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Bancos do Líbano ensaiam reabertura após onda de assaltos por clientes

Um cambista conta notas em sua loja na capital libanesa Beirute em 22 de setembro de 2022 - ANWAR AMRO/AFP
Um cambista conta notas em sua loja na capital libanesa Beirute em 22 de setembro de 2022 Imagem: ANWAR AMRO/AFP

Sophie Guignon

Correspondente da RFI em Beirute

27/09/2022 08h23Atualizada em 27/09/2022 08h23

Poucos bancos libaneses voltaram a abrir suas portas na segunda-feira (26), depois de permanecerem dez dias fechados. O motivo: uma série de assaltos, realizados pelos próprios clientes, para recuperar o dinheiro bloqueado há três anos devido à grave crise econômica da qual o país é palco.

No bairro comercial da rua Hamra, em Beirute, cerca de 20 clientes fazem a fila diante de uma agência bancária sob o olhar atento de dois policiais e agentes de segurança. Lentamente, eles são autorizados a ultrapassar o portão de ferro em torno do estabelecimento.

"Faz uma hora que eu estou esperando para retirar US$ 50", reclama um cliente que pede à reportagem da RFI para não ser identificado. "Neste momento eu deveria estar na universidade, mas tenho que esperar para sacar dinheiro", reitera o estudante Ahmad.

Um pouco mais longe, a professora aposentada Aida se desespera ao perceber que o caixa eletrônico está vazio. "Sou obrigada a mendigar pelo dinheiro que recebi pelos meus 42 anos de carreira. Depositei minhas economias no banco e o dinheiro sumiu!", protesta.

O Líbano mergulhou em uma grave crise econômica e financeira em 2019 que obrigaram os bancos a impor duras restrições à população, impedindo, por exemplo, o acesso às poupanças e saques em dólares. Em apenas dois anos, a moeda nacional perdeu 95% de seu valor.

Desde abril de 2020, os clientes libaneses podem retirar no máximo US$ 200 por mês, o que não é suficiente para sobreviver no país atualmente. Desesperados, clientes resolveram saquear agências bancárias. Em 16 de setembro, houve registro de invasão de cinco bancos, motivando a decisão do fechamento.

Maioria dos bancos segue fechado

No início desta semana, a situação está longe de voltar ao normal. Poucas agências, entre as cerca de mil em Beirute, reabriram na segunda-feira.

Para o vice-presidente do sindicato dos bancários libaneses, Ali Ammar, não há condições para a volta ao trabalho. "Para reabrir completamento os bancos, precisamos de segurança. Pedimos ajuda à polícia e eles estão presentes quando é possível, apesar da falta de policiais. Se não podemos garantir a segurança de nossos empregados, dos diretores das agências e dos clientes, seremos obrigados a fechar novamente", prevê.

O clima é tenso na capital e nas principais cidades do país. Associações de clientes prometem novas ações nesta semana para recuperar o dinheiro das poupanças.

"Os bancos serão invadidos amanhã ou depois, isso é certo. As pessoas têm problemas de saúde, os estudantes precisam de dinheiro, as famílias tiveram gastos extras com a volta às aulas", diz à RFI Samia Sabaii, membro da associação "Grito dos Clientes".

Segundo ela, os libaneses estão se organizando para recuperar o dinheiro de suas poupanças. "É por isso que os bancos correm perigo. Faz três anos que eles bloqueiam as nossas economias", reitera.