Com dívida de quase R$ 1,7 trilhão, Evergrande abandona prédios pela China
Mais uma vez foi por um fio, mas o gigante grupo imobiliário chinês Evergrande conseguiu pagar os juros da dívida bilionária que venceriam hoje.
No entanto, a crise está longe do fim. Com dívidas avaliadas em US$ 300 bilhões (quase R$ 1,7 trilhão), a empresa parou centenas dos empreendimentos que tem em construção, deixando um rastro de torres abandonadas e compradores que temem nunca receber seus apartamentos.
A empresa, submersa em dívidas, tem obras espalhadas por todo o país: são 750 projetos em construção em 230 cidades. Boa parte delas está completamente parada desde que a crise da empresa estourou.
Algumas são torres de concreto nu, outras ainda guardam a tela verde que cobre os andaimes dos edifícios em construção na China.
Em Shenyang (no nordeste do país), um conjunto de arranha-céus inacabados de mais de 30 andares chama a atenção. Na chegada ao empreendimento, uma grande placa com letras pintadas em branco diz: bem-vindo à "Praça Central de Evergrande".
Esse conjunto não está perdido no meio de uma das cidades-fantasmas que existem no interior da China, em regiões como o deserto da Mongólia, mas fica no centro nervoso de uma megalópole de 27 milhões de habitantes, a poucos quilômetros da zona internacional de Fabricação de Softwares da província de Liaoning.
O construtor deveria entregar, no local 6,6 mil apartamentos, mas algumas dessas famílias não têm a quem desabafar as angústias.
Como conta um ex-soldado, agora motorista de táxi: "a Evergrande está em toda parte em Shenyang. Tem casas deles em todos os lugares da cidade. Algumas estão prontas, mas, para todos os projetos parados, é um grande problema".
"Os compradores dos apartamentos têm que pagar as prestações de seus empréstimos sem saber se a casa ficará pronta. E tem ainda todos aqueles que pagaram por um apartamento que não está pronto", diz ele.
Apartamentos baratos e famílias em desespero
A habitação é parte importante do mercado econômico chinês. O número gigante de edifícios vistos pelas janelas dos trens de alta velocidade da China há muito alimentam o crescimento de dois dígitos na segunda maior economia do mundo. O setor responde por quase 30% do PIB.
Os apartamentos e projetos da Evergrande tinham a reputação de serem mais baratos, o que levava milhares de chineses a investirem nos empreendimentos antes mesmo do início das obras.
"Um de meus conhecidos acabou de pagar o apartamento. Até as janelas já estão instaladas, mas ele não consegue entrar. As pessoas têm reclamado aqui, parece que algumas das propriedades da Evergrande já estão hipotecadas", acredita o motorista.
"Não estamos falando de cem, mil pessoas, mas de milhões de pessoas afetadas por esta possível falência. Isto pode causar tumulto, mas o Partido Comunista não deixará que isto aconteça. O governo vai resolver esta crise", acrescenta.
O que o governo chinês irá fazer?
Por enquanto, o governo central tem tido o cuidado de não dizer que vai socorrer o gigante imobiliário. O chefe da empresa, Xu Jiajin, foi convocado por Pequim e será obrigado a pagar parte da dívida com a fortuna pessoal dele.
Não será o suficiente: a Bloomberg estima a fortuna dele em US$ 8 bilhões, e a dívida é de US$ 300 bilhões.
No entanto, o gesto exigido pelo Partido Comunista é simbólico, para tentar apaziguar a raiva dos donos de apartamentos com pouco dinheiro.
Em Shenyang, pelo menos 50 desses pequenos investidores protestaram, o que é raro na China, diante das janelas do governo local para pedir a intervenção do governo.
As autoridades estão trabalhando ativamente para acalmar a situação. O presidente do Banco da China tem dito repetidamente nos últimos dias que a situação está sob controle.
Esta crise do Evergrande é também uma forma de tornar mais são um mercado que, até então, parecia não ter limite para o apetite de construir torres e megaimóveis em busca de lucros na bolsa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.