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Santana dirá que dinheiro recebido fora não veio de campanha no Brasil

23/02/2016 01h35

(Atualizada à 1h25) - O marqueteiro João Santana, que teve a prisão decretada pela Operação Lava-Jato nesta segunda-feira, vai dizer, em sua defesa, que "nenhum centavo" recebido em suas contas no exterior provém de campanhas brasileiras. Santana é suspeito de receber dinheiro ilegalmente fora do Brasil.



Segundo a reportagem apurou, a linha de defesa do publicitário baiano argumentará que "todos os recursos em contas do exterior provêm, exclusivamente, de campanhas feitas em países estrangeiros".

Responsável pela campanha à reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, Santana tenta eximir a presidente de qualquer irregularidade e tentará justificar os pagamentos recebidos por campanha em outros países.

Nesta segunda, Santana divulgou carta na qual se desliga da campanha presidencial de Danilo Medina, que concorre à Presidência na República Dominicana, com a alegação que irá se defender de "acusações infundadas" das quais é objeto.

Na carta, Santana diz que acordou nesta manhã "com a notícia de que meu nome está sendo conectado a uma suposta trama relacionada ao financiamento de campanhas políticas no Brasil".

Segundo ele, "conhecendo o clima de perseguição que se vive hoje no país, não posso dizer que estou surpreso, mas mesmo assim é difícil acreditar".

Santana afirmou ainda que está à disposição das autoridades para esclarecimentos.

Prisão

Santana teve a prisão temporária decretada pela 23ª fase da Operação Lava-Jato na manhã desta segunda-feira. A mulher de Santana, Monica Moura, também teve a prisão decretada.

Ambos estão fora do país, na República Dominicana. Eles devem voltar ao Brasil nas próximas horas e vão se apresentar à Justiça, informou Fabio Toffic, criminalista que defende o casal.

A intenção da nova fase da operação é apurar corrupção, evasão, lavagem, "bem como o possível pagamento de publicitários do Partido dos Trabalhadores com propinas oriundas da Petrobras".

Os investigadores apuram pagamentos ocultos que teriam sido feitos no exterior por Zwi Skornicki, apontado como operador financeiro do estaleiro Keppel Fels, e por offshores controladas pela construtora Odebrecht em favor de João Santana e de sua esposa.

A conta dos publicitários, em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA, não foi declarada às autoridades brasileiras, informa o MPF. Os procuradores afirmam que entre setembro de 2013 e novembro de 2014 há evidências de que Skornicki efetuou a transferência no exterior de pelo menos US$ 4,5 milhões por meio de nove transações, para o casal. Ao menos US$ 3 milhões teriam sido transferidos pelo Grupo Odebrecht.

Zwi Skornicki teve a prisão preventiva decretada e a PF também cumpriu mandados de busca e apreensão na sede da Odebrecht em São Paulo.

Santana trabalhou para o PT em diferentes ocasiões, incluindo a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014 e a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.

O delegado Filipe Hille Pace afirmou que não está investigando campanhas eleitorais e não apontou irregularidades nos pagamentos feitos pelas campanhas petistas ao marqueteiro.

Segundo o que foi declarado oficialmente à Receita Federal, o marqueteiro recebeu, no Brasil, desde 2005, valores que superam R$ 150 milhões. Para a PF, o uso de uma conta no exterior sugere que o dinheiro pode ser proveniente do esquema de corrupção na Petrobras, mas ainda sem saber o motivo.

"Se for comprovado que ele recebeu esse dinheiro exclusivamente pela prestação de serviços nas campanhas eleitorais, então a ocorrência de caixa 2 é uma linha a ser seguida. Mas pessoas ligadas a partidos receberam recursos justamente por sua ligação com os partidos. Ele pode ser um simples beneficiário de corrupção da Petrobras".

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