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Lula diz que Temer cortou até o almoço de Dilma

06/06/2016 22h50

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira de um ato político-cultural, no Rio, em sua primeira grande exposição em evento público, desde a saída da presidente afastada Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, em 13 de maio.

Se no afastamento, que interrompeu mais de 13 anos de PT no poder federal, Lula estava abatido, o ex-presidente chegou animado, vestido todo de preto, e exaltado pela plateia de militantes que lotavam a Fundição Progresso, na Lapa, e gritavam "Fora Temer!"

No ato, organizado pelo Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, Lula abriu seu discurso de 38 minutos falando que é necessário ter uma "narrativa comum" sobre os problemas que o país está passando e fez várias crítica à elite, à mídia, ao governo do presidente interino Michel Temer e ironizou os que foram às ruas pedir o impeachment de Dilma. "Os coxinhas agora estão com vergonha. Foram para rua, bateram panela e o que caiu nela não foi um risoto, foi o Temer", disse.

Lula disse que está em idade de se aposentar, mas que as acusações contra ele têm como objetivo tirá-lo da disputa presidencial. "É medo de eu voltar", afirmou. O ex-presidente disse ainda que "Temer acaba de dar um golpe, não na Dilma, mas na decisão que o Senado tomou", ao restringir equipe de funcionários e viagens da presidente afastada. "Cortou até almoço da Dilma. Mas não seja por isso. Vamos comer em marmitex, mas eles não vão impedir de fazermos as denúncias que temos que fazer pelo país."

Lula reconheceu erros: "Sei que estamos com dívida com a sociedade brasileira". Mas disse que o PT está disposto a voltar ao poder, na votação final do impeachment no Senado. "Queremos voltar para consertar os erros que cometemos", afirmou, cobrando que a população reivindique de Temer o que reivindicou de Dilma.

O petista lembrou as manifestações de junho de 2013, para dizer que elas são um fenômeno que até hoje carece de explicação dos especialistas. Mas que em sua "opinião singela" o protesto foi "o teste para o que aconteceu agora com o golpe de Michel Temer". Criticou o exagero da cobertura da imprensa, cujo objetivo teria sido o de criar uma campanha para desmontar o serviço público do país, de "achincalhar" o Estado.

Numa menção à política externa, comandada pelo tucano e ministro das Relações Exteriores, José Serra, derrotado em 2002, por ele, em 2010, por Dilma, Lula criticou: "Vou recorrer ao Chico Buarque, para quem a gente tem que falar fino com a Venezuela e grosso com os Estados Unidos".

O ato lançou a campanha "Se é público é para todos", de valorização das estatais e dos serviços públicos. Lula vestiu a camisa da campanha e, durante o ato, um pano de chão impresso com a imagem de Temer e a palavra golpista foi colocado na boca do palco. Os discursos foram inflamados pela militância e pelos mestres de cerimônia, que gritavam: "Fora Temer!", Lula 2018 e "Volta, querida", numa referência à Dilma. O ex-presidente também posou segurando uma bandeira do Brasil, que trazia estampadas uma imagem sua e de Dilma.

O evento teve a participação de representantes de cinco centrais sindicais (CUT, CTB, Intersindical, Nova Central e Conlutas), de movimentos sociais reunidos nas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, e de políticos, como os deputados federais Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Luiz Sérgio (PT-RJ), e intelectuais, entre os quais o cientista político Emir Sader.