de 1,12% em fevereiro para 0,59% em março, com destaque para os aumentos de preços da cebola (14,34%), do tomate (9,85%), do ovo de galinha (4,59%), das frutas (3,75%) e do leite longa vida (2,63%).

Já o grupo Transportes passou a registrar queda de 0,33% em março, após avanço de 0,72% em fevereiro, em meio ao recuo de 9,14% das passagens aéreas e da desaceleração da alta dos preços da gasolina a 0,21%.

O aumento dos custos de Habitação enfraqueceu a 0,19% em março, embora a energia elétrica tenha ficado 0,12% mais alta devido a reajustes no Rio de Janeiro.

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Por sua vez, a inflação de serviços também mostrou o alívio ao subir 0,10% em março, de 1,06% no mês anterior, acumulando em 12 meses alta de 5,09%.

No entanto, Helena Veronese, economista-chefe da B. Side, ressaltou que os serviços subjacentes, que excluem itens mais voláteis, passaram a subir 0,45% em março, de 0,44% antes.

"O ponto de preocupação continua sendo serviços subjacentes, que ao se manter praticamente estável, com uma leve alta, continua em um patamar não compatível com as metas de inflação – e deverá continuar justificando a cautela do BC", disse ela.

O Banco Central vem alertando sobre o cenário da inflação, apontando maior preocupação com uma possível pressão de salários sobre os preços e citando maior incerteza sobre a dinâmica de queda da inflação doméstica.

Em seu Relatório de Inflação no final de março, o BC disse que a inflação cheia e a média dos núcleos de inflação aumentaram para patamares que superam a meta.

O BC decidiu no mês passado fazer nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, mas encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio.

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Pesquisa Focus mais recente divulgada pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 3,76%.

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